LAODICÉIA – A IGREJA MORNA
Texto Bíblico: Apocalipse 3.14-22
INTRODUÇÃO
Nem era fria nem quente a igreja rejeitada por Deus. Os crentes achavam-se ricos, tinham programas, atividades, beneficência, de acordo com seu modo de pensar. Deus estava do lado de fora. A mensagem à igreja em Laodicéia é a última às sete igrejas da Ásia. Das sete epístolas, é a mais triste, sendo o contrário da carta a Filadélfia. Enquanto Filadélfia não tem coisa alguma de censura, aquela não tem qualquer coisa de aprovação. Nada prestava naquela igreja.
O DESTINATÁRIO:
A Cidade De Laodicéia:
O Nome: Laodicéia recebeu o nome de Laodice, esposa de Antíoco II, monarca sírio. Laodicéia Significa “direitos do povo”, “governo pelo povo” ou “democracia” isto é, direito do povo mandar; direitos humanos. Não somente é uma igreja em Laodicéia, mas uma igreja de Laodicéia. Era a igreja deles e não do Senhor. O nome de Laodicéia indica que a igreja aí era governada por decisões, juízos e costumes do povo em vez de o ser diretamente pela Palavra de Deus.
Aspectos Históricos:
Laodicéia era uma cidade sobre o rio Lico, famosa pelos amplos muros e, como Roma, edificada sobre sete montes.
A cidade foi destruída por um terremoto em 62 d.C. e reconstruída por seu próprio povo, o qual se orgulhava de o fazer sem pedir auxílio do estado.
Visto que estava localizada na junção de três estradas importantes, tornou-se uma grande cidade comercial e administrativa.
Ela também era conhecida pela fabricação de roupas e tapetes de uma lã preta, brilhante e macia. As riquezas da cidade, provenientes da excelência de suas lãs, produziu um ambiente que se refletia em apatia espiritual na igreja.
A cidade era um grande centro bancário, notável por suas vestes pretas e a existência de uma grande e famosa escola de medicina, cuja fama advinha de seu talco usado para a cura da oftalmia.
Entretanto, a fama e o esplendor de Laodicéia eram fundados no pó, pois a cidade hoje é cenário de ruínas e desolação.
A Igreja De Laodicéia:
É a igreja morna.
Representação Histórica: Representa a igreja dos dias finais desta dispensação. Profeticamente, essa igreja é contemporânea da anterior – Filadélfia.
Parece que o apóstolo Paulo se esforçou para introduzir o Evangelho em Laodicéia, de onde escreveu uma epístola, acerca da qual se refere em Cl 4.16.
Na igreja de Laodicéia a opinião do povo substitui a Palavra de Deus. A autoridade de Cristo sobre a igreja tinha sido colocada de lado pelo laicato de um rol de membros não regenerados, sugerindo o estado da igreja professante antes do arrebatamento.
Laodicéia representa a apostasia nos últimos dias. Essa apostasia começou com a alta crítica germânica da Bíblia no décimo nono século e alcançou o estágio alarmante representado pela posição da “morte de Deus” reivindicada por teólogos em 1965.
O CONSELHEIRO
Para a igreja morna, Laodicéia, Cristo é a Fiel e verdadeira Testemunha, tirando da igreja a máscara da satisfação em si mesma.
Ele é o “Amém”: Um título tão expressivo de sua glória quanto “a verdade”. Isso pode ser um eco de Isaías 65.16, em que encontramos no hebraico: “o Deus do Amém” (ou “o Deus da Verdade”). No Evangelho de João, é traduzido como “na verdade” (sempre duplo) na frase “na verdade vos digo”.
“O princípio da criação de Deus”: Mestre heréticos têm se aproveitado dessa frase como prova de que Cristo não era eterno. Mas em Colossenses, em que Ele é designado “o primogênito da criação” (1.15), é mencionado logo em seguida: “porque nele foram criadas todas as coisas”. Ele é antes de todas as coisas” (1.16-17). Além disso, em seu Evangelho, João diz acerca do Logos: “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1.3). A frase aqui deve ser interpretada à luz dessas outras passagens. Ela significa “a origem (ou “fonte original”) da criação de Deus. Indica a mensagem cheia de autoridade de Cristo, que é interpretada em Colossenses 1.15.
