A Conversão De Saulo
Texto Bíblico: Atos 9.1-31
INTRODUÇÃO:
As experiências de Saulo e do estadista etíope se contrastam.
Ambos fizeram uma viagem.
Um era gentio, outro judeu.
O gentio vinha de Jerusalém, onde foi buscar bênçãos espirituais. Saulo ia de Jerusalém a Damasco em viagem de perseguição aos crentes.
O primeiro caso é exemplo do texto: “Buscai, e achareis”. O outro, do texto: “Fui achado daqueles que me não buscavam”.
O senhor foi gracioso a ambos viajantes.
Um recebeu a bênção que procurava; o outro, a que não buscava.
Ambos foram abençoados e continuaram a viver para Deus.
O maior e mais erudito fariseu de todos os tempos terminou caído aos pés do Nazareno. Foi notável, em todos os sentidos, o encontro do “boi recalcitrante” com o Dono de todas as coisas. O touro furioso, selvagem e indomável estava subjugado. Aquele que prendia estava preso; aquele que encerrava em prisão, estava dominado; aquele que se achava detentor de todo o poder para perseguir estava prostrado ao chão, impotente. O Senhor quebrou todas as suas resistências. Agostinho, que tinha grande experiência destas coisas, alude nestes termos ao duelo entre Paulo e a graça: “A graça deitou-o por terra e depois ergueu-o novamente” – “a graça é semelhante à lança de que nos fala a lenda: cura as feridas que vai abrindo”.
COMO FOI O ENCONTRO DE SAULO COM JESUS – O NAZARENO |
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Saulo respirando ódio |
Jesus com amor |
Saulo com as mãos manchadas de sangue |
Jesus com pureza |
Saulo com cartas de autorização |
Jesus com o poder da cruz |
Saulo em nome dos homens |
Jesus na autoridade do Senhor |
Saulo perseguindo |
Jesus perseguido |
Saulo campeão dos homens |
Jesus com a vitória celeste |
Saulo matando |
Jesus salvando |
Saulo destruindo |
Jesus edificando |
Saulo dentro do tempo |
Jesus desde a eternidade |
Saulo, o assassino |
Jesus, o Doador da Vida |
EXPLICAÇÕES SOBRE A CONVERSÃO DE SAULO.
Seria o resultado final de uma crise íntima, causada pelo senso de fracasso de Paulo ao querer guardar a Lei. Se Romanos 7.14-25 reflete esta experiência anterior à conversão do apóstolo, essa teoria tem algum mérito, embora fique longe de explicar adequadamente o que aconteceu. Esse Saulo é “convertido”! De que modo? O ser humano moderno tem a predileção de procurar por meditações psicológicas. Será que naquele tempo Paulo já sentia pessoalmente a aflição da lei, que mais tarde ele delineia tão clara e aguçada? Não! Paulo não foi um Matinho Lutero!
Outros atribuem a experiência de Paulo a um acesso de epilepsia, ou ao fato de ele cair num transe de êxtase.
Outros ainda tem argumentado que essa trama toda foi engendrada a partir de uma lenda.
A explicação do próprio Paulo, no entanto, foi que ele havia tido um encontro com o próprio Cristo vivo, o qual de certa maneira diferiu de suas subsequentes “visões e revelações” (2 Co 12.1), de modo que o apóstolo só conseguia explicá-lo como a última aparição de Cristo após sua ressurreição (1 Co 15.8). A experiência de Cristo como poder dentro do crente não era estranha a Paulo (Rm 8.10; Gl 2.20).
A VISÃO QUE SAULO TEM DO FILHO DE DEUS (9.3-6)
Fiel à causa judaica, Saulo concluía que os seguidores do “falso mestre” mereciam a morte. Matá-los, exterminá-los, esse era seu dever! E então, partiu para Damasco. Entre Jerusalém e Damasco havia três estradas: a do litoral, a do centro e a do leste. Provavelmente Saulo tomou esta última, a mais curta. Um estirão de mais de três dias de viagem a cavalo. Nesses três dias, passando por lugares ermos, Saulo teve tempo de meditar sobre os últimos acontecimentos em Jerusalém. Na sua mente trava-se renhida batalha. O “aguilhão” de Deus impelia-o em certa direção, mas ele recalcitrava, teimando em seguir na direção oposta. Com um turbilhão de pensamentos, esporeou o cavalo. A morte de Estêvão deixara em Saulo marcas profundas. O aguilhão de Deus o feria. O Senhor Jesus estava atuando sobre o coração do mais famoso dos fariseus. Saulo lembra um caçador, dominado pela paixão irreprimível da caça. Não era porém o único caçador naquela ocasião. Um outro, o Senhor, lhe ia na pista. Encontrava-se longe do torvelinho das grandes cidades, onde é mais fácil fugir a Deus. Não tinha junto de si ninguém com quem pudesse conversar. Seis dias de cavalgada solitária, seguidos de noites perdidas em meditação. Quer queira, quer não, vê-se forçado a comparecer diante do tribunal secreto da consciência, nos seus mais íntimos escaninhos.
