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SAULO O PERSEGUIDOR

Saulo O Perseguidor

 

Texto Bíblico: Atos 8.1-3; 9.1-3

INTRODUÇÃO:

O zelo sem entendimento pode ser uma arma perigosíssima. Muitos crimes hediondos têm sido praticados em nome de Deus. Com Paulo não foi diferente. Ele foi um perseguidor implacável (Gl 1.13). Paulo perseguiu a Cristo (At 26.9), a religião de Cristo (At 22.4) e os seguidores de Cristo (At 26.11).

Paulo foi o mais severo perseguidor da igreja em seus albores. Seu testemunho pessoal: “a mim, que noutro tempo, era blasfemo, e perseguidor, e insolente” (1 Tm 1.13).

Ele feria os cristãos com a língua e com os punhos. Usava os instrumentos legais e a truculência física.

 

ELE CONSENTE NA MORTE DE ESTEVÃO (At 8.1)

A participação de Gamaliel. Por meio de Atos 5.33-42 chegamos a pensar que Gamaliel, convertera-se a Cristo. Longe disso, o ímpeto perseguidor de Saulo era alimentado pelas lições de seu mestre. Gamaliel não fazia parte do Sinédrio, quando do martírio de Estevão? E por que não o defendeu? Porque não havia a graça do novo nascimento em seu coração. Para os judeus incrédulos, Estêvão deveria ser algum desvairado. Assim rilhando os dentes de fúria, taparam os ouvidos, gritaram e arremeteram “unânimes” (Gamaliel no meio da turba) contra ele.

 

A participação de Saulo na morte de Estêvão (At 7.58; 8.1):

 

Um jovem chamado Saulo: Temos aí um momento decisivo da história. Embora o efeito imediato fosse fazer Saulo disparar na perseguição aos discípulos, podemos ficar certos de que as últimas palavras de Estêvão atingiram o alvo em cheio e se alojaram bem no fundo de sua natureza, preparando o caminho, dentro de sua consciência, para a visão da estrada de Damasco (26.14).

 

Um Jovem: A palavra neanias, “homem jovem”, era aplicada no século I aos indivíduos de cerca de 24 a 40 anos de idade.

 

Saulo tinha espírito intolerante e perseguidor, mas isso porque desconhecia a graça transformadora de Deus. Sua esperança residia na farisaísmo. Gamaliel dizia que o Messias seria um fariseu. Mas o Jesus pregado pelo “Caminho” não fora morto na cruz por ter protestado contra o ensino dos fariseus? Saulo não atirou uma pedra sequer contra Estêvão. Mas foi o autor intelectual do crime coletivo.

 

“E também Saulo consentiu na morte dele” (8.1)

 

 

“Consentir” (8.1):

Comentando sobre o verbo “consentir”, no grego, suneudokéo, em Atos 8.1, diz, A. T. Robertson: “Na sua forma simples, é a mesma palavra usada para o agrado do Pai no Filho (Mt 3.17).” Logo, Saulo participou do linchamento de Estêvão com agrado íntimo, no coração.

Consentiu no original, é uma construção com particípio, “que denota não um ato momentâneo... mas uma ação continuada ou habitual”. O verbo significa “concordar, agir de acordo com os assassinos (Lc 11.48; Rm 1.32; 1 Co 7.12-13) e não meramente consentir ou aprovar o assassinato”.

 

O verbo significa ainda: Concordar com, agradar-se, ter prazer. A construção perifrástica descreve uma condição, não um excitamento momentâneo.

 

Lembra as palavras de Jesus em João 16.2 “Vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus”. Serviço aqui, no original é latreia, denota adoração, também a ideia mais geral do serviço de Deus, ou seja, Saul achava que estava adorando a Deus, servindo a Deus, enquanto perseguia a igreja de Deus.

 

“na morte dele”: Morte não é a palavra grega habitual, THANATOS, mas ANAIRESIS (somente aqui no Novo Testamento), que significa “uma destruição, um homicídio”. A diferença de Thanatos (morte) é significativa. O jovem rabino Saulo estava dando a sua aprovação oficial ao assassinato de uma mártir inocente.

