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O APÓSTOLO PAULO

PAULO – APÓSTOLO DOS GENTIOS

 

Um Panorama Da Vida De Paulo

 

O Pensamento De Paulo

 

 

INTRODUÇÃO

O Apóstolo Paulo é, sem dúvida o maior teólogo do cristianismo. A sistematização fundamental da fé cristã primitiva tem na figura do apóstolo seu modelo mais importante. Apesar de ter sido um apóstolo tardio (1 Co 15.8,9), Paulo é de fato o primeiro teólogo sistemático cristão, no sentido básico da palavra. Estamos seguros de que não é demais afirmar que ele foi a pessoa mais importante da história da fé cristã depois do próprio Jesus Cristo.

Todavia, uma avaliação do pensamento paulino não é tarefa nada fácil. Muitas questões devem ser enfrentadas num trabalho de tal envergadura.

  • Qual é a principal fonte do pensamento de Paulo?
  • Qual é a influência cultural predominante em seus escritos? É preponderantemente judaica? Grega? Romana?
  • Como seu pensamento distingue-se do parecer dos demais autores do Novo Testamento?
  • Até que ponto Paulo é original?
  • Como se organiza sua teologia? Há algum tema dominante?
  • Existe um desenvolvimento do pensamento paulino?

É curioso observar como o tema “Paulo” tem se tornado cada vez mais digno de nota nos últimos anos. Costumam questionar a historicidade de Paulo, conforme descrita no Novo Testamento, seu perfil judaico, sua doutrina e até sua saúde mental. Muitos tem sugerido que existe uma profunda ruptura entre o pensamento de Paulo e o de Jesus.

Sabendo que o pensamento de Paulo é uma das bases fundamentais da teologia do Novo Testamento e que sua prática tornou-se o modelo pastoral e missionário mais exemplar para os cristãos de todos os tempos, informar-se a respeito de Paulo e dos enfoques de seu pensamento merece, mais do que nunca, toda atenção.

 UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA SOBRE O ESTUDO DE PAULO

 Marcião, o Hereje (140 d.C): O primeiro intérprete de Paulo que merece atenção foi Marcião, o Hereje. No século II, ele desenvolveu um pensamento nitidamente antijudaico. Com seus pressupostos, considerava o Antigo Testamento muito inferior ao Novo Testamento e rejeitou tudo o que considerava judaico neste. Assim, Marcião delimitou um cânon neotestamentário composto pelo evangelho de Lucas e pelas tradicionais dez epístolas paulinas (incluindo Hebreus, mas não as Cartas Pastorais). Para Marcião, Paulo devia ser visto, como um apóstolo antijudaico que, ao pregar a graça de Cristo, rejeitava a Lei e o Deus do Antigo Testamento, rompendo assim radicalmente com toda a tradição judaica.

 Os ebionitas: De maneira completamente oposta, também no século II, a seita dos ebionitas (literalmente, os pobres) entendia que Paulo era um apóstolo plenamente judaico. Tratava-se de um grupo de judeus cristãos da igreja primitiva que defendia a guarda do sábado, a prática da circuncisão e dava grande valor à Lei. Os ebionitas acabaram rejeitando as epístolas paulinas e faziam distinção entre o Jesus Históricos e o Cristo Eterno.

 O teólogo Agostinho: O teólogo mais famoso que configurou a Igreja medieval foi sem dúvida Agostinho de Hipona, que viveu no século IV. Ele delimitou uma ampla teologia que estabeleceu os rumos do pensamento cristão medieval por quase um milênio. Em razão, em parte de sua vida pagã pregressa muito pecaminosa, Agostinho enfatizou principalmente os aspectos hamartiológicos e soteriológicos do pensamento de Paulo. Temas como a libertação da culpa e o lugar da Lei foram destacados pelo bispo de Hipona. Sua relação empática com o pensamento platônico abriu caminho para que sua síntese teológica, que unia Soteriologia paulina e platonismo, contribuísse para o monasticismo medieval. Agostinho, porém, estabelece as bases para o enfoque da Reforma Protestante sobre Paulo, principalmente o de Lutero.

 A Reforma.

 

  • Não é exagero afirmar que a Reforma Protestante do século XVI deve ser entendida como um retorno ao pensamento de Paulo. Os nomes mais destacados da Reforma, Martinho Lutero e João Calvino, construíram sua teologia com base principalmente nos escritos paulinos.

