O Livro De Juízes
Os Primeiros 300 Anos na Terra Prometida
Servos Escolhidos para Tempos Turbulentos
Os Períodos Alternados de Opressão e Livramento
A Narração de Grandes Proezas
Agora que se achava em sua terra, a nação hebraica após a morte de Josué, não tinha um governo central forte. Era uma confederação de doze tribos independentes, sem qualquer força unificadora, exceto o seu Deus. “Todo reino dividido contra si mesmo ficará deserto, e toda cidade, ou casa dividida contra si mesma, não subsistirá” (Mt 12.25).
A forma de governo nos dias dos Juízes diz-se comumente que era “Teocracia”, isto é, acredita-se que Deus era o governante direto da nação. Mas o povo não levava o seu Deus muito a sério e estava continuamente a lhe voltar às costas, caindo na idolatria. Dominada mais ou menos pela anarquia e acossada às vezes pela guerra civil, cercada de inimigos que de tempos em tempos procuravam exterminá-la, a nação hebraica teve desenvolvimento muito moroso e não se tornou grande de fato até que foi organizada em reino, nos dias de Samuel e Davi. “Deus não é de confusão” (1 Co 14.33) – “Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento sólido” (Hb 5.12).
TÍTULO: O livro recebe o título adequado de “Juízes”, pois se refere aos líderes singulares dados por Deus ao seu povo para preservá-los dos inimigos (2.16-19). O fracasso de Israel em expulsar os povos da terra, conforme Deus havia ordenado, trouxe as consequências por ele preditas (Js 1.27 – 2.4). O título hebraico significa “libertadores” ou “salvadores”, como também “juízes” (cf. Dt 16.18; 17.9; 19.17). As carreiras de doze juízes estão inclusas neste livro. Eli e Samuel, que aparecem em livro posterior, elevaram o número para catorze. O próprio Deus é o Juiz supremo (11.27)
AUTOR. Segundo a tradição judaica, o autor foi Samuel. Profeta-chave que viveu na época em que os acontecimentos registrados sucederam e pode ter pessoalmente feito a recapitulação daquele período (1 Sm 10.25)
DATA E OCASIÃO. A época foi antes de Davi tomar Jerusalém, por volta de 1004 a.C (2 Sm 5.6,7), pois os jebuseus ainda controlavam a cidade (Jz 1.21).
JUIZES VS. JOSUÉ |
|
Josué |
Juízes |
1. Vitória |
1. Derrota |
2. Liberdade |
2. Servidão |
3. Fé |
3. Descrença |
4. Progresso |
4. Declínio |
5. Visão espiritual |
5. Ênfase terrena. |
6. Fidelidade ao Senhor |
6. Apostasia do Senhor |
7. Alegria |
7. Pesar |
8. Força |
8. Fraqueza |
9. Unidade das tribos |
9. Desunião das tribos, Decadência. |
10. Organização |
10. Anarquia |
11. Pecado condenado |
11. Pecado menosprezado |
ESFERA DE AÇÃO. Abrange um período que vai da morte de Josué à magistratura de Samuel, cerca de 350 anos.
VERSÍCULO CHAVE
Da condição de Israel é 17.6: “Cada qual fazia o bem que lhe parecia”.
RAZÕES PARA O DECLÍNIO MORAL EM JUIZES
- A desobediência ao não expulsar os cananeus da terra (Jz 1.19,21, 35).
- A idolatria (2.12)
- Os casamentos com os ímpios cananeus (3.5-6)
- O fato de as pessoas não darem ouvidos aos juízes (2.17)
- O fato de terem se desviado de Deus depois da morte dos juízes (2.19)
HERÓIS DA FÉ: Baraque, Gideão e Sansão estão incluídos entre os heróis da fé, em Hb 11.32. Apesar de certas coisas estranhas na vida deles, tiveram fé em Deus.
MILAGRES NO LIVRO DOS JUÍZES: Aparições de anjos a Gideão e aos pais de Sansão. O sinal do orvalho no velo, Gideão e seus 300 desbaratam os midianitas. Sansão nascido de mãe estéril, e sua força sobre-humana. Tudo isto mostra que Deus, em Sua misericórdia, ainda considerava seu povo, apesar de ter caído nos abismos mais profundos.
TEMA. Josué é o livro de vitória; Juízes, o livro do fracasso. Salientam-se dois fatos: o completo fracasso de Israel e a persistente graça de Jeová. Os versículos 7-19 do capítulo 2 representam um resumo da história do livro. Depois de morte de Josué, a nova geração de israelitas fez uma aliança com as nações que a antiga geração havia deixado na terra, atitude que resultou em idolatria e imoralidade. Isso lhes trouxe o juízo de Deus na forma de servidão às mesmas nações que deviam ter subjugado. Quando clamaram a Deus, foi-lhes enviado um libertador; durante o tempo em que esse viveu, permaneciam fiéis a Deus, mas depois da sua morte tornaram a seguir os velhos pecados. Na escolha dos juízes, são notórias as palavras de Zacarias 4.6: “Não por força nem por poder, mas por meu Espírito”, e as palavras de Paulo em 1 Coríntios 12.12,14: “não muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos nobres são chamados”. Nos últimos capítulos do livro, o escritor nos dá uma descrição detalhada daqueles tempos de apostasia e anarquia e explica o fenômeno pelo fato de que “Naqueles dias não havia rei em Israel: cada qual fazia o que achava mais reto”. A história do livro pode resumir-se em quatro palavras: Pecado, Servidão, Arrependimento, Salvação.