A revelação (9.3-6). A hora do encontro foi “ao meio dia” (At 22.6; 26.10). Nessa hora o sol brilhava ao máximo, para que Saulo não tivesse dúvidas acerca da luz “mais brilhante” que o deixou cego por alguns dias.
O que ele vê (9.3): Ele vê uma luz que brilha e cega, vinda dos céus. Em Atos 26.13 diz Paulo: “vi uma luz no céu”. Mas em Atos 26.16 temos: “Por isso te apareci”, que é mais enfático. O verbo orao “aparecer” é o mesmo de 1 Coríntios 15.6, usado para garantir a aparição de Jesus após a ressurreição. Lucas 24.34 usa o mesmo termo acerca do aparecimento de Jesus. Em 1 Coríntios 9.1, Paulo afirma taxativamente: “Vi a Jesus”. No céu relampeja um súbito clarão de luz. Ressoa um entrechocar metálico, e Saulo cai de face no chão. O círculo das chamas fecha-se sobre ele. Na visão de fogo destaca-se uma face, a face de um “homem celestial” (1 Co 15.48). Toda a resistência se funde sob este olhar de fogo.
O que ele escuta (9.4-6):
Saulo, Saulo (v.4): Na literatura judaica, é comum a repetição do nome da pessoa nas histórias de chamado, o que dirige a atenção, em especial, para a revelação prestes a ser anunciada (Gn 22.11; 46.2; Êx 3.4; 1 Sm 3.10).
Jesus diz a ele: “Por que me persegues?” – Jesus falou com ele em língua hebraica (At 26.14) – a sagrada língua dos antepassados. Esta pergunta é como espada de dois gumes. Repreende os perseguidores e consola o povo de Deus. Expressa a contínua presença do Senhor com seus servos. É a identificação com os seus sofrimentos. Assim, o Cristo glorificado fica sendo, mais uma vez, o varão de dores quando qualquer membro de seu corpo sofre. No dia do Juízo, os perseguidores não arrependidos ouvirão: “Em verdade vos digo que, quando o fizeste a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”. Cristo apela a razão do homem. Deus quer levar todos a meditarem profundamente sobre a sua vida e o seu relacionamento com ele. A maioria das pessoas são impulsionadas por paixões cegas. Enquanto isso, seu juízo fica adormecido.
A luz reduziu a nada o orgulho, a ira, a prepotência, a cultura, a posição social, a bagagem doutrinária do fariseu Saulo. Saulo só se disporia a ouvir ao Senhor se primeiro fosse posto a revolver-se no pó da estrada.
Foi o momento de uma nova revelação: a ideia do misterioso corpo místico de Cristo, sofrendo nos que lhe pertencem.
Quem és, Senhor? (v.5): Quem era Jesus, na opinião de Saulo? Um impostor, um profeta falso, um traidor que ousou desafiar os fariseus em seu reduto de zelo pela Lei e pelas tradições dos anciãos. O judaísmo desenvolveu-se num sentido absolutamente errado, que havia de ter como consequência o abandono da religião dos profetas. A política mata a religião judaica, arrebatando-lhe a sua mais preciosa herança espiritual. Ninguém pensava na redenção por meio do sofrimento do Messias. A grande massa do povo judaico, não tinha qualquer preparação para aceitar a ideia do sofrimento propiciatório do Messias. Nem os apóstolos e os discípulos conseguiam entender a necessidade do sofrimento de Cristo (Mt 16.22; Mc 8.33; Lc 24.26). Atos 22.10 diz que Saulo acrescentou: “Que farei, Senhor?”. Jesus o envia a Damasco. O despertamento espiritual de Saulo foi evidenciado nas suas duas perguntas: “Quem és, Senhor?” e “Senhor, que queres que faça?”. Estas perguntas servem como teste do nosso crescimento na graça. Temos desejo de saber mais e mais acerca de Cristo? Nossa atitude é de obediência, buscando conhecer a sua vontade para nós? Mais tarde Paulo testificaria: “Por fim, apareceu-me também a mim, como ao fruto de um parto prematuro” (1 Co 15.8).
