OS APÓCRIFOS DO NOVO TESTAMENTO

OS LIVROS APÓCRIFOS DO NOVO TESTAMENTO

 

Classificação Dos Livros:

Homologoumena – Livros Aceitos Por Todos.

Os Homologoumena são os livros considerados universalmente canônicos desde o princípio. Eles estão presentes em praticamente todas as listas canônicas antigas e ortodoxas, bem como têm sido amplamente citados como Escrituras. Nenhum desses livros foi deliberadamente apagado do cânon que circulava nos círculos ortodoxos ou colocado em dúvida por um dos pais proeminentes da igreja. É claro que o número exato desses livros varia, dependendo da definição que se dê a “ortodoxo” e “proeminente”. Em geral, porém, há pouca discordância a respeito desse ponto. De modo geral, não há dúvidas quanto a 20 dos 27 livros de Mateus a Filemom e ainda 1 Pedro e 1 João.

 

Antilegomena – Livros Contestados.  São livros que não tinham reconhecimento uniforme nem universal na igreja primitiva. Eram livros que se tornaram no objeto de controvérsia canônica e que tinham períodos ou locais de “altos” e “baixos” no que diz respeito à sua condição canônica. É preciso dizer, porém, que esses livros raramente eram considerados anticanônicos, ou mesmo não-canônicos. Pelo contrário, desfrutavam de uma espécie de condição semicanônica, como ocorreu com os Apócrifos do Antigo Testamento.

Hebreus.

Este livro foi questionado por ser tratar de obra anônima. No Oriente, onde Paulo é considerado seu autor, o livro foi acolhido imediatamente. No Ocidente, o processo foi mais lento, porém, por causa da incerteza no tocante à sua autoria apostólica e, provavelmente, porque indivíduos da seita montanista apelaram a Hebreus para comprovar suas doutrinas errôneas.

Outra razão pela qual o Ocidente demorou a se decidir se deve à sua ênfases na autoria apostólica, e não na autoridade apostólica, como o teste correto para a canonicidade.

No século 4, graças à influência de Jerônimo e Agostinho, o Ocidente finalmente reconheceu a canonicidade da carta.

 

Tiago.

O livro teve sua veracidade questionada, embora houvesse quem duvidasse também de sua autoria.

O suposto conflito com Paulo em torno da justificação pela fé deteve sua aceitação plena até a época de Eusébio.

Mesmo durante o período da Reforma, Lutero teve dúvidas a respeito de Tiago e disse que a carta estava “em flagrante contradição com São Paulo e o restante das Escrituras”. Lutero a colocou no final do Novo Testamento juntamente com Hebreus, Judas e Apocalipse numa posição de inferioridade.

Por causa do trabalho de Orígenes, Eusébio (que era pessoalmente a favor de Tiago), Jerônimo e Agostinho, o Ocidente por fim reconheceu a natureza complementar do livro com as cartas de Paulo e, portanto, sua canonicidade.

 

2 Pedro.

A genuinidade de 2 Pedro foi questionada.

Na verdade, nenhum outro livro do Novo Testamento tem sido questionado de forma tão persistente quanto esse.

Até mesmo Calvino pareceu ter dúvidas sobre ele.

Jerônimo afirmou que a hesitação em torno da aceitação de 2 Pedro se devia à diferença de estilo em comparação com 1 Pedro.

Se essa característica se devia a um amanuense diferente, conforme pensava Jerônimo, talvez jamais se saiba ao certo.

Outra razão para a rejeição de 2 Pedro tem sido a afirmação de que se trata de uma obra do século 2. Contudo, o renomado arqueólogo W. F. Albright chamou a atenção para reminiscência da literatura de Qumran em 2 Pedro e fixa a data do livro no período anterior a 80 d.C.

Está claro, porém, que hoje há amplas evidências que confirmam que essa carta é acertadamente atribuída ao apóstolo Pedro.

A descoberta do manuscrito Bodmer, que contém a cópia mais antiga conhecida de 2 Pedro (final do século 3), revela que o livro estava sendo usado e era extremamente respeito pelos cristãos coptas no Egito durante o século 3.