 

Estêvão execução ou linchamento? Além do mero fato de que o Sinédrio não podia impor a pena de morte, há muitos detalhes que indicam que o que aconteceu não foi a aplicação dessa penalidade como a lei judaica a entendia. O que Lucas descreve aqui é numa cena em que Estêvão, aparentemente em pé, é apedrejado por várias pessoas até que ele cai ajoelhado, e finalmente, morre. A maneira como se prescrevia a pena de morte era muito diferente disso, pois o acusado era atirado de um penhasco e, depois, uma pedra era atirada ou colocada sobre o seu peito, para que se ele não tivesse morrido da queda, morresse sufocado. O versículo 2 confirma que a morte de Estêvão não foi uma execução formal, mas um linchamento, pois era proibido enterrar ou lamentar qualquer um que tivesse sido apedrejado até a morte, mas Estêvão foi enterrado e pranteado.

 

Talvez seja relevante observar que entre os que planejaram contra Estêvão estavam pessoas da Cilícia (At 6.9). A capital da Cilícia era Tarso, de onde Saulo era proveniente. Por isso, é bem possível que a participação de Saulo em todo o processo tenha sido maior do que geralmente se admite.

 

De modo algum esqueceremos que o primeiro mártir não morre sob as pedradas do “mundo” ou sob a espada do Estado, e sim nas mãos de zelosos eclesiásticos. E o “devoto” Saulo “concordou com sua morte”.

 

A morte de Estevão: Açulou o “monstro” em Saulo. O instinto assassino dele contagiou os judeus de Jerusalém. (At 8.3). Todos os judeus cristãos, com exceção dos apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia e Samaria. O martírio de Estêvão, podemos pensar, pelo menos em parte, foi o preço pago pela alma de Saulo. E que alma! Depois de Jesus, era o maior homem de todos os tempos. Aquele que muito mais que qualquer outro, estabeleceu o cristianismo nos centros principais do mundo então conhecido, e alterou assim o curso da história. “Sem a oração de Estêvão, a Igreja não teria Paulo”

 

A morte de Estêvão foi o preço pago pela Igreja Primitiva para “despedaçar o invólucro nacional-judaico e abrir o caminho determinado por Deus para se tornar Igreja Universal”.

 

A morte de Estêvão marcou o ponto de partida para uma nova onda de provações, e foi o sinal da perseguição mais sangrenta da Igreja nascente. Isto, porém só serviu para acelerar a sua marcha.

 

 

ELE TENTA A DESTRUIÇÃO DA IGREJA (At 8.2-3).

Esta foi a primeira perseguição que a Igreja sofreu, na época, a Igreja provavelmente contava com apenas um ou dois anos de existência. A perseguição durou, provavelmente, uns poucos meses. Paulo era um líder desta perseguição. Tinha dois parentes que já eram crentes (Rm 16.7). Esta perseguição que começou com o apedrejamento de Estêvão, era furiosa e severa. Saulo respirando ameaças e morte (9.1), devastava a igreja, arrastando homens e mulheres para a prisão (8.3); açoitava os crentes (22.19,20); matando muitos deles (26.10.11); perseguindo sobremaneira a Igreja (Gl 1.13).

Os cristãos precisaram ser perseguidos e espalhados – especialmente os judeus estrangeiros e multiculturais (11.19,20) – para que a igreja começasse a fazer o que Jesus havia ordenado em 1.8. Como observou Tertuliano, teólogo norte-africano do 2 º século d.C: “O sangue dos mártires é a semente” do crescimento da igreja.

 

Paulo – o perseguidor:

Paulo é visto como um perseguidor:

Ele via a si mesmo como perseguidor:  ele dizia que não era digno de ser chamado apóstolo, uma vez que havia perseguido a igreja de Deus (1 Co 15.9) – “como sobremaneira perseguia eu a igreja de Deus” (Gl 1.13) – “Persegui este caminho até à morte” (At 22.4). Leia ainda Atos 26.9-11.