“duro é para ti recalcitar contra os aguilhões” (5): Nos dias de Paulo, empregavam-se bois para arar. Os bois, no começo, ficavam parados, dando coice para trás. Por meio de pontas metálicas agudas no madeiro do arado e de um aguilhão na mão do arador, infligia-se cruel sofrimento ao boi rebelde. O instrumento, por doloroso que seja, é necessário por causa da natureza obstinada do boi. Até que aprendesse a obedecer ao invés de dar coices. Contra que aguilhão Saulo dava pontapés? A resposta tem conexão com o martírio de Estêvão. Quais os aguilhões que Deus emprega para amansar a natureza rebeldes dos homens? Bons conselhos de amigos; sermões bem aplicáveis; aflições; a operação do Espírito Santo cobre a consciência.
Como os acompanhantes de Saulo, hoje, os não-convertidos nada compreendem sobre a vida espiritual: “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Co 2.14).
Os resultados (9.7-9):
Os companheiros de viagem de Saulo, o levam, cego para Damasco. Saulo estava caído por terra, regenerado, transformado, eternamente salvo. Naqueles instantes, Saulo passara pela profunda experiência mística a que, mais tarde, aludiu em 2 Coríntios 5.17. A autossuficiência de Paulo acaba no caminho de Damasco!
A entrada de Saulo em Damasco: o ex-fariseu foi guiado pela mão, até ao interior de Damasco, por homens insignificantes. Se eles tinham planejado entrar na cidade com espalhafato, tudo mudou: Em lugar de clamores, silêncio; em lugar de ódio, calma; em lugar de prepotência, humilhação; em lugar de vitória, derrota; em lugar de perseguição, tranquilidade para os campeões da cruz. Pretendia entrar na cidade como representante do Sinédrio e ser recebido com distinção e honra. No entanto, sua entrada foi bem diferente: ferido, abatido, trêmulo e já não ardia em fúria contra os crentes. Pelo contrário, estava disposto a aprender humildemente com o mais simples cristão.
A fera foi contida: “Antes de chegar Saulo a Damasco, chegaram as notícia; e o pequeno rebanho de Cristo, em oração, rogava que, se possível, o lobo que avançava para fazer depredações, fosse obstado em seus passos. Entretanto, mais e mais perto ele estanciava. Estava na derradeira etapa da jornada; e ao ver o lugar onde se encerravam suas vítimas, o apetite se lhe aguçara para a presa. Mas o Bom Pastor ouvira os tremendos brados do rebanho e saía a enfrentar por eles o inimigo” – James Stalker
“Cristo o capturou antes que ele pudesse capturar qualquer crente em Damasco” – Hernandes Dias Lopes
Ele não bebe nem come nos três dias seguintes. Por que Saulo ficou cego por três dias (At 9.9)? Ora, quem pode suportar a presença gloriosa de Jesus? Moisés, no Monte Sinai, não pôde vê-Lo; e nem os três apóstolos, por ocasião da transfiguração do Senhor. O apóstolo João (Ap 1.17), face à glória de Jesus caiu por terra. E Saulo, pelo espaço de três dias, além de ficar sem comer, ficou sem visão. Nada via desta terra. Somente a Jesus... Seus olhos foram vendados a fim de que os olhos espirituais se acostumassem à luz recebida.
Pregador eloquente, ensinador indômito, eminente teólogo, viajante incansável, fundador de inúmeras igrejas e escritor proficiente, ele está entre as três colunas da igreja primitiva, isto é, os apóstolos que mais se destacaram na pregação e na defesa do evangelho: Paulo, Pedro e Tiago. “Em toda a história do Cristianismo, nenhuma conversão a Cristo trouxe resultados tão importantes e fecundos para o mundo inteiro como a conversão de Saulo, o perseguidor, e mais tarde, o apóstolo Paulo.” Contudo, seria falso pensar que o encontro com Cristo em Damasco, foi a única fonte da teologia paulina. Paulo adquirira grandes conhecimentos nas suas disputas com Estêvão e os helenistas, nos interrogatórios aos perseguidos, na convivência posterior com as comunidades de Damasco e com o círculo dos Apóstolos em Jerusalém. O próprio Jesus lhe recomenda a tradição, quando o envia a Ananias, prometendo-lhe para mais tarde comunicações sobrenaturais (At 26.17).
