A EPÍSTOLA DE PAULO AOS ROMANOS.
A Natureza Fundamental da Obra de Cristo
A Base da Posição do Homem Perante Seu Criador
Esta Epístola é a explicação mais completa que Paulo dá do seu modo de compreender a natureza do Evangelho, tendo sido ele escolhido por Deus para ser o principal expositor desse Evangelho. Coleridge diz que é “a obra mais profunda que existe”
- Esta Epístola foi escrita por Paulo, para os cristãos em Roma. (1.1)
- Data e Ocasião. Inverno de 57-58 A.D. Paulo estava em Corinto, encerrada sua terceira viagem missionária, às véspera de partir para Jerusalém, levando a oferta para os crentes pobres (15.22-27) O apóstolo, desejando visitar Roma, a fim de repartir-lhes algum dom espiritual, para que fossem confirmados, mas sendo impedido, aproveitou a oportunidade de escrever a epístola e a enviar pela mão de Febe, uma senhora de Cencréia, subúrbio de Corinto, estava de saída para Roma (Rm 1.11-15; 16.1,2). Não havia serviço postal no Império Romano, exceto para a correspondência oficial. O serviço de correios como conhecemos hoje, é de origem recente. Naquela época a correspondência particular tinha de ser conduzida por amigos ou outros viajantes que por acaso houvesse.
- O Escrevente de Paulo: Tércio (16.22)
- A Portadora da Carta: A carta foi levada a Roma pela viúva Febe, que ia ali tratar de seus negócios particulares (16.1,2)
- Destinatário. Em cada Epístola devemos verificar se foi escrita a pessoas conhecidas ou desconhecidos, e notar a diferença de tratamento em cada caso. Gálatas foi escrita a crentes bem conhecidos, e por isso o apóstolo apela para sua autoridade espiritual. Romanos, a desconhecidos, e o apóstolo não usa de autoridade alguma, mas sim de argumentos bíblicos e razões teológicas. Dirigida aos cristãos da metrópole do grande império, cujo domínio se estendia por quase todo o mundo conhecido (Rm 1.7). Embora fosse uma carta dirigida a romanos – vemos que entre os crentes em Roma, havia, evidentemente, um grande número de judeus convertidos. Por isso o apóstolo constantemente refere-se aos fatos do Antigo Testamento.
- A Igreja em Roma. Paulo ainda não tinha ido lá. Chegou em Roma três anos depois de escrota esta Epístola. A igreja em Roma era grande e importantíssima (Rm 1.8). Tácito descreve-a no tempo das perseguições de Nero, 64 AD. Como “uma multidão imensa”. É provável que alguns dos romanos, “tanto judeus como prosélitos”, que assistiam ao derramamento do Espírito, no Pentecoste (At 2.10,11) fossem os primeiros a levar o Evangelho a Roma. O núcleo dessa igreja formara-se provavelmente, dos romanos que estiveram em Jerusalém no Dia de Pentecostes (At 2.10). No período interino de 28 anos, muitos cristãos, de várias partes do Oriente, por qualquer motivo migraram para a metrópole, alguns deles convertidos de Paulo e seus amigos íntimos. O martírio de Paulo, e provavelmente o de Pedro, ocorreu em Roma, uns 8anos depois de ver escrita esta Epístola.
- Foi Pedro o fundador dessa igreja? A tradição diz que o apóstolo Pedro foi o fundador dessa igreja, mas não há qualquer prova.
- Parece inteiramente inconsistente que esse apóstolo estivesse em Jerusalém ao mesmo tempo em que, segundo dizem ele trabalhava em Roma.
- Paulo em toda a sua epístola, não faz menção de Pedro.
- Seu nome não foi incluído na lista das pessoas a quem enviou saudações.
- Objetivo da Carta: Fazer saber aos irmãos de Roma que ele estava de partida para lá. Aliás, foi antes de Deus dizer a Paulo que o queria em Roma (At 23.11), de modo que ele ainda não estava certo se escaparia vivo de Jerusalém (Rm 15.31). Neste caso, parecia conveniente que ele, apóstolo aos gentios, tivesse arquivada na Capital do mundo gentílico uma explicação escrita de seu modo de compreender a natureza da obra de Cristo.
