JÓ – UM TRATADO FILOSÓFICO SOBRE O DRAMA DO SOFRIMENTO HUMANO
O Problema do Sofrimento
Meditações Poético-Filosófica Sobre os Modos de Deus Agir
Os Livros Poéticos
Jó é o primeiro do grupo de livros do Antigo Testamento chamados poéticos; os outros são Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cânticos dos Cânticos. Este grupo de livros na maior parte do seu conteúdo, pertence à Idade de Ouro da história dos hebreus, a era de Davi e Salomão; Jó é geralmente atribuído a uma data mais remota; e alguns dos Salmos são mais recentes. Contudo, grande parte dos Salmos se atribui a Davi; e os três livros, Provérbios, Eclesiastes e Cantares, são geralmente atribuídos a Salomão. Assim, não é fora de propósito classificá-los de um modo geral, não em sentido exclusivo, como pertencentes à era de Davi e Salomão. A poesia hebraica não tem métrica nem rima, como a nossa. Consiste antes de paralelismos ou idéias rítmicas. O mesmo pensamento é repetido com palavras diferentes, o segundo contrastando-se com o primeiro, ou levando-o a uma culminância, formando uma parelha de versos, sinônimos ou antitéticos.
- Quem Foi Jó: A Septuaginta, num pós-escrito, segundo velha tradição, identifica Jó com “Jobabe”, o segundo rei de Edom (Gn 36.33). Nomes e lugares mencionados no livro (ver sobre o cap. 2) parecem dar os descendentes de Esaú como o meio de onde se originou. Se é certo e se Haurã foi o lugar de residência de Jó, isso indica que os primeiros reis de Edom, de vez em quando, podiam migrar da região pedregosa de Edom, rumo ao Norte, às planícies mais férteis de Haurã. Seja como for, o livro respira a atmosfera de tempos muito primitivos e parece ter, como ambiente que lhe deu origem, as tribos primevas descendentes de Abraão que viviam ao longo da fronteira norte da Arábia, mais ou menos ao tempo da permanência de Isael no Egito.
- Autor. Embora saibamos que o título do livro deriva de seu personagem principal e que Jó foi um personagem histórico (Ez 14.14; Tg 5.11), não sabemos ao certo quem de fato escreveu o livro. As sugestões incluem o próprio Jó, Eliú, Moisés e Salomão.
- Data. A data dos acontecimentos e a data de autoria são dois assuntos diversos. É objeto de grande discussão. É visto por muitos eruditos como o livro mais antigo da Bíblia; outros o colocam em data tão recente como a época do exílio. Os fatos provavelmente aconteceram numa sociedade patriarcal no segundo milênio, por volta da época de Abraão. Vários fatores apóiam esta posição:
- Jó viveu mais de 140 anos (42.16), um tempo de vida normal durante a era patriarcal.
- Na época de Jó, a economia era semelhante à do período patriarcal, em que a riqueza era medida em termos de cabeça de gado (1.3)
- Tal como Abraão, Isaque e Jacó, Jó agia como sacerdote de sua família (1.5)
- A ausência de qualquer referência à nação de Israel e à lei mosaica sugere uma data pré-mosaica (ante de 1500 a.C)
Três pontos de vista são os mais importantes com respeito à data de autoria:
- Na era patriarcal, logo depois dos acontecimentos narrados no livro.
- Ao tempo de Salomão (950 a.C)
- Na época do exílio ou depois, embora a menção de Jó por Ezequiel (Ez 14.14) negue data tão recente.
O relato detalhado dos discursos de Jó e seus amigos parece argumentar a favor de uma data de autoria bem próxima dos acontecimentos. Por outro lado, o livro partilha das características de obras da literatura sapiencial (por exemplo, Salmos 88 e 89), escritas durante a era salomônica, e deve ser considerado um poema dramático que descreve acontecimentos reais, apesar de não ser um relato literal.
- Tema. O livro luta com a antiqüíssima pergunta: “Por que sofrem os justos, se Deus é um Deus de amor e misericórdia?” Ensina claramente a soberania de Deus e a necessidade humana de reconhecê-la. Os três amigos de Jó ofereceram essencialmente a mesma resposta: todo sofrimento se deve ao pecado. Eliú, todavia, declarou que o sofrimento é freqüentemente o meio de purificar os justos. O propósito de Deus, portanto era eliminar da vida de Jó toda a autojustificação e levá-lo ao ponto de confiança plena e exclusiva n'Ele.
- Lugar. A terra de Uz. Pensa-se que a “terra de Uz” (1.1), ficava ao longo dos limites da Palestina com a Arábia, estendendo-se de Edom, pelo Norte e Leste, ao rio Eufrates, e ladeando a rota de caravanas entre a Babilônia e o Egito. O distrito da terra de Uz que a tradição tem dado como pátria de Jó era Haurã, região ao leste do mar da Galiléia, conhecida pela fertilidade do solo e seus cereais, que foi já densamente povoada, hoje pontilhada de ruínas de 300 cidades. Há nessa região um lugar chamado Deir Eyoub, que se diz ter sido a residência de Jó.