A VISITA DO SERVO DE DEUS A SAULO (9.10-25)
Ananias encontra-se à disposição da vontade de Deus, mas certamente não se sentia ansioso por obedecer!
Eventos anteriores a esta visita (9.10-16). Deus aparece a um crente em Damasco chamado Ananias. Ananias é a forma grega do nome hebraico “Yahweh tem sido gracioso”. Atos 22.12 diz que Ananias era homem “piedoso conforme a lei”, alguém que “tinha bom testemunho de todos os judeus de Damasco”. Atos 9.10 chama-o de “discípulo”.
A revelação (9.10-12). Deus instrui Ananias a ir e ministrar a Saulo. Chamando-o pelo nome, Jesus ordenou a Ananias: “Dispõe-te, e vai à rua que se chama Direita e, na casa de Judas, procura por Saulo, apelidado de Tarso...” No Novo Testamento em Linguagem de Hoje, essas últimas palavras aparecem como “homem de Tarso”. A alcunha mostra-nos o porte de Paulo, a sua exuberância intelectual, o seu apego às tradições judaicas. O “homem de Tarso” estava “orando”. O fato de Saulo estar “orando” em vez de estar “caçando” deveria ter servido de estímulo a Ananias. Tivera início a sua vida de oração. Saulo havia trocado a febricitante atividade de campeão do farisaísmo pela vida doce e piedosa de oração. Seu espírito, desprendido da terra, elevava-se ao céu. Em silêncio com os homens, mas em conversa com Jesus. A oração era uma evidência da conversão de Saulo. O caráter de Saulo foi marcado, durante todo o seu ministério, pela incessante oração em prol dos convertidos. “A oração é o autógrafo do Espírito Santo sobre o coração renovado” disse Charles Spurgeon. A nossa conversão traz o selo da oração?
A relutância (9.13,14): Conhecendo o passado perverso de Saulo, Ananias está com medo de ir. Como uma frágil ovelha poderia confrontar o leão faminto? Ananias parece estar explicando suas dificuldades ao Senhor. Como se Deus não conhecesse muito bem a Saulo. Ananias, como muito de nós, achava difícil considerar um problema muito grande solucionado e agir com plena fé de que Deus já removera os obstáculos. Saulo parecia tão fora do alcance da graça divina! Os melhores servos de Deus, geralmente, eram pessoas que pareciam fora do alcance da religião. Se tivéssemos os olhos de Cristo! Nunca consideraríamos ninguém pecaminoso ou endurecido demais para a graça salvadora revelada em Jesus Cristo.
A segurança (9.15-16):
Vaso escolhido (v.15): SKEOUS EKLOGES sig. “um instrumento excelente”.
Termo Original – skeous: Originalmente significa “vaso”, mas também pode vir a designar todos os equipamentos contidos em uma casa, de forma coletiva: bens móveis, equipamentos domésticos, também a bagagem de um exército (Mt 12.29). Em Atos 27.17 é traduzido como “velas de um navio”.
Deus assegura a Ananias que Saulo é agora um crente. Assim Ananias tratou Saulo como “irmão”. Com que profunda emoção Saulo escuta pela primeira vez essa palavra, vindo da boca de um fiel do círculo sagrado! Estas palavras, saindo dos lábios de alguém a quem Saulo tinha planejado perseguir, devem ter trazido imenso conforto à sua alma. Ele já estava sendo amado por aqueles a quem odiara, Saulo, o terrível, senta-se como uma criança aos pés de Ananias, o homem contra quem talvez trouxesse no bolso uma ordem de prisão. Que belo tema para um pintor cristão. Quanto valeu a Saulo o toque amistoso da mão de Ananias? E a sua voz bondosa? Foi motivo de alegria para o antigo perseguidor ser chamado “irmão”. Desta forma, Saulo soube que os cristãos já lhe tinham perdoado. É só dessa maneira que a obra cristã pode ir adiante. As pessoas necessitam mais de nossa simpatia do que das críticas. Precisam de um caloroso aperto de mão, não de olhar frio,
A missão: Ananias, entregou a Saulo a mensagem de Jesus, revelando-lhe o trabalho que deveria realizar no Reino de Deus:
“O Deus de nossos pais de antemão te escolheu...” (At 22.14). Isso combina com Gl 1.15. Saulo era um homem predestinado pelo Senhor. O mundo é o campo em que Deus opera. E está cheio dos seus instrumentos. Cada ser humano pode ser transformado em instrumento de Deus. Dois fatos ocorrem nas conversões: o homem recebe um poderoso Salvador e Deus um servo dedicado. Podemos testificar que achamos um grande Salvador? E o Senhor? Pode testificar que, em nós, achou um servo fiel?