Além das possíveis alusões aa 2 Pedro em Pseudo-Barnabé 15.4 (cf. 2 Pedro 3.8), há o testemunho de Orígenes, Eusébio, Jerônimo e Agostinho, que finalmente triunfou. Benjamim B. Warfield observa de modo perspicaz que há mais evidências para 2 Pedro do que para Heródoto e Tucídides.

Além disso, há evidências positivas internas para autenticidade de 2 Pedro. Pois, embora haja algumas diferenças notáveis, há semelhanças linguísticas e doutrinárias muito fortes com 1 Pedro.

 

2 e 3 João.

Esses livros também tiveram sua genuinidade questionada.

Dada à sua natureza privada e circulação limitada, não tiveram uma aceitação generalizada.

O autor identifica-se não como apóstolo, mas como “presbítero”, outro fato que impediu sua aceitação.

Apesar de todas essas dificuldades, as duas cartas foram mais amplamente reconhecidas do 2 Pedro, tendo sido reconhecidas pelo Cânon Muratoriano e também por alguns pais da igreja do século 2.

Além disso, a semelhança de estilo e de pensamento com 1 João e o uso de “presbítero” pelos apóstolos em outras ocasiões (1 Pe 5.1) favorecem fortemente a autoria joanina.

 

Judas.

A contestação nesse caso se deu em torno da autenticidade do livro.

A maior parte dos que questionaram Judas o fizeram com base em supostas referências ao pseudopigráfico Livro de Enoque (v. 14,15; cf. Enoque 1.9) e possivelmente também à Assunção de Moisés (v.9).

Orígenes sugere isso, e Jerônimo afirma especificamente que essa razão de Judas ter sido contestado.

É interessante observar que Tertuliano defendeu que Judas estava imbuído de autoridade precisamente por causa da referência a Enoque.

Contudo “a explicação que mais tem favorecido o livro é que a citação a Enoque não requer a aprovação do livro como um todo, estendendo-se unicamente àquelas porções que ele utiliza para o seu propósito. Essa situação não é materialmente diferente das referências que Paulo faz aos poetas pagãos (At 17.28; 1 Co 15.33; Tt 1.12)”.

As evidências externas no caso de Judas são amplamente difundidas desde o tempo de Irineu (c. 170 d.C).

A exemplo de 2 Pedro, o manuscrito do papiro Bodmer do Egito confirma o uso de Judas durante o século 3.

Na realidade, traços da influência de Judas podem ser encontrados na Didaquê.

 

Apocalipse.

Teve sua autenticidade contestada.

A doutrina do quiliasmo (milenarismo) foi o ponto central da controvérsia, que durou mais do que qualquer outro livro do Novo Testamento.

É curioso que Apocalipse tenha sido um dos primeiros livros a ser reconhecido nos escritos dos pais apostólicos aos quais temos acesso e um dos últimos a ser questionado.

São compreensíveis as evidências favoráveis à recepção imediata de Apocalipse no século 1, uma vez que as “sete igrejas” (Ap 2 – 3), às quais o livro foi endereçado, naturalmente haveriam de querer que uma obra associada a elas tão diretamente fosse preservada.

Há evidências externas do seu reconhecimento já na época de O pastor de Hermas, e entrando pelo século2 até o tempo em que os montanistas começaram a associar ao livro sua forma singular de milenarismo.

Por volta de meados do século 3, Dionísio, bispo de Alexandria, levantou sua voz influente contra o Apocalipse. Suas ideias prevaleceram passando pelo tempo de Eusébio de Cesaréia até a época de Atanásio e do Concílio de Cartago (397 d.C) quando essa tendência foi revertida.

Parece claro que não se tratava de uma questão de inspiração, mas de interpretação e de associação com ênfases doutrinárias específicas que levaram à contestação de Apocalipse.

Logo que isso ficou claro, a autoridade apostólica autêntica de Apocalipse foi confirmada.