 

  • Lutero:
  • É mais que senso comum o fato de que Lutero afirmou que a “justificação pela fé, independe das obras” (Rm 3.28) era a verdade doutrinária que deveria ser retomada em contraposição à perspectiva católica romana. Na realidade, para Lutero a “justificação pela fé” paulina tornou-se a doutrina cristã mais importante. Ele considerava a “justificação pela fé” o centro da teologia de Paulo.

 

  • Calvino: No caso de Calvino, o enfoque sobre o pensamento de Paulo não foi diferente. Dando a devida atenção a Romanos e Gálatas, os reformadores de Genebra também deram destaque à “justificação pela fé”. Essa ênfase concedeu a Paulo lugar central na teologia calvinista.

 Iluminismo:

  • O Iluminismo inaugurou uma nova era nos estudos das Escrituras. O movimento, glorificava a razão autônoma e interpretava a religião sob o prisma racionalista e antisobrenaturalista.

 

  • O enfoque sobre Paulo nesse contexto foi exageradamente helênico. O pensamento paulino era explicado paralelamente com o mundo grego.

 Baur, o maior representante deste período:

 

  • Suas conclusões:
  • Ele acreditava que o cristianismo primitivo estava radicalmente dividido entre a igreja de Jerusalém e as igrejas gentílicas, que eram ligadas a Paulo. Baur via a igreja judaica – sob a direção de Pedro e Tiago, muito ligada à Lei e ao judaísmo – definida por uma ruptura teológica com as igrejas organizadas por Paulo, marcada pela liberdade cristã.
  • Tal ruptura deu origem a um conflito teológico e eclesiástico, que poderia ser percebido em Gálatas e nas cartas aos Coríntios. As demais epístolas, que não apresentavam tal conflito, não poderiam ser consideradas paulinas. Além das cartas já mencionadas, apenas a de Romanos seria autentica.
  • Baur entendia que a síntese do conflito judaico-gentílico só poderia ter surgido no século II, quando teriam sido escritas as demais epístolas de Paulo, chamadas “deuteropaulinas”, e o próprio livro de Atos.

 Avaliação:

  • Teólogos importantes demonstraram que as conclusões de Baur são inadequadas e careciam de fundamentos históricos seguros.
  • Não era possível datar no século II tantas epístolas paulinas “deuteropaulinas”.
  • A escola de Tubingen foi considerada radical, exageradamente crítica e dependente do helegianismo.
  • A elaboração de Baur, todavia levantou questões cruciais com respeito aos estudos paulinos: Qual a relação entre Paulo e Jesus? Qual foi papel do pensamento judaico na igreja primitiva? E do pensamento grego? Com que pressuposto deve-se estudar a igreja primitiva?

 As escolas de religiões comparadas.

  • No final do século XIX surge na Alemanha um novo enfoque sobre os estudos bíblicos. Tal abordagem, ainda basicamente helênica, pretendia entender o cristianismo primitivo, bem como o pensamento paulino, com base em sua relação com o paganismo do mundo greco-romano.
  • Os cultos de mistérios e os demais cultos pagãos da época foram considerados as principais fontes de inspiração da Cristologia paulina, traçando paralelos e semelhanças entre eles e o pensamento de Paulo. Segundo os estudiosos dessa nova abordagem, conceitos como o do deus redentor redivivo, o kyrios exaltado, a redenção sacramental e a participação mística com a divindade seriam ideias pagãs que influenciaram decisivamente a Cristologia paulina. Tendo crescido em Tarso, Paulo teria sido influenciado por tais ideias, que acabaram moldando sua teologia.

 

  • Eles relacionavam o paulinismo com a literatura hermética e o gnosticismo.

 

  • É preciso ressaltar que a descoberta dos manuscritos de Cunrã e os estudos posteriores sobre o judaísmo intertestamental acabaram enfraquecendo de modo decisivo as conclusões da escola de religiões comparadas.

 

  • Na verdade, a terminologia paulina que se assemelha de alguma forma aos cultos pré-gnósticos e de mistérios da Ásia Menor seria mais facilmente explicada por sua metodologia missionária cultural.

 O liberalismo.

  • Negavam a justificação pela fé. Dizem que Jesus nunca reivindicou a Messianidade, mas que tal elaboração teológica teve origem na igreja primitiva.

 

  • Paulo teria desenvolvido uma teologia nova, nitidamente distinta do pensamento de Jesus.

 

  • O Jesus dos liberais, foi reduzido a um mestre religioso que apenas defendia a ética do amor e a liberdade espiritual. A teologia foi reduzida à ética. Todo elemento sobrenatural do evangelho foi rejeitado ou passou a ser entendido como mito.