“para conheceres a sua vontade, ver o Justo e ouvir uma voz da sua própria boca” (At 22.14)
Saulo seria uma testemunha de Jesus, “das cousas que tens visto e ouvido” (At 22.15).
A missão da qual Saulo foi encarregado pelo Senhor, por meio de Ananias, incluía os gentios (At 9.15), bem como reis e os filhos de Israel.
“Eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome”: A alegria do Senhor sempre está conosco. Mas, em um mundo imperfeito como é este, não podemos imaginar que passaremos a vida sem dificuldades. Pedro disse: “Se, fazendo o bem, sóis afligidos, isso é agradável a Deus” (1 Pe 2.20).
Eventos durante a visita (9.17-19): Ananias impõe suas mãos sobre Saulo, com um resultado duplo:
Saulo é curado de sua cegueira (9.17a, 18a)
Saulo é cheio do Espírito Santo (9.17b, 18b-19). Podemos imaginar o receio daqueles irmãos por terem de conviver com Saulo. E muito ele deve ter aprendido daqueles irmãos humildes, mas experientes na caminhada cristã!
Lições da vida de Ananias:
Deus pode usar até o cristão mais desconhecido. Se não fosse pela conversão de Saulo, nunca teríamos ouvido falar de Ananias, no entanto, esse homem teve um papel importante na obra da Igreja. Por trás de muitos servos do Senhor de renome, há cristãos menos conhecidos que os influenciaram. Deus mantém seus registros e provid3nciará para que todo servo receba a devida recompensa. O importante não é a fama, mas sim a fidelidade (1 Co 4.1-5).
Não devemos jamais ter medo de obedecer à vontade de Deus. A princípio, Ananias discutiu com o Senhor e apresentou bons argumentos para não visitar Saulo. Mas o Senhor estava no controle de tudo, e Ananias obedeceu pela fé,
A obra de Deus é sempre equilibrada. Deus contrabalançou um grande milagre público com um encontro discreto na casa de Judas. A luz ofuscante e a voz do céu foram acontecimentos dramáticos, mas a visita de Ananias foi um tanto comum. A mão de Deus empurrou Saulo de sua posição, mas Deus usou a mão de um homem para oferecer a Saulo, aquilo que ele mais precisava. Deus lhe falou do céu, mas também lhe falou através de um discípulo obediente que lhe transmitiu a mensagem. Os acontecimentos “comuns” são parte tão essencial do milagre quanto os extraordinários.
Não devemos jamais subestimar o valor de uma pessoa levada a Cristo. Pedro ministrou a milhares de pessoas em Jerusalém, e Filipe teve uma grandiosa colheita entre os samaritanos, mas Ananias foi enviado para falar a apenas um homem. Mas um homem e tanto! Saulo de Tarso tornou-se o apóstolo Paulo, cuja vida e ministério influenciaram, desde então povos e nações inteiras. Até mesmos os historiadores seculares reconhecem que Paulo é uma das figuras críticas da história mundial. Cabe a nós levar homens e mulheres a Cristo; cabe a Deus usá-los para sua glória. Toda pessoa é importante para Deus.
Eventos seguintes à visita (9.20-25).
O evangelismo de Saulo em Damasco (9.20-22). Ele prega sobre Cristo em todas as sinagogas. Saulo saltou por cima dos muros da congregação de crentes e foi anunciar Cristo nas sinagogas (9.21). A posição de Saulo pressupõe que ele já era um especialista das Escrituras. No entanto, ele volta essa erudição contra sua missão anterior.