 

Cristo o viu como perseguidor: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 26.14).

 

O povo de Damasco o viu como perseguidor: Ananias morador de Damasco, disse ao Senhor acerca dele: “... Senhor, de muitos tenho ouvido a respeito desse homem, quantos males tem feito aos teus santos em Jerusalém; e para aqui trouxe autorização dos principais sacerdotes para prender a todos os que invocam o teu nome” (At 9.13,14).

 

Os discípulos de Jerusalém o viram como perseguidor: “tendo chegado a Jerusalém, procurou juntar-se aos discípulos; todos, porém o temiam, não acreditando que ele fosse discípulo” (At 9.26).

 

A metodologia de Paulo como perseguidor:

O método seguido foi muito hábil. Acicatou-se o fanatismo das massas por meio de calúnias, cantos impregnados de ódio, tudo no hábil intento de exasperar as paixões nacionalistas.

 

Ele perseguia os cristãos usando o recurso da lei. Paulo usava sua influência e seu transito no sinédrio para munir-se de cartas de autorização dos principais sacerdotes a fim de encerrar em prisões e matar os cristãos (At 26.10). Sua perseguição tinha um ar de legalidade e oficialidade. Ele representava o braço repressor da lei religiosa. Ele lançava mão de artifícios legais para impor aos discípulos de Cristo as mais duras sanções. É importante ressaltar que nem tudo que é legal é moral. Nem tudo que é lícito é conveniente. Nem tudo que a lei permite deve ser feito. Há muitos facínoras que se escondem atrás da lei para matar e oprimir os inocentes. Há muitos espertalhões que, despudoramente, beneficiam-se das filigranas da lei para se abastecerem e oprimirem o pobre. Há aqueles que fazem as leis, torcem-nas e as manipulam para alcançar seus propósitos escusos e inconfessos. Vejamos alguns textos bíblicos:

 

“As parteiras, porém temeram a Deus e não fizeram como o rei do Egito lhes dissera, antes conservaram os meninos com vida” (Êx 1.17)

 

“Então ordenou Faraó a todo o seu povo, dizendo: A Todos os filhos que nascerem lançareis no rio, mas a todas as filhas guardareis com vida” (Êx 1.22).

 

“Ai dos que decretam leis injustas, e dos escrivães que prescrevem opressão. Para desviarem os pobres do seu direito, e para arrebatarem o direito dos aflitos do meu povo; para despojarem as viúvas e roubarem os órfãos!” (Is 10.1,2)

 

Paulo perseguia os cristãos em seus redutos religiosos: Paulo perseguia os cristãos por todas as sinagogas, de Jerusalém até as cidades mais distantes (At 26.11). O lugar de comunhão transformou-se num palco de opressão. O abrigo da sinagoga tornou-se um corredor de perseguição.

 

Paulo empregava a tortura psicológica: A perseguição impetrada por essa fera selvagem e por esse boi bravo não consistia apenas em sanções legais contra os novos convertidos, ele os castigava psicologicamente: “Muitas vezes, os castiguei por todas as sinagogas, obrigando-os até a blasfemar...” (At 26.11).

 

Paulo empregava a tortura física:

Ele caça implacavelmente os crentes por todas as partes (At 9.2; 22.5; 26.9). Sua intenção não era apenas castigar os cristãos, mas jogar uma pá de cal no cristianismo.

Ele manietava os crentes (At 9.21; 22.5).

Ele encerrava os crentes em prisões (At 9.2; 22.4, 19).

Ele matava os crentes (At 26.10). Paulo era um carrasco, um homem truculento, selvagem, bárbaro, um monstro celerado em seu zelo ensandecido, um assassino insensível.

 

Saulo, mais enfurecido que inibido pela visão da morte de Estêvão, assolava a igreja (8.3).