 

Pseudepígrafos – Livros Rejeitados Por Todos:

Natureza dos Pseudepígrafos: Durante os primeiros séculos, surgiram vários livros de natureza fantasiosas e herética que não eram genuínos nem tinham valor como um todo. Eusébio de Cesaréia referiu-se a eles como “totalmente absurdos e ímpios”. Praticamente nenhum pai da igreja, cânon ou concílio ortodoxo aceitou a canonicidade desses livros, e no que diz respeito à igreja, trata-se de obra sobretudo de valor histórico. Esses livros apresentam o ensino herético dos grupos gnósticos, docéticos e ascéticos, além das fantasias exageradas de crenças religiosas da igreja primitiva. Na melhor das hipóteses, esses livros eram reverenciados por algumas seitas e foram citados por alguns pais da igreja ortodoxos, mas jamais foram considerados canônicos pelo cristianismo em geral.

Evangelhos:

Evangelho de Tomé (início do séc. 2):  O Evangelho de Tomé era conhecido por Hipólito, Orígenes, Cirilo de Jerusalém e Irineu.

Havia ao menos duas versões dessa coleção de ditos, uma das quais revela influência gnóstica.

A exemplo de outras narrativas da infância de Cristo, o Evangelho de Tomé contém histórias fantasiosas de supostos milagres do menino Jesus. “Esse menino Jesus, que na época tinha cinco anos, encontrava-se um dia brincando no leito de um riacho, depois de haver chovido. Representando a água que ali corria em pequenas poças, tornava-as instantaneamente cristalinas, ordenando-as somente com a sua palavra. Fez depois uma massa mole com barro e com ela formou doze passarinhos [...]. Jesus batendo palmas, dirigiu-se aos passarinhos, ordenando-lhes: Voem! Os passarinhos alçaram voo e saíram gorjeando” (2.1-4). Outra história conta como ele amaldiçoou um jovem e o fez secar como uma árvore: “E, quando viu o que havia sido feito, Jesus indignou-se e disse: Malvado, ímpio e insensato, que mal as poças e as águas te fizeram? Eis que ficarás agora seco como uma árvore, não terás folhas, nem raiz, nem frutos. Imediatamente, o rapaz tornou-se completamente seco. Jesus, porém, partiu e foi para a casa de José” (3.2,3). E ainda, quando uma “criança correu e esbarrou em seu ombro, é dito que Jesus se sentiu provocado e disse a ela: ‘Não prosseguirás teu caminho. Imediatamente o rapaz caiu e morreu’”. Esses relatos refletem uma dimensão de personalidade em Jesus que está em total desacordo com o que é apresentado nos relatos dos Evangelhos do Novo Testamento.

 

O Evangelho Dos Ebionitas (séc. 2):  Essa obra foi citada por Epifânio em sua refutação de todas as heresias (séc. 4). Os ebionitas eram uma seita judaica de cristãos que enfatizavam a Lei de Moisés, negavam a divindade de Cristo e acredita-se que aceitavam somente um Evangelho.

Eram vegetarianos e rejeitavam a ideia de que João Batista comia gafanhotos “João vestia-se de pele de camelo e tinha na cintura um cinto de couro. Sua carne (dizia-se) consistia em mel silvestre, cujo gosto é o gosto do maná, como um bolo mergulhado no azeite.

Os ebionitas também acreditavam que Jesus era um simples homem a quem Deus adotara na época do seu batismo. Afirmam que Jesus foi gerado da semente de um homem, e foi escolhido; e assim por escolha de Deus foi chamado de Filho de Deus do Cristo que nele entrou do alto na semelhança de uma pompa. Negam que ele foi gerado de Deus; afirmam que foi criado como um dos arcanjos, porém maior, e que é Senhor dos anjos e de todas as coisas feitas pelo Todo-Poderoso.

 

Evangelho de Pedro (séc. 2). Ensina várias coisas em desacordo com o Novo Testamento. Por exemplo:

Que Pilatos não teve culpa pela morte de Jesus e que somente os judeus eram responsáveis por ela;

Que Jesus não sentiu dor alguma quando foi crucificado.

Que Jesus se referiu ao Pai como “Meu Poder”.

Que os “irmãos e irmãs” de Jesus eram de um primeiro casamento de José, ideia há muito sustentada por estudiosos católicos romanos.

