OS APÓCRIFOS
Introdução.
1. Essa literatura foi produzida numa época de agitação religiosa e política na vida do judaísmo, entre 300 a.C e 100 d.C.
2. Os rabinos chamavam esses livros de “os de fora”, ou seja, fora do Cânon Sagrado dos judeus.
3. Os livros apócrifos do Antigo Testamento foram acrescentados às Sagradas Escrituras, pela primeira vez e contra a vontade dos judeus, na tradução do Antigo Testamento pelos Setenta, em Alexandria no Egito, 282 a.C.
4. Deve-se lembrar que o apóstolo Paulo afirmou: “Aos judeus foram confiados os oráculos” (Rm 3.2)
5. Os livros são documentos históricos extremamente valiosos e interessantes, variando da sóbria narrativa histórica à ficção piedosa.
I. O que São Apócrifos
1. Etimologia do Termo. [Do gr. Apókripho, oculto, escondido] A palavra apócrifo, originalmente, significava oculto, mas passou a significar “espúrio” (não puro).
2. Sentido Religioso: “Não genuíno”, “espúrio”
3. O Uso Bíblico: O termo aparece em Mc 4.22b; Lc 8.17b; Cl 2.3.
4. Definição Teológica:
• São livros não inspirados por Deus.
• Os apócrifos são uma coleção de livros adicionados ao Antigo Testamento, escritos em alguma época entre 300 a.C e 100 d.C. Foram incluídos, no todo ou em parte, nas versões gregas do Antigo Testamento, mas excluídos das versões hebraicas.
• São conhecidos como apócrifos os livros que embora reivindiquem autoridade divina, não foram reconhecidos como inspirados por Deus quer pela comunidade judaica, quer pela cristã-evangélica. Para um livro ser incluído no cânon das Escrituras é necessário que as evidências internas e externas provem-lhes a procedência divina.
II. Os Apócrifos e a História.
1. O Concílio de Jâmnia (90 d.C): Sua inclusão foi explicitamente rejeitada pelos judeus no grande Concílio realizado em Jâmnia em 90 d.C.
2. A Igreja primitiva: A posição dos apócrifos era ambígua nos primeiros dias da igreja. O Novo Testamento não cita explicitamente qualquer livro apócrifo, dando assim uma boa razão para que alguns suspeitem de sua natureza bíblica.
3. Os primeiros Teólogos (Século II e III): Citaram esses livros, como também muitos outros.
4. O Concílio de Cartago em 397: Propôs a inclusão desses livros no Cânon Sagrado, mas como de leitura adequada. Mesmo assim Jerônimo resistiu. Eles foram incluídos na Vulgata, mas ocupando um lugar secundário.
5. Agostinho: Inclinou-se a reconhecer a sua natureza autêntica.
6. Jerônimo, tradutor da Vulgata: Rejeitou-os como Escritura Canônica.
7. Martinho Lutero: traduziu a Bíblia completa e incluiu os apócrifos com estes dizeres: “Apócrifos, isto é, livros que não são considerados iguais a Sagrada Escrituras, porém sua leitura é útil e boa”.
8. O Protestantismo: rejeita os apócrifos como Escritura, mas permite em alguns casos, o seu uso devocional.
9. As Denominações evangélicas: De uma forma geral, rejeita-os completamente.
10. A Igreja da Inglaterra: Concede a sua permissão para uso devocional.
11. A Igreja Católica Romana. Aceita os apócrifos como Escritura.
• O Concílio de Trento: Decidiu a questão para os católicos romanos, proclamando os livros como Escritura e estabelecendo a excomunhão para os que discordassem. Todavia eles foram aprovados neste concílio em meio a muitas controvérsias.
• O Primeiro Concílio Vaticano (1870). Reiterou o de Trento, embora muitos escritores católicos falem hoje sobre a posição deuterocanônica dos Apócrifos, em lugar de sua posição canônica.
12. Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira: Decidiu excluir os apócrifos de suas Bíblias, e pouco depois os americanos seguiram o mesmo padrão.
III. O Uso dos Apócrifos pela Igreja Romana. Eles foram aprovados no Concílio de Trento em 1546 d.C
1. Os sete livros:
(1) Tobias. Um romance no tempo do cativeiro de Israel pela Assíria.
(2) Judite. Um romance no tempo de Nabucodonosor. Escrito cerca de 100 a.D
(3) Sabedoria de Salomão. Obra sapiencial, escrito por um judeu de Alexandria, cerca de 100 a.C
(4) Eclesiástico. (Não confundir com o livro canônico Eclesiastes). Parecido com o livro de Provérbios. Chama-se também, A Sabedoria de Jesus, filho de Siraque. Escrito cerca de 180 a.C
(5) Baruque. Obra escrita cerca de 300 a.C, e que dá a entender ser da autoria de Baruque, o escriba de Jeremias.
(6) I Macabeus e II Macabeus.
2. Os acréscimos:
(1) Acréscimo ao livro de Ester. Feito no segundo século a.C.
(2) Cântico dos Três Santos Filhos. (Ao livro de Daniel)
(3) História de Suzana. (Ao livro de Daniel)
(4) Bel e o Dragão. (Ao livro de Daniel)
(5) A Oração de Manassés: Dá a entender que é a oração de Manasses, quando preso em Babilônia.
IV. Classificação Geral dos Apócrifos
1. Pseudepígrafos – Os livros rejeitados por todos: Contém os extremos da fantasia religiosa judaica expressos entre 200 a.C e 200 d.C
(1) Lendários: O livro do Jubileu, Epístola de Aristéias, O livro de Adão e Eva, O martírio de Isaías.