 

Assolava (8.3): O verbo ELUMAÍNETO (somente aqui no Novo Testamento) é usado na Septuaginta para referir-se a um javali selvagem que devasta uma vinha “O javali da selva a devasta, e as feras do campo a devoram” (Sl 80.13). O verbo é usado em relação à injúria física, particularmente a causada por animais selvagens, indica uma ação contínua. Também é usado para descrever a devastação produzida por um exército.

 

O verbo grego Suron: Arrancar, tirar, rebocar, puxar violentamente: (8.3). Saulo estava arrastando furiosamente homens e mulheres à prisão.

 

As mulheres: Saulo também precisa aniquilar as mulheres crentes se planeja acabar com o cristianismo. Ele esta levando o extermínio dos “cristãos” terrivelmente a sério. As prisões em geral, eram lugares em que os acusados ficavam detidos até o julgamento. O fato de Saulo deter não só homens, mas também mulheres, indica que ele era mais zeloso que a maioria de seus contemporâneos acharia necessário (Gl 1.13, 14; Fp 3.6). As sanções em geral eram direcionadas a homens, mas nos casos mais severos também incluíam mulheres. Paulo se referiu três vezes à perseguição às mulheres, como um agravamento de sua crueldade (8.3; 9.2; 22.4). Ele é radical, ou seja, vai até a raiz, e não tem consideração. Esse detalhe deixa claro que desde o começo a mulher obteve no cristianismo uma importância bem diferente do que em Israel ou nas religiões gentílicas. Em toda a história do cristianismo, muitas vezes foram as mulheres que resistiram com a maior tenacidade em tempos de perseguição.

 

A perseguição de Saulo aos santos de Deus (At 9.1-2). Não é difícil imaginar o rancoroso Saulo a arrancar as pessoas de suas casas, com a ajuda dos soldados do sumo sacerdote, a fim de encarcerá-las.

 

Seu ódio pelos cristãos de Jerusalém (9.1) Em Atos 9.1 destaca-se o termo “respirando”. Esse é o símbolo da continuação da vida biológica. Em Saulo tudo era ódio, intolerância, destruição da vida. Ele via somente judeus “traindo e abandonando” o Templo, os costumes judaicos, as tradições dos antepassados, engrossando as fileiras cristãs. Resolvera destruir a Igreja. Esmagou e espalhou a Igreja de Jerusalém, e então empreendeu viagem para Damasco para procurar os crentes que para lá tinham fugido. O próprio respirar na vida de Paulo estava quente pela ira que ele sentia contra os crentes.

Enpneon (9.1) sig.: “respirar, inalarAmeaça e assassinato era a atmosfera que ele respirava e pela qual vivia era uma respiração forte, pela ameaça e pelo desejo assassino. Era como uma dragão a cuspir fogo.

 

Seu ódio pelos cristãos de Damasco (9.2): Saulo resolve perseguir crentes em Damasco. Quando a tarefa de limpar Jerusalém de judeus cristãos terminara, ao ouvir que em Damasco havia judeus cristãos, em seu zelo farisaico, Saulo continuava respirando “ameaças e morte contra os discípulos do Senhor” (9.1). E partiu para Damasco, ampliando assim alcance de sua perseguição.

Damasco é uma das cidades mais antigas do mundo que ainda existe na atualidade. Localizada cerca de 112 quilômetros do Mediterrâneo, sobre os montes Líbano e Anti-Líbano, é um oásis à beira do deserto. A principal rota de caravanas do Egito para a Mesopotâmia passava por ela, de modo que sempre foi um agitado centro comercial. Muitos judeus viviam ali nessa época. Uma seita judaica muito rígida, chamada “Os do concerto de Damasco”, é descrita no fragmento Zadoquita. Muitos estudiosos da atualidade relacionam este grupo com a comunidade de Qumram, que se tornou famosa por meio dos Rolos do Mar Morto.