Protoevangelho De Tiago (fim do séc. 2):

Esse livro é mencionado por Clemente de Alexandria, Orígenes e por muitos dos primeiros pais da igreja.

Somente uma cópia do manuscrito foi preservada pela coleção do papiro Bodmer na Universidade de Oxford.

Ele se caracteriza por uma devoção especial a Maria.

Era uma forma muito clara de devoção a Maria da qual fazia parte a crença em seu nascimento da qual fazia parte a crença de seu nascimento miraculoso (não a imaculada conceição) e sua virgindade perpétua.

Que Maria nasceu depois de apenas seis meses de gestação e que andou (sete passos) somente seis meses depois de nascer.

Que “Maria tinha dezesseis anos quando todas essas coisas misteriosas (nascimento virginal, anunciação, concepções) ocorreram”.

 

Evangelho dos Hebreus (séc. 2):

Trata-se de um falso Evangelho gnóstico conhecido por Irineu, Clemente de Alexandria, Orígenes, Eusébio e Jerônimo. 

Houve quem acreditasse equivocadamente que essa fosse a versão original em hebraico do Evangelho de Mateus, que muitos creem ter sido escrita antes da versão grega.

De acordo com Irineu, ele foi usado pelos ebionitas para exaltar a Lei do Antigo Testamento e para repudiar o apóstolo Paulo.

Alguns disseram que esse Evangelho era o mesmo Evangelho dos Ebionitas (baseado na declaração de Epifânio), mas há diferenças significativas entre eles, como, por exemplo, relatos diferentes do batismo de Cristo.

Nele se contém: A aparição especial de Cristo a Tiago que, em oposição aos Evangelhos Canônicos, diz-se que ocorreu na Última Ceia.

Referência ao Espírito Santo como nossa “mãe”: Disse Jesus: “Agora mesmo minha mãe, o Espírito Santo, me toma por um fio de cabelo e me leva para o grande monte Tabor”.

Maria esteve grávida de Jesus durante somente sete meses.

Um relato do sudário de Cristo: “Tendo o Senhor entregue o pano de linho ao servo do sacerdote, foi até Tiago e apareceu a ele”.

Evangelho Dos Egípcios (Séc. 2): Esse Evangelho espúrio é mencionado por Clemente de Alexandria e por Orígenes.

Somente alguns fragmentos dele estão disponíveis.

A exemplo da maior parte dos Evangelhos pseudepigráficos, o Evangelho dos Egípcios é herético.

Segundo ele, Jesus “mostrou aos discípulos que a mesma pessoa era Pai, Filho e Espírito Santo”.

Parece haver uma tendência ascética nos primórdios na seita que produziu a obra, o que reflete num diálogo entre Salomé (a mãe de Tiago e João) e Jesus: “Quando ela disse, ‘Fiz bem, então, em não gerar filhos?’ (como se gerar filhos não fosse certo), o Senhor lhe responde: Come de todas as plantas, mas não das amargas”

Além disso, esse Evangelho revela um desprezo gnóstico pelo corpo de Jesus.

 

Evangelho Dos Nazarenos (início do séc. 2): Esse Evangelho está intimamente associado em conteúdo e orientação aos Evangelhos Sinóticos.

Foi citado por Jerônimo como “O Evangelho usado pelos nazarenos”, ou com mais frequência, “O Evangelho Judaico”.

Segundo ele, o homem da mão ressequida era um pedreiro que disse: “Eu era pedreiro e ganhava [meu] sustento com [minhas] mãos; imploro-te Jesus, que restaures minha saúde para que não tenha, com ignomínia, de mendigar meu pão”.

Diz esse Evangelho (ao contrário de Mt 12.40) que Jesus não passou “três dias e três noites na sepultura”.

Afirma que milhares foram convertidos na cruz quando Jesus disse: “Pai, perdoa-lhes” (Lc 23,34). “Baseado nessa palavra do Senhor, milhares de judeus que estavam próximos da cruz creram”.

Explica por que João era conhecido pelo sumo sacerdote: “Com frequência, ele havia levado peixe ao palácio dos sumos sacerdotes Anás e Caifás”.