Sunbibazon gr (v.22). sig.: O verbo significa reunir, ou agrupar, portanto, comparar e examinar, como evidência, e, assim, provar.
A fuga de Saulo de Damasco (9.23-25). Os opositores de Saulo, obtiveram o apoio do rei Aretas (2 Co 11.32), que deliberou tirar a vida de Saulo. Ao ouvir da trama contra ele, Saulo parte para Jerusalém.
Ameaçado de morte, os irmãos enviam Saulo a Tarso, onde ficou por seis ou oito anos (Gl 1.21).
Entre Atos 9. 19 e 23 cabe o trecho de Gálatas 1.18.
Parti para Arábia:
O termo “Arábia” era então um conceito muito lato: aplicava-se a toda península arábica até Damasco, e mesmo até o Eufrates. O núcleo, porém, era formado pelo reino dos Nabateanos, a Arábia Pétrea, a Arábia pedregosa, com as suas encruzilhadas de caravanas. O deserto da Arábia, era um autêntico deserto.
Saulo na Arábia: Após alguns dias em Damasco, Saulo partiu para a Arábia (Gl 1.17). A derrubada completa do arcabouço intelectual anterior e a construção de uma nova “teologia” se processa somente como consequência da conversão. Quando ele descobriu que precisava estudar algumas das implicações teológicas da sua mensagem, foi para Arábia, para um período de meditação e oração. Ora, a Arábia abrange mais de três milhões de quilômetros quadrados. Alguns opinião que ele estivera no Sinai. Saulo passou três anos nessa região. Que teria ele feito durante esses anos de obscuridade? Trabalho com as próprias mãos, para sustentar-se. Mas foi ali que o Espírito de Cristo, com infinito vagar, preparou Seu mensageiro escolhido para desbravar o mundo com o evangelho. Paulo não foi para Jerusalém, onde estavam os apóstolos, mas rumou para as regiões da Arábia, onde permaneceu três anos, fazendo um seminário intensivo com Jesus (Gl 1.11,12). Cumpria-lhe rever todo o curso da verdade revelada no Antigo Testamento, à luz da nova revelação. Apraz-nos pensar que as gloriosas verdades mencionadas por ele em 2 Coríntios 12, viveu-as durante sua estada ali. Lucas omite essa parte da vida de Paulo. Provavelmente ela deveria ser intercalada entre os versículos 22 e 23 de Atos 9. Se não tivéssemos a passagem de Gálatas 1.17... nada saberíamos desses três anos ou menos na Arábia, uma lição para aqueles que deduzem grandes influencias do silêncio. Vencidos este período, ele retorna a Damasco (Gl 1.17; At 9.23)
Aqui, Paulo sentia-se protegido contra os emissários judeus, e talvez fosse a razão por que para lá se dirigiu. O deserto foi sempre o ponto preferido dos grandes profetas e dos grandes pregadores, como Gregório de Nazianzeno e João Crisóstomo.
Nesta região, Paulo não carecia do corvo de Elias. Era-lhe fácil ganhar a vida. “Pois aqui – escrevia um conhecedor da terra – floresce muito particularmente o ofício de tecelão de pano de tenda. Este retiro de três anos foi o tempo mais feliz, de mais doce plenitude de toda a sua vida.
Deserto: O simbolismo do deserto na Bíblia (Is 27.10; 33.9) É lugar de provação (Os filhos de Israel). É lugar de provisão (Os filhos de Israel e Elias). Oséias percebeu o amor de Deus expresso em favor de seu povo, no deserto (Os 13.5); Débora entoou louvores ao deus do Sinai e do deserto (Jz 5.4,5). Portanto, a graça de Deus permeia até mesmo ali. As pessoas que vivem no deserto ou nas proximidades dos mesmos, dão um valor especial a esses lugares, em seus afetos. É lugar de preparação (João Batista e Saulo). É lugar de tentação (Jesus). Supunha-se que os desertos eram os lugares de habitação apropriados para os espíritos malignos – os lugares onde eles manifestam mais a sua má influência (Mt 12.43; Lc 11.24). É lugar de solidão. É lugar de misterioso encanto: Há algo de encantador nos minúsculos riachos que conseguem sobreviver. Há algo de misterioso nas ravinas e penhascos do deserto, bem como nas florestas virgens, com muitas feras e pouquíssimos seres humanos. Há algo de místico nos lugares desérticos e despovoados do planeta, quando o sol se põe sobre as vastidões arenosas ou recobertas de florestas virgens.
