O SERVO IMPIEDOSO
Texto Bíblico: Mateus 18.15-35
Texto Áureo: “É cego, nada vendo ao longe, havendo-se esquecido da purificação dos seus antigos pecados” (2 Pe 1.9)
OCASIÃO: Jesus instruía os apóstolos com respeito às ofensas praticadas contra irmãos (Mt 18.15-20). Pedro, talvez lembrando alguma diferença com outro apóstolo, perguntou: “Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?” Os rabinos ensinavam que se deveria perdoar até três vezes o irmão ofensor, e Pedro, em sinceridade e singeleza de coração, talvez imaginasse estar alargando generosamente aquele limite. Jesus ensina que o perdão deve ser sem limites.
SÍNTESE DA PARÁBOLA:
É assim que Jesus compara nossos pecados contra Deus com os pecados de uma pessoa contra nós. Note-se que Jesus declara categoricamente não haver absolutamente esperança de perdão, a não ser que perdoemos (v.35).
ANÁLISE DA PARÁBOLA:
“Até sete vezes?” (Mt 18.21): Pedro quis ser generoso, pois as tradições dos rabinos falavam em perdoar até três vezes. A resposta de Jesus, tomando-se em consideração o que Pedro disse, significa que o espírito de perdão vai muito além dos mesquinhos cálculos humanos.
- “Setenta vezes sete”: Setenta vezes sete é quatrocentos e noventa, sugerindo que o verdadeiro perdão vai além das contagens ou das limitações.
- A parábola do credor incompassivo, ensina o motivo pelo qual deve-se perdoar sem limites. Deus perdoou –nos tanta coisa ao nos conceder o dom gratuito da salvação em Cristo, que qualquer ofensa que outro ser humano possa praticar contra nós é irrisória, em comparação a isto. Perdoá-lo seria o mínimo que poderíamos fazer, refletindo assim, algo da bondade divina que tem sido derramada em nossas vidas (Mt 6.14,15).
- O Rei: Nesta parábola representa Deus no seu caráter de soberano e os servos, que reconhecem a sua soberania e querem viver segundo as suas leis.
- O Ajuste de Contas: Simboliza a convicção do pecado, como na ocasião em que Davi foi convocado à presença de Deus mediante o profeta Natã. Refere se também ao ajuste de contas final diante do Tribunal de Cristo.
- O Devedor Falido: Certamente um alto oficial, responsável pelas rendas de uma grande província. Sua dividida extraordinária, uma soma fantástica, demonstra quão grande é nossa dívida para com Deus, e a impossibilidade de pagá-la, deixando-nos, como esperança única o perdão.
(1) “Foi-lhe trazido”: Não teria vindo por sua própria vontade, e, talvez, até continuasse acumulando dívidas.
(2) “E não tendo ele como pagar”: Estas palavras descrevem a falência espiritual de cada pecador na presença do Santo, pelo padrão rígido da sua lei (Jó 42.5,6; Rm 3.23)
(3) A sentença terrível: Era costume naquela época vender-se o devedor à escravidão, juntamente com a mulher e os filhos. O Deus Onipotente tem o direito e o poder de rejeitar e entregar ao castigo aqueles que não vivem à altura da sua glória.
(4) A petição lastimosa: “Então aquele servo, prostrando-se o reverenciava” Era o recurso que lhe sobrava. Também ao pecador perdido, resta-lhe unicamente humilhar-se diante de Deus e clamar: “Senhor, tem compaixão de mim, pecador”.
(5) “Se generoso para comigo, e tudo te pagarei”: Naturalmente, jamais poderia ele resgatar tão vultosa quantia. Mas na angústia do momento, promete o impossível, para livrar-se da escravidão. Alguns pecadores, não enxergando as dimensões do pecado, tentam compensá-lo com obras, para obterem o favor de Deus. No entanto, nenhuma obediência futura compensará os fracassos passados. A única esperança do homem é que Deus lhe apague os registros do passado (Is 44.22; At 3.19).
(6) O Perdão gracioso: “Então o Senhor... movido de íntima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a dívida”. A severidade de Deus, sem semelhança à de José para com seus irmãos, é amor disfarçado, para induzir o pecador a reconhecer sua culpa, e depois reaparecer como graça. A mesma prestação de contas que, no início, o ameaçava de total ruína, tornar-se-á, se empregada corretamente, em equivalente medida de misericórdia. A prestação de contas traz a dívida ao lume, porém com o propósito de bani-la. O pecador deve conhecer a natureza dos próprios pecados; saber que suas transgressões acumulam-se à altura de uma montanha; mas, acima de tudo, estar consciente de que podem ser lançadas no mar das misericórdias de Deus.