 

Evangelho De Filipe (séc. 2): Trata-se de um Evangelho gnóstico conhecido apenas por uma citação até que se encontrou um manuscrito dele no século 4 ou 5 na biblioteca gnóstica de Nag Hammadi, no Egito (1945).

Ele conta como se dá a assunção de uma alma através de esferas sucessivas de “poderes hostis (governantes planetários).

Contém alguns ditos não canônicos de Cristo; por exemplo: “Um dia, um discípulo perguntou ao Senhor acerca de algo mundano. Ele respondeu: Pergunta à tua mãe, e ela te dará três coisas estranhas”.

 

O Livro De Tomé, O Atleta. Um Evangelho gnóstico contendo um suposto diálogo de Jesus a Tomé ocorrido entre a ressurreição e a ascensão.

Esse livro traz condenação à carne, à feminilidade, à sexualidade e promessas de um descanso futuro no reino dos céus.

Inicia assim: “Palavras secretas ditas pelo Salvador a Judas Tomé, as quais escrevi, eu, Mateus, que as ouvi quando conversavam”.

 

Evangelho Segundo Matias: As Tradições De Matias. Essa é uma obra conhecida por Orígenes, Eusébio, Ambrósio e Jerônimo. As citações foram preservadas por Orígenes, Eusébio, Ambrósio e Jerônimo.

 

“Maravilhe-se com as coisas presentes”.

“Lute com a carne e a empregue mal, mas sem ceder a ela, de modo algum dando lugar à lascívia desenfreada. Fortaleça a alma pela fé e pelo conhecimento”.

Mais uma vez, a influência gnóstica é evidente.

 

Evangelho De Judas (Fim Do Séc. 2): Esse Evangelho era conhecido por Irineu e Epifânio (c.315-403), bispo de Salamina. Produto de uma seita gnóstica antinomiana, é possível que contivesse “uma história da paixão com o relato do ‘mistério da traição’ explicando que Judas, por meio de sua traição, possibilitou a salvação de toda a humanidade”.

 

 

Atos: Além dos Evangelhos pseudepigráficos há também numerosos relatos apócrifos de Atos dos Apóstolos:

Atos de João

Atos de Pedro

Contém a lenda da crucificação

Atos de Paulo

O apóstolo é descrito aqui como um homem baixo, calvo, de nariz avantajado e de pernas tortas.

Atos de André

Atos de Tomé

Os peseudoclementinos

Atos tardios dos Apóstolos

Continuação dos Atos Antigos dos Apóstolos

Atos posteriores de Outros Apóstolos

 

Cartas (“pseudepigráfica apostólicas”)

O Kerygma Petrou

O Kerygmata Petrou

Carta aos Laodicenses

Correspondências apócrifas entre Sêneca e Paulo

Carta de Pseudo-Tito

 

Apocalipses:

Literatura Apocalíptica No Cristianismo Antigo

Ascensão de Isaías

Apocalipse de Pedro

 

Profecia Apocalíptica Da Igreja Antiga

O Quinto e o Sexto Livros de Esdras

Sibilinos Cristãos

O Livro de Elchasai

 

Apocalipses Posteriores

Apocalipse de Paulo

Apocalipse de Tomé

 

Apócrifos – Livros Que São Aceitos Por Alguns:

Carta de Pseudo-Barnabé (c.70-79 d.C)

Foi citada como Escritura por Clemente de Alexandria e Orígenes.

Tem paralelos com a carta aos Hebreus em estilo, embora seja mais alegórica e mística do que Hebreus.

“Embora a antiguidade da carta esteja firmemente estabelecida, sua Apostolicidade é mais do que questionável” – Brooke Foss Westcott

 

Carta Aos Coríntios (c.96 d.C)

Dionísio de Corinto (160-180) afirma que essa carta de 1 Coríntios, de Clemente de Roma, foi lida publicamente em Corinto e em outros lugares.