Por que ele foi para a Arábia? Provavelmente porque Deus o instruiu a passar algum tempo sozinho, de modo que pudesse ensinar sua Palavra a Saulo. Muitas coisas precisavam ser esclarecidas na mente de Saulo antes que pudesse ministrar de modo eficaz como apóstolo de Jesus Cristo. Talvez tenha vindo dessa ocasião sua experiência com “perigos de salteadores” e “perigos no deserto” (2 Co 11.26). É possível que também tenha evangelizado enquanto estava na Arábia, pois, quando voltou a Damasco, já era um homem marcado para morrer.
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Às vezes as casas eram construídas como que embutidas no muro da cidade. O método da fuga de Saulo tem precedentes bíblicos (Js 2.15; 1 Sm 19.12).
Segundo a tradição pré-arábica, do período romano, a casa de Ananias ficava no muro da cidade. Se esta tradição estiver correta, esta casa seria a de Ananias.
O HOMEM DE DEUS LEGITIMA SAULO
Em Jerusalém, outrora quartel-general de suas ferozes perseguições, Saulo procurou os discípulos. Mas estes o evitam, “temendo” ser ele um perseguidor disfarçado de amigo. E foi Barnabé quem apresentou Saulo aos apóstolos (9.27).
O temor: Essa rejeição, possivelmente foi mais um golpe que Paulo sofreu ainda nos albores da sua caminhada (9.26).
A pessoa (9.26,27). O altamente respeitado Barnabé assegura aos temerosos crentes de Jerusalém da sinceridade de Saulo. Barnabé, pois, foi o grande amigo em uma hora incerta. Paulo ajunta que passou quinze dias com Pedro (Gl 1.18). Declara Paulo que neste período: “... nada me acrescentaram” (Gl 2.6).
A pregação (9.28). Saulo prega o Evangelho em Jerusalém como fez em Damasco. De agente da morte a pregador do Evangelho.
“Paulo pregou a tempo e fora de tempo. Em prisão e em liberdade. Com saúde ou doente. Pregou nos lares, nas sinagogas, no templo, nas ruas, nas praças, na praia, no navio, nos salões governamentais, nas escolas. Paulo pregou com senso de urgência, com lágrimas, no poder do Espírito santo” – Hernandes Dias Lopes
A trama (9.29-31). Depois que um atentado é feito à vida de Saulo, ele parte para sua cidade natal, Tarso. Não se sabe quantos anos teria ficado em Tarso. Os estudiosos pensam entre quatro a seis anos, Ramsay refere-se a esses como sendo “dez anos de obras tranquilas no campo da sinagoga e da sua influência”. E que teria feito ele durante esse tempo? O trecho de Gálatas 1.21 responde que ele esteve nas regiões da Síria e da Cilícia. Nessas regiões, não o conheciam desde antes. Mas ao ouvi-lo, os crentes diziam: “Aquele que antes nos perseguia, agora prega a fé que outrora procurava destruir” (Gl 1.23). Não é demais imaginar que Saulo evangelizou seus parentes, incluindo seus pais. Como teriam recebido a mensagem do ex-perseguidor dos cristãos?
Tarso: Era uma cidade que possuía todos os elementos necessário para torná-la o grande centro comercial que de fato veio a ser: excelente porto, uma região interiorana rica, e uma posição de comando na extremidade sul da rota comercial através dos montes do Touro, dos portões Cilicianos, até à Capadócia. Licaônia e interior da Ásia Menor em geral.
Tarso se tornara uma das três cidades universitárias do mundo mediterrâneo. Era especialmente importante como centro da filosofia estóica. Portanto, Paulo deve ter ficado em débito para com aquela escola de pensamento em Tarso, pela sua familiaridade
Em vez de Deus mudar os oponentes de Paulo, é Paulo que tem de mudar e sair da cidade. Paulo não quer sair da igreja de Jerusalém. Ele chega a discutir com Deus. Pensa que Deus está cometendo um erro estratégico ao tirá-lo desse campo. Ele pensa ser o homem certo para essa empreitada. Mas Deus não cede; é Paulo que tem que arrumar as malas e ir embora (At 22.19-21). Como Paulo reluta em sair, ele é retirado pelos irmãos (At 9.30). O jovem Paulo sofre mais um golpe em seu orgulho. Quando ele arruma as malas e vai embora de Jerusalém, imediatamente os problemas da igreja se resolvem (At 9.31). O registro a seguir afirma que as igrejas na Palestina estavam sendo edificadas – literalmente construídas – e se multiplicavam. Como Saulo tinha partido, os problemas com os judeus helenistas cessaram e a igreja desfrutou de um período de paz e prosperidade. Talvez nada mais fira tanto o orgulho de um pastor do que sair da igreja e ver que após sua saída todos os problemas dela se resolvem.