 

O caminho de Jerusalém a Damasco: Era longo, aproximadamente 320 quilômetros para o norte, junto ao mar da Galiléia ou para o leste via Filadélfia (a moderna Amã). Percorrer a pé esta distância levaria pelo menos seis dias inteiros entre dois sábados. Saulo tinha tempo suficiente para pensar. Ele pode perfeitamente ter se lembrado do apedrejamento de Estêvão, cujo rosto brilhava como o de um anjo (6.15). Vira morrer Estêvão em toda a glória do martírio; vira-o expirar, com uma oração nos lábios, uma oração por ele.

 

Em Damasco: Havia, cerca de 10 mil judeus.

 

Saulo E Suas Cruzadas Para Exterminar O Cristianismo:

É possível que Saulo tenha sido uma figura pública proeminente (Gl 1.14), de família importante (At 22.3; 26.5), pois tinha acesso ao sumo sacerdote.

 

As “epístolas de Saulo, o Perseguidor” (9.2). Quão diferente eram das “Epístolas de Paulo, O Pregador”. A uma questão histórica: Não fica claro que autoridade o sumo sacerdote ou outro líder judeu tinha para emitir ordem de prisão contra pessoas de outras cidades. O mais provável é que Saulo não levasse realmente ordens de prisão, mas, antes, cartas de apresentação para os líderes da sinagoga de Damasco. Ele esperava que, com essas cartas, esses líderes tomariam providencias para prender os cristãos, pois, àquela altura, os cristãos eram judeus, portanto, estavam sujeitos às leis da própria comunidade deles, como, com frequência era o caso com várias minorias no Império Romano.

 

Quando o estado judeu conquistou a independência sob os asmoneus, tinha os romanos como padrinhos poderosos, que fizeram os países ao redor da Judéia saber disso, exigindo que a Judéia tivesse reconhecido os direitos e privilégios de um estado soberano, incluindo a extradição. Por isso, uma carta entregue por um embaixador romano a Ptolomeu VIII do Egito em 142 a.C., conclui com a exigência: “Se homens pestíferos tiverem escapado do seu território (a Judéia) para junto de vós, entregai-os aos sumo sacerdote Simão, para que os possa punir segundo a sua Lei (1 Macabeus 15.21). Esses direitos e privilégios foram confirmados para o povo judeu (apesar de não constituírem mais um estado soberano), e mais especificamente para o sumo sacerdote, por Júlio César em 47 a.C. Paulo em seu zelo de campanha, decidiu que o sumo sacerdote devia exercer seu direito de extradição dos fugitivos e conseguiu dele “cartas para as sinagogas de Damasco”, a fim de que, caso achasse alguns que eram do Caminho, assim homens como mulheres, os levasse presos para Jerusalém (At 9.2).

 

As cartas oficiais de apresentação, que autorizavam ou recomendavam o emissário, eram comuns; Josefo confirma que os agentes palestinos podiam receber ordens do Sinédrio de Jerusalém. As comunidades judaicas fora da Palestina respeitavam o sumo sacerdote, e as cartas deste autorizavam Saulo a realizar sua missão com a plena cooperação das sinagogas locais, note que é Saulo, e não o sumo sacerdote, quem inicia a ação aqui. Coube-lhe a ele o papel principal no processo contra os cristãos. Aconteceu isto a instigações secretas do Sinédrio, que pretendia contudo manter-se na sombra. A comunidade dessas sinagogas poderia cooperar com Saulo em sua missão de identificar os judeus convertidos ao cristianismo.

 

As autoridades seculares, evitavam entrar em questões pertinentes a querelas religiosas: “Mas se a questão é de palavras, e de nomes, e da lei que entre vós há, vede-o vós mesmo; porque eu não quero ser juiz dessas coisas” (At 18.15).

 

Os sumo sacerdotes podiam interferir em outros países, no caso de judeus cometerem algum “crime religioso”. Autorizado pelo sumo sacerdote, o coração cheio de ódio, Saulo, parte disposto a erradicar o “nome de Cristo”, que ameaçava o futuro do farisaísmo. E para tanto, não importavam os meios usados. Saulo era agora o carrasco oficial do Sinédrio.