“Hoje ninguém defenderia seu reconhecimento como Escritura e, no entanto, do ponto de vista histórico, a carta não é de modo algum sem importância [...] Ela nos apresenta referências explícitas de 1 Coríntios de Paulo e traz várias citações da Carta aos Hebreus, prova de que esses livros eram amplamente difundidos e foram reconhecidos antes do fim do século 1.” – Herbert T. Andrews

 

Antiga Homilia ou Segunda Carta De Clemente (c.120-140 d.C)

Esse livro era conhecido e usado no século 2 e é chamado também de 2 Coríntios de Clemente de Roma.

Não há evidências claras, porém, de que fosse considerado plenamente canônico, pelo menos em larga escala.

 

O Pastor De Hermas (c.115-140 d.C).

Esse é o mais popular de todos os livros não-canônicos do Novo Testamento.

É citado como Escritura inspirada por Irineu e Orígenes.

Eusébio reconheceu que o livro era “lido publicamente nas igrejas” e “considerado extremamente necessário para aqueles que precisam de instrução elementar”.

O Pastor tem sido chamado acertadamente de “O Peregrino” da igreja primitiva. A exemplo da grande alegoria de Bunyan, esse livro só perde em circulação para os livros canônicos na igreja antiga e em sua dramatização das verdades espirituais.

Em outras palavras, é como Eclesiástico (Sirácida) dos Apócrifos do Antigo Testamento, ético e devocional, mas não canônico.


Didaquê, ou Ensino Dos Doze (c.100-120 d.C)

O Didaquê gozava de grande estima na igreja antiga.

Clemente de Alexandria a citou como Escritura, e Atanásio a colocou entre os escritos sagrados juntamente com Judite e Tobias.

Esse livro é de grande importância do ponto de vista histórico, já que apresenta a opinião da igreja do início do século 2 sobre as verdades essenciais do cristianismo, fazendo uma ponte entre o Novo Testamento e a literatura patrística.

Contudo, o veredito da história coincide com o de Eusébio, que o colocou entre os “livros “rejeitados”

 

Apocalipse De Pedro (c.150)

Este é talvez o mais antigo dos apocalipses não canônicos do Novo Testamento, tendo desfrutado de grande popularidade na igreja antiga.

Sua descrição do céu é vívida, e as imagens do inferno são bizarras. Este é descrito como um lago de “lama flamejante” ou “um lago de piche e sangue de lama fervente”.

Suas imagens tiveram grande influência sobre a teologia medieval, tendo sido uma fonte de inspiração para o inferno de Dantes.

De acordo com o Fragmento Muratoriano, “havia quem não permitisse que o livro fosse lido nas igrejas”. De modo geral, a igreja tem concordado com esta conclusão.

 

Atos De Paulo E Thecla (170). Foi citado com frequência por Orígenes e consta do sumário do Bezae.

Despido de seus elementos místicos, trata-se da história da conversão e do testemunho de uma senhora de Icônio, Thecla, com base em Atos 14.1-7.

Não há dúvida de que o livro traz consigo uma tradição genuína.

Porém, para outros estudiosos há ali “muita ficção e bem pouca verdade”.

 

Carta Aos Laodicenses (séc. 4?)

Embora a Carta aos Laodicenses seja conhecida por Jerônimo, e tenha sido incluída em muitas Bíblias latinas trata-se de uma falsificação baseada na referência de Paulo em Colossenses 4.16.

Um livro com esse nome é mencionado no Fragmento Muratoriano, embora possa ser apenas outro nome para Efésios, no qual não consta a expressão “aos efésios” (em 1.1) em alguns manuscritos antigos.

“A carta é um centro de convergência de expressões paulinas entrelaçadas sem nenhuma conexão definitiva ou qualquer objeto claro” – J. B. Lightfoot.

Já em 787 d.C., o Concílio de Nicéia (II) fez advertência a seu respeito, classificando-a de “carta forjada”.

A carta reapareceu mais tarde, já na Reforma, nas Bíblias em alemão e até em inglês.

Não apresenta peculiaridades doutrinárias. É bastante inofensiva, se é que falsidade e estupidez combinadas podem ser consideradas inofensivas.

 

 

O Evangelho Segundo Os Hebreus (65-100 d.C)

Provavelmente, o Evangelho não canônico mais antigo, o Evangelho segundo os Hebreus sobreviveu apenas em poucas citações fragmentárias colhidas em vários pais da igreja.