A REPREENSÃO
É um fato impressionante que não se diga nada aqui dos nicolaítas ou qualquer outro grupo herético. Pelo que tudo indica, a igreja era ortodoxa. Mas era uma ortodoxia morta. O que estava errado com a igreja de Laodicéia não era um problema de cabeça, mas um problema de coração. Isso era muito mais sério. Pela descrição fiel da igreja de Laodicéia pelo Senhor, nos versículos 15-18, vemos que ela é mais uma maldição para o mundo, do que uma bênção. O estado desta igreja era completamente desfavorável, de sorte que não houve elogio algum de nenhuma virtude. Quão trágico é quando não existem boas obras que recomendem a igreja!
“não és frio” (v.15): A palavra grega frio “psychros” é usada somente nos versículos 15 e 16 e em Mateus 10.42 – “um copo de água fria”.
“quente” (v.15): É zestos (somente nos vv. 15-16 no Novo Testamento). Essa palavra significa “quente a ponto de ferver”. A igreja não era nem friamente indiferente nem fervorosa no espírito (cf. Rm 12.11).
Mornidão: É claro que os laodicenses tinham muitas boas coisas para dizerem a respeito de si mesmo. Eram autoconfiantes, orgulhosos e satisfeitos. Mas para o seu Senhor eram espiritualmente mornos e, portanto, nauseantes.
“Vomitar-te-ei” (v.16): Perversão tal de sua igreja era desprezível para Cristo. As palavras gregas para morno e vomitar (esta é emeo no grego) são encontradas somente aqui no Novo Testamento.
“Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido” (17): “Obtive minha riqueza com meu próprio esforço” – “rico sou”: expressa auto-satisfação, “estou enriquecido”: orgulho. A igreja de Laodicéia não estava sobrecarregada com dívidas. Tinha riquezas materiais abundantes; entretanto, Cristo declarou ser ela coitada e falida. Infeliz é o crente que se acha satisfeito e seguro sem nada lhe faltar. É-nos impossível receber o verdadeiro espírito de oração, sem primeiro sentir profundamente o que carecemos.
“Não preciso de coisa alguma” (3.17): Ora, o crente fiel nunca está satisfeito no sentido de não precisar de mais poder, mais graça, mais humildade, mais sabedoria. Ele sempre quer mais. Mais de Deus, de seu amor, do seu Espírito, da Sua Palavra, da sua graça, da sua comunhão, da sua santidade etc. É o princípio da queda quando nos sentimos satisfeitos e ficamos inativos quanto à busca da face do Senhor. O verdadeiro crente clama como o Salmista: “como suspira a corça pelas correntes das águas, assim por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e me verei perante a face do Senhor?” (Sl 42.1,2). Jesus disse: “Bem-aventurado os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos” (Mt 5.6). Tem o leitor, agora, este tipo de sede e de fome espiritual? Isso deve ser normal a todo crente novamente nascido e renovado no Espírito (1 Pe 2.2)
“Não sabes que és...desgraçado” (v17): É encontrado somente aqui e em Romanos 7.24 (no texto grego).
“Não sabes que és... miserável” (v.17): Ocorre somente aqui e em 1 Coríntios 15.19: “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens”.
“Não sabes que és... pobre (17): Isso é uma descrição exata da igreja moderna, que se vangloria no número de seus membros, orgulha-se dos recursos financeiros e influência dos seus membros entre o povo. Os crentes em Laodicéia não sabiam que eram pobres; não perceberam que suas almas estavam emagrecendo apesar de cercados de abundância. Esqueceram-se de que estavam endividados a Deus e não possuíam coisa alguma para Lhe pagar. Eram pobres em um centro financeiro opulento.
“Não sabes que és... cego” (v.17): Os membros da igreja em Laodicéia não compreenderam que Deus ia vomitá-los da sua boca. Não perceberam a Cristo crucificado. Não viram a eternidade, apesar de estarem constantemente perante a entrada. A igreja é verdadeiramente cega quando fita pedras, torres, órgãos, bancadas, cômodas, etc., sem enxergar as glórias dos céus e nem o suplício do inferno. Eram cegos em uma comunidade que tinha excelente escola de medicina.