- Contexto Histórico – A Situação para a qual a Epístola foi Escrita: Era a crença comum judaica na finalidade da Lei de Moisés como expressão da vontade de Deus e de obrigação universal, bem como a insistência judaica de que os gentios que quisessem ser cristãos deveriam circuncidar-se e guardar a Lei. De modo que a questão de se alguém pudesse tornar-se cristão sem ser primeiro um prosélito judeu jazia no fundo da espírito de cada um. A circuncisão era o rito físico que vigorava como cerimônia inicial da naturalização judaica.
- “A justiça de Deus se revela no Evangelho” (1.17). Acha-se no livro de Romanos, verdadeira resposta à pergunta dos séculos proferida por Jó: “Como pode o homem ser justo diante de Deus?”. A doutrina da justificação pela fé se encontra em vários lugares na Bíblia. Mas foi o apóstolo Paulo que juntou tudo, acrescentando algumas revelações especiais, para formar sua epístola, considerada uma das mais importantes dos Séculos.
- A Principal Insistência de Paulo. A justificação do homem repousa, fundamentalmente, não na Lei de Moisés, mas na misericórdia de Cristo. Não é, absolutamente, uma coisa afeta à Lei, porque o homem, por causa de sua natureza pecaminosa, não pode, inteiramente, corresponder às exigências da Lei, a qual é a expressão da santidade divina. Mas provém, totalmente, de Cristo, levado pela bondade do Seu coração, perdoar os pecados do homem. Em última análise, a posição do homem diante de Deus depende, não tanto do que ele tenha feito ou possa fazer por si mesmo, mas do que Cristo fez por ele. Por conseguinte, Cristo tem direito à absoluta e cordial sujeição, lealdade, obediência e devotamento de cada ser humano.
- A Importância da Epístola aos Romanos. Esta carta tem sido considerada a obra-prima do Apóstolo Paulo, tanto pelo seu valor intelectual, como teológico, e os homens mais eminentes a têm apreciado sobremaneira.
- Crisóstomo lia toda A Epístola de Paulo aos Romanos uma vez por semana.
- Calvino disse que ela “abria as portas a todos os tesouros das Escrituras”
- Melancton a transcreveu duas vezes à mão, para conhecê-la melhor.
- Lutero chamava-a o livro principal do Novo Testamento e o Evangelho Perfeito.
- Coleridge a considerava a obra mais profunda que existia.
- Sir William Ramsay referia-se a ela como a filosofia da história.
- Godet dizia que ela é a catedral da Fé.
- Davi Bacon afirmava que a fé da cristandade deve mais a essa epístola do que a qualquer outra porção dos Oráculos Vivos.
- W. H. Griffith asseverava que um estudo esmerado de Romanos, é em si mesmo um curso de teologia. Dizia também que à vida cristã, nutrida pela Epístola aos Romanos, nunca lhe faltam três elementos essenciais: nítida percepção, forte convicção é verdadeira utilidade em servir.
Ao longo da história ela desencadeou reações fantásticas, como por exemplo, a conversão de Agostinho, a descoberta da justificação do pecador por meio da graça pelo Reformador Martinho Lutero e também a reviravolta que a interpretação de Romanos por Karl Barth causou na teologia, do liberalismo à dialética.
“É alimento sólido e não apenas leite”
- O Estilo de Paulo – “Difícil de Entender”. Ordinariamente, julgamos que Romanos é difícil de entender. Há duas razões para isso. Uma é o estilo literário de Paulo. Tinha o hábito de começar uma sentença e depois fazia uma digressão, mais outra e ainda outra, de modo que, em alguns casos, as frases em vez de modificarem as que as precedem imediatamente, modificam alguma coisa remota, tornando difícil ver a conexão. Outra razão é que a Epístola gira em torno de um problema, que para nós, não constitui problema, mas que, em sua época, foi problema aceso, causticante, a saber: se um gentio podia ser cristão sem se tornar um prosélito dos judeus. Comumente, pensamos que o Cristianismo é religião de gentios, visto que muitos poucos judeus são cristãos. Mas quando o Cristianismo começou era uma religião judaica, e certos líderes judeus poderosos estavam decididos em fazê-lo continuar assim.