(2) Apocalípticos: 1 Enoque, Testamento dos doze patriarcas, O oráculo sibilino, Assunção de Moisés, 2 Enoque, ou livro dos segredos de Enoque, 2 Baruque e 3 Baruque.
(3) Didáticos: 3 Macabeus, 4 Macabeus, Pirque Abote, A história de Aicar.
(4) Poéticos: Salmos de Salomão, Salmo 151.
(5) Históricos: Fragmentos de uma obra de Sadoque.
2. Apócrifos:
(1) Didáticos: Sabedoria de Salomão, Eclesiástico.
(2) Religioso: Tobias.
(3) Romance: Judite.
(4) Histórico: 1 Esdras, 1 Macabeus, 2 Macabeus.
(5) Profético: Baruque, Epístola de Jeremias, 2 Esdras.
(6) Lendário: Adições a Ester (Ester 10.4-16.24), Oração de Azarias – Cântico dos três Jovens (Daniel 3.24-90), Susana (Daniel 13), Bel e o Dragão (Daniel 14), Oração de Manassés.
V. Razões por que se rejeita a canonicidade dos Apócrifos:
1. Eles nunca fizeram parte do cânon hebraico.
2. O Novo Testamento jamais cita um livro apócrifo indicando-o como inspirado.
3. Eles nunca foram citados no Antigo Testamento.
4. Josefo, o historiador judeu, os omite em seus escritos. Josefo rejeita expressamente os apócrifos, relacionando apenas 22 livros canônicos (Que representam os 39 livros do Antigo Testamento)
5. Filo, o judeu de Alexandria, rejeitou com toda a clareza a canonicidade dos apócrifos.
6. Os apócrifos estão presente na Septuaginta, a tradução grega do Antigo Testamento. Mas não aparece no Antigo Testamento Hebraico.
7. Jesus e os apóstolos usavam a Septuaginta, e a citavam, porém eles nunca citam os apócrifos nela contidos.
8. Os pais da igreja que rejeitaram os apócrifos: Melito, Tertuliano, Origens, Cirilo de Jerusalém, Atanásio.
9. Jerônimo argumentou fortemente contra Agostinho, ao rejeitar a canonicidade dos apócrifos, Jerônimo recusou a traduzir os apócrifos para o latim, ou mesmo incluí-los em suas versões em latim (Vulgata latina). Só depois da sua morte é que os livros apócrifos foram incorporados à Vulgata Latina.
10. Nenhum deles reclama a inspiração divina para si.
11. Eles contêm erros históricos, geográficos e cronológicos.
• Tobias - (200 a.C.) • um anjo engana Tobias e o ensina a mentir 5:16 a 19
• Baruque - (100 a.D.) Traz entre outras coisas, a intercessão pelos mortos - 3:4.
• Eclesiástico - (180 a.C.) Justificação pelas obras - 3:33, 34; Trato cruel aos escravos - 33:26 e 30; 42:1 e 5; incentiva o ódio aos Samaritanos - 50:27 e 28
• II Macabeus - (100 a.C.) O próprio autor não se julga inspirado -15:38-40; 2:25-27
• Ensinam Artes Mágicas ou de Feitiçaria como método de exorcismo: Este ensino que o coração de um peixe tem o poder para expulsar toda espécie de demônios contradiz tudo o que a Bíblia diz sobre como enfrentar o demônio.
• Ensinam que Esmolas e Boas Obras - Limpam os Pecados e Salvam a Alma, Tobias 12.8, 9 8.
• Nos Livros Apócrifos Os Anjos Mentem: Tobias 5.15-19 –
12. Eles ensinam e apóiam doutrinas que são contrárias às Escrituras em Geral.
13. Como literatura, às vezes não passam de mito e lendas.
14. Em gera, seu nível espiritual e moral deixa muito a desejar.
15. Jesus não os cita em seus escritos.
16. Os apóstolos e escritores dos Evangelhos, das Epístolas e do Apocalipse, não se referem a eles nos seus escritos.
17. Os famosos Pais da Igreja Primitiva não se reportam a eles como fonte de inspiração dos seus escritos.
18. Eles foram escritos muito tempo depois de encerrado o cânon do Antigo Testamento.
19. Nenhum concílio da igreja os considerou canônicos senão no final do século IV.
20. Muitos estudiosos católicos romanos, ainda ao longo da Reforma, rejeitaram os apócrifos.
21. Nenhuma igreja ortodoxa grega, anglicana ou protestante, até a presente data, reconheceu os apócrifos como inspirados e canônicos, no sentido integral dessa palavra.
22. Os apócrifos não reivindicam ser proféticos.
23. Não detêm a autoridade de Deus.
24. Embora seu conteúdo tenha algum valor para a edificação nos momentos devocionais, na maior parte se trata de texto repetitivo; são textos que já se encontram nos livros canônicos.
25. Os apócrifos nada acrescentam ao nosso conhecimento das verdades messiânicas.
Conclusão:
1. Os livros apócrifos são genuínos, mas não de inspiração divina e de autoridade igual a da Bíblia.
2. Nunca fizeram parte do sagrado cânon, jamais foram citados por Cristo nem pelos apóstolos.
3. Servem-nos “para exemplo de vida e instrução de costumes, ainda que sem autoridade em matéria de fé”.
4. Alguns desses livros são também inseridos em Bíblias Protestantes, para estudo e investigação da crítica textual e devido ao seu relativo valor histórico.
Bibliografia
Manual da Escola Dominical - CPAD
Pequena Enciclopédia Bíblica – O.S. Boyer
Manual Bíblico do estudante. – CPAD
Seitas e Heresias – Raimundo de Oliveira
Manual de Apologética – Esequias Soares.
Introdução Bíblica – Norman Geisler e William Nix