- A Natureza do Livro de Jó. O livro é poético e pictórico. Podia chamar-se um poema histórico, isto é, baseado num evento real. Parece tratar-se de um debate público sobre o significado da aflição de Jó. Parece ter havido opiniões escritas (13.26). Quando se diz que os amigos de Jó foram declaradamente “consolá-lo” (2.11), ficamos a imaginar se isso não foi uma espécie de tribunal público, onde os homens de maior evidência da época manifestaram suas idéias. A aflição de Jó durou meses (7.3). Não é necessário pensar que os discursos foram improvisados. A linguagem é muito elevada para isto se desse. O debate podia ter-se prolongado por uma série de dias, com várias sessões, dando-se a cada pessoas que falava algum tempo para preparar sua resposta.
- O Assunto do Livro de Jó. O livro de Jó, trata de um dos maiores mistérios – o do sofrimento. A pergunta que ressoa por todo o livro é: “Por que sofrem os justos?” Jó, um homem descrito como perfeito, é despojado da riqueza, dos filhos e da saúde. Suporta estas aflições com paciência. Jó não compreende a causa dessas calamidades, mas resigna-se com o pensamento de que Deus envia aos homens tanto o mal como o bem, e que tem o direito de fazer com que as suas criaturas o que lhe aprouver. Assim, pois, os homens devem aceitar o mal sem fazer queixa. Os amigos de Jó argumentam que, sendo o sofrimento o resultado do pecado, e sendo Jó o mais aflito dos homens, deveria ele ser o mais ímpio de todos. Jó fica indignado e nega a acusação de ter cometido pecado, levando sua negação até o ponto da autojustiça. Na conclusão da discussão entre Jó e seus amigos, Eliú fala, condenando Jó por sua autojustificação e os outros por sua áspera condenação de Jó. Continua, explicando que Deus tem um propósito ao enviar o sofrimento aos homens; que ele castiga o homem com a intenção de trazê-lo para mais perto de si mesmo. Deus usou as aflições para experimentar o caráter de Jó e como um meio de revelar-lhe um pecado do qual até então não se tinha dado conta: autojustificação.
- O Valor Literário do Livro de Jó:
- Victor Hugo: “O livro de Jó é talvez a maior obra-prima do espírito humano”
- Thomas Carlyle: “Denomino este livro, à parte de todas as teorias a seu respeito, uma das maiores coisas que já se escreveram. É nossa primeira e mais antiga declaração sobre o problema interminável: O destino do homem e a maneira de Deus tratá-lo, aqui na terra. Penso que nada existe escrito de igual valor literário”
- Philip Schaff: “Ergue-se como pirâmide na história da literatura, sem precedente e sem rival”
- Conteúdo. O livro é uma discussão filosófica, em linguagem altamente poética, acerca do problema do sofrimento humano. Muito cedo na história os homens começaram a se perturbar com as tremendas desigualdades e injustiças da vida: Como podia um Deus de bondade fazer o mundo tal qual é, onde há tanto sofrimento, e onde tanto padece quem menos o merece. Não compreendemos esse problema hoje mais do que os homens da época de Jó. Entramos nesta vida sem nada decidir sobre nossa vinda. Abrimos os olhos e olhamos ao redor, e não passamos de um enorme ponto de interrogação. Como podia um Deus de bondade fazer o mundo tal qual é? Mas, embora não nos avantajemos aos da época de Jó na compreensão deste problema, temos, mais do que eles, razão para nos conformarmos com o mesmo. Porquanto, nesse meio tempo, o próprio Deus desceu a nós, na Pessoa de Jesus Cristo, e participou de nossos sofrimentos. Não se trata de ter Ele feito um mundo onde haveria o que sofrer e depois ficasse de longe e dissesse: “Deixa que sofram” A história de Jesus que foi a um só tempo o homem mais justo e o maior sofredor deste mundo, é uma ilustração de como Deus sofre com a Sua criação; e não devemos ter qualquer dificuldade em crer que tudo isso tem um propósito bom, embora não possamos compreendê-lo agora. Demais disto, Jesus ressurgiu dos mortos, dando certeza de uma vida futura, onde todos os mistérios serão desvendados e todas as injustiças serão ajustadas. O livro oferece vislumbre sobre a atividade de satanás (1.6 - 2.10); O uso do sofrimento no plano divino como um meio de aperfeiçoar o caráter. Os versículos mais conhecidos do livro são: 19.25-26
- Jó e seus Sofrimentos (1.1-2.10)
- Jó e seus Amigos (2.11 ao cap.37.)
- Jó e sua Resposta (caps. 38- 42.6)
- Jó e sua Restauração (42.1-17)