- Síntese.
- Dirigida aos cristãos de Roma. Parte (1), capítulos 1-11: É uma magistral exposição da necessidade e da natureza do plano de Salvação. A justificação pela fé e santificação através do Espírito Santo. Parte (2) 12-16: São, em grande parte, exortações acerca de deveres espirituais, sociais e cívicos.
- Podemos resumir o sentido da Epístola em uma frase, dizendo que “trata da doutrina do Evangelho”. Muita gente usa medicina sem ter nenhum conhecimento da ciência médica, e também muita gente espera salvação em Cristo sem ter estudado a doutrina do Evangelho. Para tais pessoas, Romanos é uma iluminação.
- Mais formal que as demais cartas de Paulo, Romanos apresenta de maneira sistemática a doutrina da Justificação pela fé (e sua ramificações). O tema da Epístola é a Justiça de Deus (1.6,17). Um bom número de doutrinas fundamentais da fé cristã é discutido:
- A Revelação Natural (1.19,20)
- A Universalidade do Pecado (3.9-20)
- A Justificação (3.24)
- A Propiciação (3.25)
- A Fé (cap. 4)
- O Pecado Original (5.12)
- A União com Cristo (cap. 6)
- A Eleição, Rejeição e Restauração de Israel (9 a 11)
- Os Dons Espirituais (12.3-8)
- O Respeito às Autoridades (13.1-7)
- Particularidades da Epístola.
- É o sexto livro do Novo Testamento e a sexta das epístolas de Paulo na ordem cronológica.
- Romanos ensina as verdades que se refere ao crente na sua vida individual: perdão, justificação, etc; e nada ensina da igreja;Coríntios ensina as verdades que se referem aos crentes reunidos na igreja – fraternidade, ministério, culto, etc. Precisamos primeiro aprender o que é individual, para depois apreciar o que é coletivo. Por isso podemos começar com Romanos.
- A Questão Sobre o Capítulo 16. A menção nominal de 26 pessoas de uma igreja que Paulo jamais visitara (e de modo especial Priscila e Áquila, que mais recentemente relacionavam-se com Éfeso – Atos 18.18,19.) tem levado alguns estudiosos a considerar o capítulo 16 como parte de uma outra epístola, escrita para Éfeso. Seria natural, entretanto que, numa carta a uma igreja que não conhecia pessoalmente, Paulo mencionasse nominalmente algumas pessoas que eram amigos comuns. A única outra lista prolongada de saudações ocorre em Colossenses – carta escrita a outra igreja que o apóstolo nunca tinha visitado.
- A Cristologia em Romanos. Jesus é o Pacificador (5.1)
- A Mensagem de Romanos: “Depois de uma breve, mas significativa saudação e introdução, anuncia-se a proposição principal: que, no Evangelho, que é para todos os homens, a justiça de Deus é revelada. O desenvolvimento deste tema está em três partes:
- Doutrinária. Em que a justiça se vê em relação aos pecadores e ao pecado – Como pode Deus ser justo, e justificar o pecador?
- Em que essa justiça é vista com relação à chamada de Israel – Como pode Deus ser justo, e rejeitar seu povo antigo?
- Prática. Em que a justiça é contemplada em relação à vida prática – Como e em que medida pode a justiça de Deus influir nas experiências da vida diária?
Paulo trata de cada uma destas questões:
- A Solução do Problema Doutrinário (Caps. 1 a 8)
- A Solução do Problema Dispensacional (Caps. 9 a 11)
- A Solução do Problema Prático (Caps. 12 a 16).