Uma sequência de quatro partes repetidamente ocorreu nessa fase da história de Israel:
- Israel abandona a Deus.
- Deus pune, permitindo derrota e subjugação militares.
- Israel ora, clamando por libertação.
- Deus levanta “juízes” civis, ou às vezes líderes militares locais, que derrotam opressores.
SÍNTESE
O livro recorda sete apostasias, sete servidores, sete nações pagãs, e sete livramentos. O paralelo espiritual se encontra na história da igreja professa desde os apóstolos, no aparecimento de seitas e na perda da verdade sobre a unidade do corpo.
O livro descreve uma série de quedas do povo de Deus na idolatria, seguidas por invasões da Terra Prometida e servidões a seus inimigos.
Tendo como centro a personalidade dos juízes levantados como libertadores de Israel, a narrativa ressalta especialmente o lado obscuro do panorama.
Mensagens Espirituais:
- O fracasso humano, a misericórdia e a libertação divinas.
- O poder da oração, que nas emergências, se converte num verdadeiro clamor a Deus. Note no livro a repetida declaração de que Israel clamou ao Senhor.
Livro Companheiro – Gálatas: Compare a nova queda de Israel na idolatria com a reincidência da igreja da Galácia no cerimonialismo.
E hoje muitas igrejas estão aderindo a práticas judaizantes na liturgia cristã.
PERSONAGENS PRINCIPAIS
- Otniel – Primeiro juiz de Israel; vitorioso sobre um rei da Mesopotâmia muito poderoso; trouxe a Israel quarenta anos de paz (1.13-14; 3.7-11).
- Eúde – Segundo juiz de Israel. Trouxe a Israel 80 anos de paz ao ajudar na derrota dos moabitas (3.15-31).
- Débora – Profetisa, patriota e única juíza de Israel; sucedeu a Sangar como quarta juíza de Israel.
- Gideão – O Valente Poderoso. Quinto juiz de Israel; destruiu o exército midianita (6-8).
- Abimeleque – o filho mau de Gideão que se declarou rei sobre Israel; matou 69 de seus meios irmãos (8.31 – 9.57).
- Jefté – O Homem do Voto Precipitado. Juiz de Israel e guerreiro que derrotou os amonitas (11.1 – 12.7)
- Sansão – O Forte Fraco. Dedicado a Deus desde o seu nascimento como nazireu; foi também juiz de Israel enviado para derrotar os filisteus (13.24 – 16.31).
- Dalila – Amante de Sansão que o traiu com os filisteus por dinheiro (16. 4-21).
POR QUE ESTE LIVRO ESTÁ NA BÍBLIA?
Ora, é história simplesmente. Deus estabelecendo a nação com o fim de preparar o caminho para a vida de um Redentor da raça humana, e estava determinado a manter essa nação. Não obstante a idolatria, a fraqueza e a maldade do povo, Deus a manteve. Não fossem líderes tais como foram os juízes, e o auxílio miraculoso de Deus em tempos críticos, Israel teria sido exterminado.
A MENSAGEM DE JUÍZES
Este é um dos livros mais importante e um dos mais tristes livros da Bíblia. Aqui achamos a proliferação do pecado e a graça divina em constante ação; por isso o pensamento-chave tem de ser: “A divina misericórdia”.
Os juízes foram levantados por Deus para libertar o seu povo através de um período de 400 anos (1 Rs 6.1). O livro de Juízes é uma continuação da história de Josué.
Houve três tipos principais de juízes:
- O juiz-guerreiro: Como Gideão e Sansão.
- O juiz-sacerdote: Como Eli.
- O juiz-profeta: Como Samuel.
PRINCIPAIS IDÉIAS TEOLÓGICAS
O livro de Juízes apresenta-nos uma história teológica, e não apenas um relato sobre condições sociais e políticas:
- A Ira de Deus volta-se contra o pecado (Jz 2.11,14): Israel era abençoado quando obedecia a Yahweh, mas era castigado quando se rebelava. Israel só podia sobreviver cercado como estava essa nação por poderosos adversários, mediante a graça divina. Esforços de cooperação que rendiam resultados positivos tinham de estar alicerçados sobre a lealdade coletiva de Deus (Jz 5.8,9, 16-18).
- O Arrependimento produz a misericórdia divina (Jz 2.16). As opressões de povos estrangeiros serviam de meios para corrigir as condições de decadência moral, e isso tinha em vista o bem de Israel (Jz 3.1-4) “Porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe” (Hb 12.6).
- O homem é, verdadeiramente, um ser decadente. Após cada livramento descrito no livro de Juízes, Israel escorregava novamente para a idolatria, o que exigia ainda outro ato de juízo divino e outro libertador. Parece que essa lição nunca foi absorvida, ou, então, que tinham de ser aprendida de novo a cada geração (Jz 2.19). Uma sociedade individualista por excelência estava repleta de erros pessoais, e coletivos. “Naqueles dias não havia rei em Israel: cada qual fazia o que achava mais reto” (O que hoje recebe o nome de Relativismo Moral).
- Os sistemas centralizados no homem fracassam. Essa é a lição geral ensinada pelo livro de Juízes. Na história de Israel, aprende-se que a única esperança reside na espiritualidade. Os políticos mostram-se corruptos – (o Brasil vive sua maior história de corrupção política de todos os tempos), quando não antes, pelo menos depois que galgam a posição de autoridade.