Paulo no ostracismo: Paulo saiu de Jerusalém e foi para Tarso, sua cidade natal. E ali ficou não pouco tempo no anonimato, num completo ostracismo. Nada sabemos desse longo período de sua vida. A única coisa que sabemos é que durante esses anos ele pregou na “Síria e na Cilícia” (Gl 1.21). Também teriam sido anos de estudos, centralizados na língua e na cultura gregas. Aquele que estava com a mente povoada de muitos sonhos, e nutrindo na alma o ideal de pregar a Palavra em Jerusalém, está agora, sozinho, esquecido, fora do palco, longe das luzes da ribalta. É importante saber que Deus ainda está tratando com ele. Vida com Deus precede trabalho para Deus. A nossa suficiência vem de Deus. Tarso não foi um acidente na vida de Paulo, mas uma escola de treinamento. O deserto é a escola superior do Espírito Santo, onde Deus treina seus líderes mais importantes. O deserto não é um acidente em nossa vida, mas uma agenda de Deus. “Quem algum dia tiver de anunciar uma grande mensagem, cala-se primeiro durante muito tempo. Quem algum dia tiver de produzir um relâmpago, deve primeiro ser nuvem durante muito tempo” – Nietzsche
De receptor de cartas para prender e matar a escritor de cartas para abençoar e salvar. Como perseguidor e exterminador dos cristãos, Paulo pedia cartas para prender, amarrar e matar os crentes (At 9.2,14). Mas depois de convertido, ele escreve cartas para abençoar. Paulo trocou as cartas de condenação, pelas cartas de salvação. Paulo foi o maior escritor do Novo Testamento. Ele escreveu treze cartas. Suas cartas são mais conhecidas do que qualquer obra jamais escrita na história da humanidade. Suas cartas têm sido alimento diário para milhões de crentes em todos os tempos. Essas cartas são luzeiros que brilham; são pão que alimenta; são água que dessedenta; são verdades inspiradas pelo Espírito Santo que ensinam, exortam e levam pessoas a Cristo todos os dias!
CONCLUSÃO:
O Senhor estava dando os retoques naquele que em breve desfraldaria o glorioso pavilhão de Cristo pelo mundo todo. Saulo preparava-se em oração e no estudo das Escrituras, aguardando a clarinada dos céus que o convocaria para maiores batalhas.
Paulo de devastador da igreja passou a ser plantador de igrejas. O Senhor mesmo levantou Paulo como o maior evangelista, o maior missionário, o maior pastor, o maior pregador, o maior teólogo e o maior plantador de igrejas da história do cristianismo. Ele plantou igrejas na região da Galácia, nas províncias da Macedônia, Acaia e Ásia Menor. Não apenas plantou igrejas, mas pastoreou-as com intenso zelo, com profundo amor e com grave senso de responsabilidade (2 Co 11.28).
“O cego que foi conduzido para Damasco levava dentro de si o potencial de um Saulo generoso e liberal. O fariseu intolerante percorria qualquer distância para destruir a Igreja. O cristão tolerante iria agora a qualquer parte para defende-la e escondê-la” – j. Oswaldo Sanders
Apesar de toda desenvoltura, Paulo não alcança os resultados esperados. Em vez de frutos do seu trabalho, enfrenta mais perseguição (9.28,29). Foi rejeitado pelo povo da cidade, e dispensado pelo próprio Deus: “Apressa-te e sai logo de Jerusalém, porque não receberão o teu testemunho a meu respeito” (At 22.17,18).
A conversão de Paulo não resultou de fatores históricos ou psicológicos. Foi o mistério impenetrável da graça e da liberdade. Quem lê as suas cartas, documentos vivos da alma de um homem, e únicos na literatura mundial, em todas as páginas ouve o mesmo grito: “Ele usou de misericórdia para comigo” (1 Tm 1.13).