 

  • Rejeita o enfoque forense da justiça divina, historicamente defendido pelos reformadores. Paulo foi interpretado de modo mais místico e ético. O centro da teologia paulina (e neotestamentária) não era a história objetiva de Cristo, mas sim a comunhão dos cristãos com Jesus no ensino ético e místico, o que produziria amor e liberdade.

 

  • O enfoque liberal, à semelhança de outras perspectivas críticas, também entendia que a principal influência do pensamento de Paulo era o paganismo greco-romano.

 O existencialismo de Bultmann:

  • Por incrível que possa parecer para muitos estudiosos conservadores, a preocupação inicial de Bultmann era apologética. Seu interesse foi tornar o evangelho atraente ao homem moderno, extraindo dele os elementos pertinentes à cosmovisão primitiva e ultrapassada do século I da Era Cristã. Para atingir seus objetivos, Bultmann caminhou na direção do que chamou de “demitologização” do Novo Testamento.

 

  • Bultmann acabou desvalorizando a base histórica do evangelho. De maneira bem coerente com seu ponto de vista, Paulo acabou recebendo o mesmo enfoque. Em sua abordagem, Bultmann ignora a história redentiva e a dimensão corporativa e cosmológica de Paulo. Na verdade, seguindo a herança helênica alemã, ele acabou entendendo o paulinismo com base em uma suposta relação com um tipo de gnosticismo incipiente.

 

  • A teologia paulina é sobreposta pela antropologia. A obra salvífica de Cristo, sua morte e ressurreição não são fatos históricos, no sentido comum do termo.

 

  • Muitos materiais descobertos sobre o gnosticismo e os escritos de Cunrã trouxeram informações suficientes para confirmar as limitações dos pressupostos bultmanianos.

 O enfoque judaico e escatológico:

  • Segundo Albert Schweitzer, Jesus fora um pregador apocalíptico que anunciava a chegada do Reino de Deus. Frustrado por sua desilusão, Jesus entregou-se à morte, crendo estar assim inaugurando o ansiado reinado divino. Ele afirmou que Paulo era também era apocalíptico como Jesus e que sua tarefa fora reelaborar a escatologia de Cristo. Schweitzer afastou-se dos paradigmas reformados no que se refere à doutrina da justificação pela fé e deixou isso claro ao escrever: “A doutrina da justificação pela fé é uma crença secundária, formada dentro das bordas da cratera principal, a doutrina mística da redenção por meio do ‘estar com Cristo’”.

 

  • As raízes judaicas da teologia paulina:

                                                                                                        

  • Outros estudiosos tentaram entender o pensamento de Paulo sob o prisma judaico, fazendo distinção entre o judaísmo helenístico de Paulo e o farisaísmo palestino, considerado mais legalista pelo apóstolo.
  • O estudioso W.D. Davies abordou o pensamento de Paulo com base em fontes rabínicas e do farisaísmo do século I. Davies, sugere que Paulo mantém uma relação de continuidade com o judaísmo e suaviza o confronto do apóstolo com os judeus e judaizantes do século I.

 A nova perspectiva – síntese:

  • O movimento originou-se em 1961, com o erudito K. Stendahl, que reagiu contrariamente à interpretação luterana tradicional do pensamento paulino. Defende-se que a doutrina da justificação pela fé não podia ser o centro da mensagem paulina de salvação.

 

  • Que o judaísmo palestino não acreditava na justificação pelas obras. Era uma religião marcada pela graça.

 

  • Logo, esse não era o problema do judaísmo para Paulo. Dizem que o apóstolo considerava a participação em Cristo e estar em Cristo muito mais importante que a justificação, o que desloca essa doutrina para uma posição periférica.

 

  • Dunn afirma que o judaísmo antigo conhecia a justificação pela fé e nela cria, tendo como único deslize o exclusivismo que rejeitava os gentios, e que Paulo desejava apenas uma igualdade soteriológica entre judeus e gentios diante de Deus.

 

  • Portanto, a justificação pela fé não tem centralidade na teologia paulina; é antes, uma estratégia pragmática para facilitar sua missão aos gentios.

 

  • A nova perspectiva entende que a teologia paulina tem sido mal interpretada pelo enfoque da Reforma Protestante, que não traduz o verdadeiro pensamento do apóstolo.

 

  • Paulo nem se percebia numa nova religião, mas entendia que tinha a tarefa de levar o judaísmo para os gentios.

 

  • Paulo só era contra a separação de judeus e gentios.