(7) A Cruel exigência: “saindo, porém aquele servo, encontrou um dos seus conservos... e, lançando mão dele, sufocava-o”: As mãos que se haviam juntado, rogando misericórdia, agora sufocavam uma pessoa; a mesma voz que se levantara em apelo, agora profere ameaças. Causam-nos indignação, mas é típica do crente não inclinado a perdoar.
(8) A petição repudiada: Grande crueldade comete a pessoa que se esquece do quanto Deus lhe perdoou. Nós, que desfrutamos da graça de Deus, não devemos tratar os outros pelos padrões de uma lei sem misericórdia.
(9) A tristeza dos companheiros: Não é apena que há indignação quando os homens tratam aos outros com medidas diferentes daquelas com que foram tratados. Notemos que estes outros servos não se vingam do abuso, simplesmente relatam o fato ao senhor deles. “Minha é a vingança: eu recompensarei, diz o Senhor”.
(10) A Indignação do Mestre: Não lhe coube o adjetivo “malvado” por causa da dívida, mas pela sua crueldade e ingratidão. Cometera um dos piores pecados – o de abusar da bondade alheia. Demonstrou por suas ações, não ter sido tocado nem transformado pela graça do seu senhor.
(11) Os Carcereiros: Os “atormentadores” eram carcereiros que tinham por dever arrancar do prisioneiro a localização de algum suposto tesouro escondido.
- Talentos: Equivalia a 60 milhões de denários, o denário era o valor de um dia de trabalho (Mt 18.24).
- Verdades Práticas – Aprendemos desta parábola:
(1) Que Deus faz contas com os homens, não somente depois da morte, mas aqui e agora.
(2) Que todos os homens lhe devem uma dívida incalculável, e não podem de maneira alguma pagá-la (Mt 18.24,25).
(3) Que é necessário a dívida ser paga, se não pelo devedor, então por outro (v.25).
(4) Que o servo acusado não apelou contra a sentença, mas pediu prazo para pagar – coisa que evidentemente não podia fazer tão cedo (v.25). (5) Que o Senhor misericordioso libertou-o e perdoou-lhe (v.27). No nosso caso podemos conhecer a base deste perdão: a satisfação oferecida pela obra redentora.
(6) Que é possível receber a graça de Deus em vão (2 Co 6.1), sem que ela produza em nós uma correspondente bondade em nosso trato com os semelhantes.
(7) Que é muito fácil fazer maior questão das pequenas ofensas dos outros contra nós mesmos, do que das nossas grandes ofensas contra Deus.
(8) Que é característico da natureza carnal ser exigente, intolerante, incompassivo.
(9) A não sermos intransigentes, visto que devemos tudo à graça divina.
(10) A ver na dificuldade do nosso semelhante uma oportunidade para sermos magnânimos.
(11) A sermos “imitadores de Deus” não somente na sua graça perdoadora, mas também na sua paciência, longanimidade, simpatia, e tolerância.
(12) O Perdão:
1) Jesus ensinou-nos a perdoar;
2) Isto refere-se especialmente a ofensas praticadas contra nós mesmos
3) Pelo fato de também sermos pecadores, não nos compete julgar com demasiado rigor às faltas do nosso próximo.
4) Revela-se nosso caráter pela maneira como reagimos às ofensas e injustiças. “Tratada a ferida, dê-se sossego à atadura”.
5) A declaração: “Posso perdoar, mas não posso esquecer” É um substituto miserável e hipócrita ao perdão verdadeiro que nos ensina o Novo Testamento. Temos de perdoar como Deus nos perdoou. E como Deus nos perdoa?
1- Não mais lembrando nossos pecados (Hb 8.12)
2- Lançando-os nas profundezas do mar (Mq 7.19)
3- Apagando-os completamente (Is 44.22).
4- E daí em diante agindo conosco como se nunca tivéssemos cometido pecado.
6) Deus, finalmente, julgará a todos segundo sua reta justiça: que será de nós se não praticarmos misericórdia? (Tg 2.13)