HARMATIOLOGIA - A DOUTRINA SOBRE O PECADO

HARMATIOLOGIA – A DOUTRINA SOBRE O PECADO

INTRODUÇÃO

O romancista irlandês, Oscar Wilde, faz um intrigante comentário acerca da pecaminosidade humana: “Não há pecado, afora a estupidez”. Como estava enganado o pobre Wilde! A cegueira espiritual impediu-o de vislumbrar o sombrio quadro do homem sem Deus. Deveria ele saber que a estupidez é apenas um dos sintomas do pecado.

O veredicto divino é: “Todos pecaram” (Rm 3.23).

 

DEFINIÇÃO – O QUE É O PECADO

Teorias filosóficas sobre o pecado: Muitas teorias apareceram para negar, desculpar, ou diminuir a natureza do pecado.

Ateísmo: Ao negar a Deus, nega também o pecado, porque estritamente falando, todo pecado é contra Deus; e se não há Deus, não há pecado. O homem pode ser culpado de pecar em relação a outros, pode pecar contra si mesmo, porém estas coisas constituem pecado unicamente em relação a Deus. Todo mal praticado é dirigido contra Deus. “Pequei contra o céu e perante ti”, exclamou o pródigo. Portanto, o homem necessita do perdão baseado em uma provisão divina de expiação.

 

O determinismo: É a teoria que afirma ser o livre-arbítrio uma ilusão e não uma realidade. Nós imaginamos que somos livres para fazer nossa escolha, porém realmente nossas opções são ditadas por impulsos internos e circunstâncias que escaparam ao nosso domínio – uma pessoa não pode deixar de atuar da maneira como o faz, e estritamente falando, não deve ser louvada por ser boa nem culpada por ser má. O homem é simplesmente escravo das circunstâncias. É o determinismo a doutrina que admite estar o curso dos acontecimentos previamente fixado, e nada que o homem faça haverá de alterá-lo. Essa doutrina é conhecida também como Fatalismo. Mas as Escrituras afirmam que o homem é livre para escolher entre o bem e o mal. Longe de ser vítima da fatalidade e casualidade, declara-se que o homem é o árbitro do seu próprio destino: “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer, porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7)

 

Divagando sobre a problemática moral do homem, escreveu Miguel de Cervantes: “O que o céu determinou que sucedesse, não há diligência nem sabedoria humana que possa prevenir” – Apesar da poesia que cerca essa declaração, o romancista espanhol acaba por tirara do homem toda a responsabilidade moral.

 

O hedonismo: (da palavra grega que significa “prazer”) é a teoria que sustenta que o melhor ou mais proveitoso que existe na vida é a conquista do prazer e a fuga à dor; de modo que a primeira pergunta que se faz não é: “Isto é correto?”, mas: “Trará prazer?”. Nem todos os hedonistas têm uma vida de vícios, mas a tendência geral do hedonista é desculpar o pecado, e disfarçá-lo, qual pílula açucarada, com designações tais como estas: “é uma fraqueza inofensiva”; “é pequeno desvio”; “é mania do prazer”; “é fogo da juventude”. Eles desculpam o pecado com expressões como estas: “errar é humano”; “o que é natural é belo e o que é belo é direito”; o homem deve “libertar suas inibições”; em linguagem simples “ceder à tentação porque reprimi-la é prejudicial à saúde”. Naturalmente, isso muitas vezes representa um intento para justificar a imoralidade. Mas esses mesmos teóricos não concordariam em que a pessoa desse liberdade às suas inibições de ira, de ódio criminoso, inveja, embriaguez ou alguma outra tendência similar. No fundo dessa teoria está o desejo de diminuir a gravidade do pecado, e ofuscar a linha divisória entre o bem e o mal, o certo e o errado. Asseverou Samuel Johnson: “o prazer em si não é vício”. Então, o que é o pecado?

 

A ciência cristã: Esta seita nega a realidade do pecado. Declara que o pecado não é algo positivo, mas simplesmente a ausência do bem. Nega que o pecado tenha existência real e afirmam que é apenas um “erro da mente moral”. O homem pensa que o pecado é real, por conseguinte, seu pensamento necessita de correção. Mas depois de examinar o pecado e a ruína que são mais do que reais no mundo, parece que esse tal “erro da mente moral” é tão terrível como aquilo que toda gente conhece por “pecado”! As Escrituras denunciam o pecado como uma violação positiva da lei de Deus, como uma verdadeira ofensa que merece castigo real num inferno real.

 

A evolução: Considera o pecado como herança do animalismo primitivo do homem. Desse modo, em lugar de exortar a gente a deixar o “velho homem”, ou o “antigo Adão”, os proponentes dessa teoria deveriam admoestá-los a que deixassem o “velho macaco” ou o “velho tigre”! A teoria da evolução é antibíblica. Além disso, os animais não pecam; eles vivem segundo sua natureza e não experimentam nenhum sentido de culpa por seu comportamento.

 

Termos originais que conceituam o pecado.

 

No hebraico:

Chata (verbo) e chattath, chet (substantivo): (Gn 4.7; Êx 9.27; Lv 5.1; Nm 6.11; Sl 51.2,4; Pv 8.36; Is 42.24; Os 4.7)

 

No grego:

Hamarteno (verbo) e hamartia (substantivo) (Lc 11.4; 15.18,21; Jo 1.29; 8.34; 16.9; Rm 3.23; 5.12; 6.23; 1 Co 15.3; 1 Jo 1.7,9,10; 3.4a; 5.17b). O pecado é uma falha em se conformar ao padrão de Deus. Hamartia significa “errar o alvo”. Daí, significa que todas as pessoas têm errado o alvo do padrão de Deus e continuam longe deste padrão (Rm 3.23). Isto envolve tanto os pecados de comissão quanto os de omissão. Falhar em fazer o que é certo também é pecado (Rm 14.23).

 

Anomia: Transgressão ou violação da lei divina, desordem, anarquia (1 Jo 3.4b,8,9). Pode ser descrita como uma “estrutura de mente”. Denota atos fora da lei (Tt 2.14) e é um sinal dos últimos dias, significando “sem lei ou restrição”. Em suma rebelião contra Deus.

 

Parabasis: O pecado é uma transgressão da lei de Deus. A palavra grega parabasis significa “exceder, transgredir”. É ultrapassar ou transgredir a lei de Deus (Rm 2.23; 5.14; Gl 3.19).

 

Adikia: Injustiça (1 Jo 7.17a)

 

Conceituação bíblica e teológica:

“Pecado é a causa da perdição do homem... Em Salmos 41.4, o pecado é definido como uma doença espiritual que faz enfermar a alma” – Pr. Antonio Gilberto

 

“É uma revolta contra Deus, o estabelecimento de uma independência falsa, a substituição de uma vida para Deus por uma vida para si” – Evangelista Billy Grahan

 

“Essa, é talvez, a definição mais comum do pecado. A lei fixa a linha divisória entre o bem e o mal, e qualquer passo que a transponha, é pecado. A lei de que Deus fala não pode ser outra senão a sua própria, qualquer traspasso além da fronteira da lei de Deus é pecado.”

 

“o pecado é um estado mau da alma ou da personalidade” – Langston

 

“qualquer coisa contrária ao caráter de Deus” – Ryrie

 

“é a falta de conformidade com a lei moral de Deus, seja em ato, disposição ou estado” – Berkhof

 

“Pecado, então, é qualquer transgressão, por atos, palavras ou desejos, à lei eterna... O pecado é o amor de si mesmo até o desprezo de Deus” – Agostinho