A GRANDE CONTROVÉRSIA TEOLÓGICA E O PRIMEIRO CONCÍLIO DA IGREJA (At 15).
O Motivo Do Concílio (15.1,6): Há discordância quanto à obrigação de os gentios crentes serem ou não circuncidados. Apesar de Deus ter revelado expressamente a Pedro que os gentios deviam ser recebidos na Igreja sem a circuncisão (cap.10), e os apóstolos e anciãos estarem convencidos disto (11.18), um partido poderoso de discípulos fariseus persistia em ensinar que a circuncisão era necessária (15.5). A Igreja estava dividida sobre esta questão.
Quem eram os judaizantes? Apesar desse nome não aparecer na Bíblia, hodiernamente tornou-se comum chamar assim ao partido Judaico da Igreja primitiva. “Aplica-se tecnicamente àqueles cristãos que sentiam que os gentios não poderiam ser salvos sem se tornarem judeus”. Eles correspondem ao partido da “circuncisão” referido em Atos 15.
A discórdia: Paulo ensinava que Cristo tem lugar em Seu coração, tanto para os judeus quanto para os gentios, sem que os convertidos tenham de observar os preceitos da lei mosaica (Rm 3.28). E isso contradizia a doutrina dos “judaizantes” de Antioquia. Essa minoria mantinha contato com a igreja de Jerusalém. A causa judaizante engrossou e ganhou terreno. Por um lado, Paulo e Barnabé pregavam a salvação pela graça de Cristo, sem o concurso das obras da lei. Em outras palavras, nenhum convertido gentio precisava guardar preceitos da lei, como a circuncisão, a guarda do sábado ou evitar certos alimentos para ser salvo. Por outro lado, os judaizantes opinavam que os gentios deveriam primeiro tornar-se judeus-ortodoxos – guardando todos os preceitos mosaicos – para tornarem-se cristãos. Para os judaizantes, o cristianismo seria apenas uma seita judaica.
A igreja de Antioquia: A igreja de Antioquia em peso – exceção dos judaizantes – pôs-se ao lado de Paulo e Barnabé, repelindo o jugo da lei. Lucas deixa claro que os crentes de Antioquia simpatizavam totalmente com Paulo e Barnabé, paladinos da liberdade cristã, repudiando a tese judaizante. Os verbos “enviados” e “acompanhados” no vs. 3, mostram isso.
Porque “Jerusalém” foi escolhida? Por que a igreja de Antioquia enviou Paulo e Barnabé a Jerusalém? Seria esta superior? De modo nenhum. Cada igreja local é autônoma. Quando a igreja em Antioquia enviou missionários, não consultou a igreja em Jerusalém. Mas era mister evitar que a igreja se dividissem: Antioquia pregando uma coisa, e Jerusalém, outra. Só existe um evangelho (Gl 1.8), o evangelho da graça, sem mistura alguma com a lei. “Paulo faria um esforço para esclarecer, aos apóstolos e a todos os interessados, que ele não fora a Jerusalém para receber ordens de quem quer que fosse. Fora apenas discorrer com eles, como iguais, sobre essa grande questão da liberdade dos gentios nas igrejas” – A. T. Robertson
Os Relatos Durante O Concílio (15.2-5, 7-18).
Os defensores pró-circuncisão (15.5): Tais homens eram fariseus antes de se tornarem cristãos.
Os defensores anticircuncisão (15.2-4, 7-18)
A defesa de Paulo e Barnabé (15.2-4,12): Eles recapitulam como Deus salvou vários gentios sem circuncisão durante sua recente viagem missionária.
Mas alguns fariseus “insurgiram-se” (v.5), verbo que mostra a veemência deles.
Inicialmente a reunião foi com a presença de toda a igreja (v.4). Mas, o debate esquentou, então, para almoçar ou para esfriar os ânimos, Tiago que, presidia a reunião, suspendeu-a momentaneamente.
A reunião retoma seu início, agora só com a presença dos obreiros.
A defesa de Pedro (15.7-11): Ele fala da conversão de Cornélio e de sua família gentílica.
Uma nova reunião geral foi convocada (v.12a)
É esta a última vez que se menciona Pedro no livro de Atos. Até o cap.12 é figura dominante. Foi quem liderou o movimento no dia de Pentecostes e nos seguintes. Recebeu o primeiro gentio na Igreja (cap.10). Durante estes 20 anos, tendo Jerusalém como centro de suas operações, julgamos que ele visitou as igrejas pela Palestina, na direção norte até Antioquia.
A defesa de Tiago (15.13-18): Ele lembra a todos os presentes que a conversão dos gentios foi predita pelo profeta Amós no Antigo Testamento (Am 9.11,12)
A Decisão Do Concílio (15.19-34)
A decisão (15.19-21): Tiago anuncia que os gentios salvos não serão constrangidos a circuncidar-se e serão incentivados apenas a abster-se de certas atividades. A decisão envolveu os seguintes pontos:
Escolher dois homens destacados de Jerusalém, Silas e Judas, para irem a Antioquia com Paulo e Barnabé (v.22).
Escrever uma carta a Antioquia dando a decisão sob forma escrita, mostrando que os perturbadores eram membros da igreja em Jerusalém, mas agiam sem autorização (v.24), e que o teor da carta seria confirmado pelo testemunho pessoal de Silas e Judas, juntamente com Paulo e Barnabé (vs. 25 e 27). Foi uma carta branda, exigindo apenas que os novos convertidos se abstivessem de imoralidades comuns no mundo pagão.
A carta reconhecia os esforços de Paulo e Barnabé na obra missionária (v.26).
A decisão contava com a chancela do céu: “Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós” (vs. 28, 29). Deus mediante o Seu Espírito neste concílio, levou os apóstolos a decidir unânime e formalmente que a circuncisão não era necessária aos gentios. Aos crentes gentios, pois, não foi imposta nem a circuncisão e nem a guarda da lei mosaica. Somente foi recomendado que os crentes “fariam bem” em evitar coisas sacrificadas aos ídolos, carne de animais sufocados e relações sexuais ilícitas.
Os representantes (15.22-34): Representantes piedosos, como Silas e Barsabás, são incumbidos de levar cartas anunciando a decisão do concílio a várias igrejas.
O trecho de Atos 15.23 mostra-nos que a igreja em Jerusalém e as igrejas gentílicas eram reputadas em pé de igualdade.
A carta foi lida em Antioquia, aos ouvidos de toda a comunidade (vs. 30 e 31). Silas e Judas, que também eram profetas, consolaram e fortaleceram aos irmãos (v.32).
Judas voltou a Jerusalém (v.33); Silas ficou em Antioquia (v.34).
Paulo e Barnabé demoraram-se ainda por algum tempo em Antioquia, ensinando e pregando (v.35).
A importância do concílio: O chamado concílio de Jerusalém resultou em grande vitória para o evangelho da liberdade cristã e em grande derrota para a facção judaizante, que tinha por alvo atrelar o cristianismo ao judaísmo.
Os judaizantes: Mas nem por isso os judaizantes desistiram. E por todo o ministério de Paulo continuaram a acossá-lo, principalmente em Corinto, e nas igrejas da Galácia. E embora com outros nomes, até hoje os admiradores da causa judaizante mostram-se ativos!