De acordo com Jerônimo, alguns o chamavam de “o verdadeiro Mateus” embora isso pareça improvável com base em suas citações, que têm pouca relação com o Mateus canônico.

O livro nem sequer chegou até nós.

 

Carta De Policarpo Aos Filipenses (c.108 d.C). Em cero sentido, Policarpo é o mais importante dos pais apostólicos; foi discípulo do apóstolo João.

Ele não reivindica inspiração alguma para si, mas afirma que “sempre ensinou as coisas que aprendeu dos apóstolos, e que a igreja transmitiu, as quais são a única verdade”

Há muita pouca originalidade nessa carta, já que o conteúdo e o estilo são emprestado do Novo Testamento, e de modo especial, da Carta de Paulo aos Filipenses.

Embora não fosse considerado canônico, é um testemunho precioso da existência da maior parte do cânon neotestamentário, que ele entremeia ao seu escrito.

As setes cartas de Inácio (c. 110 d.C): Essas cartas indicam a existência de uma falsificação definida com os ensinos do Novo Testamento, mas tem um estilo marcadamente peculiar.

Seu ensino mostra uma forte crença na unidade da igreja visível com um governo centrado no bispado.

 

Avaliação Dos Apócrifos E Pseudepígrafos Do Novo Testamento. “A impressão predominantemente que deixam em nossa mente é de um sentimento profundo de superioridade incomensurável, de simplicidade e majestade inigualável dos escritos canônicos [...] A literatura extracanônica como um todo manifesta uma pobreza surpreendente. Ela é em boa parte lendária e traz em si a marca explícita da falsificação. Somente aqui e ali, em meio a uma massa de lixo sem valor, deparamos com uma joia de valor inestimável” – citado por Yamauchi.

Valor Dos Pseudepígrafos:

Eles contém, sem dúvida alguma, o âmago de algumas tradições corretas que, depois de uma cuidadosa “demitização”, podem proporcionar alguns fatos históricos complementares sobre a igreja antiga.

Refletem as tendências ascéticas, docéticas, gnósticas e a heresias do cristianismo antigo.

Mostram o desejo das pessoas de informações omitidas dos Evangelhos canônicos, como informações sobre a infância de Jesus e a vida dos apóstolos.

Manifestam uma tendência ilegítima de glorificar o cristianismo por intermédio de fraudes piedosas.

Demonstram um desejo doentio de encontrar apoio para interesses doutrinários e ensinos heréticos sob o disfarce de autoridade apostólica.

Revelam uma tentativa nociva de preencher as lacunas dos escritos canônicos.

Demonstram a tendência incurável  da curiosidade depravada ao produzir embelezamento heréticos e fantasiosos da verdade cristã. (Êx.: o culto a Maria).

 

Valor Dos Apócrifos Do Novo Testamento:

Apresentam a documentação mais antiga sobre alguns livros canônicos do Novo Testamento.

Revelam crenças existentes no âmbito da igreja subapostólica.

Formam uma ponte entre os escritos apostólicos do Novo Testamento e a literatura patrística dos séculos 3 e 4, portanto nos dão pistas dessa transição.

Dão indicações sobre o surgimento de ensinos não ortodoxos, tardios (ex.: a interpretação alegórica em Pseudo- Barnabé, ou a regeneração pelo batismo em O Pastor).

Contém muita coisa de valor histórico sobre as práticas e a políticas da igreja antiga.

 

Por Que Esses Livros Foram Rejeitados:

 Nenhum deles desfrutou de reconhecimento que não fosse temporário e local.

A maior parte deles nunca alcançou um reconhecimento superior a semicanônico, sendo anexados a vários manuscritos ou mencionados no índice das obras.

Nenhum cânon significativo ou concílio importante da igreja os inclui na categoria de livros inspirados do Novo Testamento.

A aceitação limitada da maior parte desses livros é decorrência do fato de terem se associado a referências nos livros canônicos (ex.: Laodicenses a Cl 4.16 dada a sua suposta autoria apostólica (ex.: Atos de Paulo). Esclarecidas essas questões resta pouca dúvida de que esses livros não eram canônicos.