“Não sabes que és... nu” (v.17): Estavam nus, não trajando vestes de justificação, nem de santificação. Todo o aparato e luxo no vestir ao corpo, não vale coisa alguma. Somente o incorruptível traje do espírito (1 Pe 3.4) esconde a nudez da alma. Estavam nus em um lugar famoso pela fabricação de roupas feitas de uma lã de alta qualidade.
O CONSELHO
“Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo” (v.18): Mas como podem os pobres comprar ouro? Justamente como podem comprar de Cristo, vinho e leite, sem dinheiro e sem preço (Is 55.1).
Essa é a única maneira de comprar de Deus.
“De mim” é enfático. Essas coisas necessárias podem ser adquiridos somente de Cristo.
“Provado no fogo”: Ou “refinado no fogo”, isto é, purificado pelo fogo. A forma verbal ocorre na Septuaginta em Salmos 18.30 – “a palavra do Senhor é provada”. Em Provérbio s 30.5 lemos “pura” – “Toda palavra de Deus é pura”. Assim, aqui significa que esse ouro é puro e genuíno.
“vestes brancas”: A roupa branca e pura estava em contraste com a lã preta, pela qual Laodicéia era famosa.
“unjas os olhos com colírio”: Acerca deste remédio, Charles diz: “Em nosso texto refere-se ao famoso pó da Frígia usado pela escola de medicina de Laodicéia.
O DESAFIO
Uma Repreensão Por Amor (v.19): Se Cristo ama aos crentes que não têm qualidades louváveis, como os de Laodicéia, não é demais esforçarmo-nos para amar verdadeiramente a tais, também?
O castigo é um sinal do cuidado amoroso de Deus como nosso Pai celestial (Hb 12.5-11). Castigo é literalmente “educar uma criança”. Tudo isso mostra a compaixão de Cristo em lidar com essa igreja como uma criança geniosa que precisava do amor e disciplina do Pai.
“Amo”: É interessante que o verbo amo aqui não é o costumeiro agapao, mas phileo, que introduz um toque meigo e sentimental – para a igreja que menos o merecia!
“Sê pois zeloso”: Essa igreja tinha falta de tempero. Ela carecia de zelo.
“Arrepende-te”: Está no aoristo, requerendo uma ação imediata em uma decisão crucial.
Uma declaração Inusitada: “Eis que estou à porta, e bato...” (3.20): Cristo está excluído da Sua igreja. Oh! O quadro mais triste do mundo. Cristo expulso e desejoso de entrar! Expulso da nação israelita pela rejeição. Expulso do mundo pela crucificação. Expulso da igreja pelo mundanismo e modernismo. Mesmo assim, em todo o versículo 20 vemos o seu insondável amor por sua igreja.
Um Apelo Individual:
Jesus Cristo faz um apelo individual: “se alguém abrir a porta, entrarei”. A igreja estava condenada.
Se alguma pessoa atendesse ao apelo de Jesus teria comunhão com Ele. A ceia é a última refeição do dia. Assim, mesmo a um Cristianismo morno, Jesus apela até o fim do dia da graça para que voltem a Ele. Isso também indica que o período da igreja de Laodicéia é o último do dia da graça, antes que venha a manhã de uma nova era para a igreja.
A Maior Promessa A Uma Igreja: “sentar-se comigo no meu trono” (3.21): Graça maravilhosa! A maior promessa feita por Jesus às sete igrejas foi à de Laodicéia. Isso quer dizer que a igreja mais decadente e o crente mais distanciado, mais frio, podem alcançar o mais alto estado espiritual, se se arrependerem e andarem com Deus, como no princípio.
CONCLUSÃO
Laodicéia retrata o estado presente e geral da igreja professante, que por causa de sua mornidão causa náuseas a Cristo.
Devemos fugir do espírito morno e insípido, que assiduamente procura entrada em todos os corações. Laodicéia era totalmente desagradável ao Senhor por causa da sua apatia, seu indiferentismo. Deus quer que seus filhos sejam fervorosos no espírito (Rm 12.11). A água morna, em todos os tempos, é repugnante, servindo mais como vomitório.
A carta, contendo a desaprovação severa de Cristo de uma igreja apóstata, traz-nos entretanto, uma revelação do coração do Senhor, tal que não é encontrada em nenhuma outra carta.
Nesses versículo, vemos que o Evangelho é:
Riqueza divina para nossa pobreza espiritual.
Veste branca de justiça para nossa pecaminosidade.
Visão espiritual para nossa cegueira.