 

O ardor fanático de Saulo contra os judeus cristãos tornou-se incontrolável. O trecho de Atos 26.9-12 é o testemunho pessoal de Paulo a respeito. A raiva de Saulo era inflamada ainda mais profundamente pelos impulsos da sua consciência pesada, que é a única explicação para a expressão “resistir ao aguilhão” (26.14). No entanto, ao converte-se, Paulo recordou seus crimes com vergonha e tristeza, conversões como essa não são produzidas num vácuo psicológico.

 

“alguns daquela seita” (9.2):

A expressão “o Caminho” é peculiar a Atos (19.9, 23; 22.4; 24.14, 22).

E talvez se originasse entre os judeus que viam os cristãos como os que haviam adotado um “Caminho” (ou modo de vida) distinto.

Todavia, logo a palavra “Caminho” seria usada pelos cristãos como meio adequado de descrevê-los como seguidores daquele que é “o Caminho” (Jo 14.6). Os sectários de Qumram também se referiam a si mesmos como “o caminho”.

Havia seguidores do “Caminho” em Damasco, de cuja presença não tomamos conhecimento senão mediante Lucas, o que nos lembra como Lucas é seletivo ao narrar sua história.

 

Paulo e as reminiscências da sua vida como perseguidor: Testificou Paulo: “Encerrei muitos dos santos nas prisões; e, contra estes dava o meu voto, quando os matavam” (At 26.10). E prossegue a ex-fera de Tarso: “Persegui este Caminho até à morte, prendendo e metendo em cárceres homens e mulheres” (At 22.4). Temos aí um retrato de Saulo. Muitos anos depois, Paulo continuava lembrando o seu passado, sem perdoar a si mesmo: “eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo, pois perseguir a igreja de Deus” (1 Co 15.9). E também: “... a mim que noutro tempo era blasfemo e perseguidor e insolente. Mas obtive misericórdia, pois o fiz na ignorância, na incredulidade” (1 Tm 1.13). E ainda em Gálatas 1.13: “Porque já ouviste qual foi antigamente a minha conduta no judaísmo, como sobremaneira perseguia a igreja de Deus”. O termo aqui é KATH HYPERBOLÊN, que é traduzido como “em excesso”, “com violência”, “com que arrebatamento”. Essas e outras traduções semelhantes sugerem ataques físicos que culminaram com ferimentos e até mesmo a morte.

 

CONCLUSÃO:

Para Paulo, um messias crucificado, era uma contradição de termos, uma blasfêmia descarada. Se sua morte por crucificação fora merecida ou resultara de uma injustiça não fazia diferença: o que importava é que ele fora crucificado e por isso se enquadrava no sentido da declaração de Deus em Deuteronômio 21.23: “O que for pendurado no madeiro é maldito de Deus”.  Anos mais tarde Paulo reconheceu que, ao pregar um Messias crucificado, estava pregando algo que era pedra de tropeço para os judeus (1 Co 1.23). Mas esta se tornaria sua principal pregação.

 

São diversos os caminhos para a verdade. A uns, Deus concede a luz sem lutas nem crises; outros, como Agostinho e Dantes só a alcançam através de terríveis catástrofes interiores.

 

O relato de Lucas certamente concorda com as indicações do próprio Paulo de que perseguiu a igreja além da medida, e serve de comentário à sua declaração de que essa atividade indicava seu zelo pela lei e as tradições dos antepassados.

 

Saulo de Tarso, era a última pessoa em Jerusalém que teríamos escolhido para ser o grande apóstolo dos gentios! Doravante, Paulo com dedicação sem par na História, serviu ao Cristo cuja Igreja procurara destruir.

 

Devemos nos lembrar de Saulo quando encontrarmos, em nossa própria época, amargos inimigos do cristianismo. Os inimigos mais fanáticos da fé, quando convertidos, provavelmente se tornarão os mais ardentes defensores de Cristo.