DEUS CRIOU O MAL?
Texto Bíblico: Isaías 45.7; Am 3.6; Lm 3.38
Introdução
Um dos maiores questionamentos levantados pelos céticos, ateus e materialistas, reside na questão acerca da origem do mal. Na antiga Grécia, filósofos e pensadores se debruçaram sobre essa problemática, a origem do mal.
O problema do mal:
Epicuro, tentando responder sobre a causa do mal, parte de uma premissa puramente racional, filosófica, sem, contudo, nenhum embasamento bíblico. Diz ele:
“Ou Deus quer remover a maldade deste mundo, mas não pode; ou Ele pode mas não quer; ou Ele não pode e nem quer; ou finalmente, Ele tanto pode como quer. Se Ele tem a vontade, mas não o poder, isso mostra fraqueza, o que é contrário à natureza de Deus. Se Ele teme o poder, mas não a vontade, isso mostra malignidade, e também é contrário à sua natureza. Se ele não pode e nem quer, então, tanto é impotente quanto maligno, e, consequentemente, não pode ser Deus. E se Ele pode e quer (a única possibilidade coerente com a natureza de Deus), então de onde vem o mal, ou porque Ele não o impede?”
Algumas teorias sobre o problema do mal
O deísmo: O deísmo ensina que, apesar de haver um “Deus” (um “poder” ou um ser “sobrenatural”, ou uma “força cósmica”), está Ele “divorciado” de sua criação, por ter estabelecido as leis naturais para reinarem em seu lugar. Assim, não interviria na história da humanidade e não castigaria nem galardoaria os homens. Esta ideia anula a confiança cristã de um Deus presente e solucionador de todos os problemas humanos, sendo, por isso incompatível com a Bíblia.
O pessimismo: Admite que alguns deuses (ou Deus) existem, mas à nossa semelhança. Eles seriam tanto bons quanto maus, pelo que poderiam ser causas diretas do mal. Esse ponto de vista pessimista elimina a perfeita bondade e a benevolência de Deus. De acordo com esse raciocínio, o mal existe, mas está fora do poder ou da vontade dos deuses (ou de Deus) controlá-lo completamente, o que é um grande absurdo teológico!
O otimismo: Aborda o assunto dentro de um ponto de vista otimista e estipula que “este é o melhor mundo visível”. Essa maneira de encarar o assunto simplesmente assevera uma assoberbada ignorância no que tange ao problema do mal.
O panteísmo: Afirma que, sendo Deus amor absoluto, santo, bom e onipresente, não pode existir o mal no universo. Todo o pecado e sofrimento é, pois, ilusão do pensamento humano, doutrina defendida pela seita “Ciência Cristã”. Os fatos, porém, persistem. O pecado, as enfermidades e a morte não podem ser desfeitos meramente por serem negados. Se todo o sofrimento não é mais do que uma ilusão de nossa mente, então a existência da mente é o maior de todos os males.
O determinismo: Não admite uma ação pecaminosa, uma vez que essa já está determinada e não depende do livre arbítrio e da responsabilidade do homem, pois não há diferença entre o que é e o que deveria ser. essa teria responsabiliza Deus como autor de todos os males que ocorrem na humanidade, que são uma consequência do pecado. Mesmo admitindo que Deus é a causa soberana do universo, não é bíblica tal teoria.
O dualismo: O dualismo Maniqueísta sustenta que havia duas forças, dois princípios antagônicos: o do bem e o do mal que estavam presentes no universo.
O gnosticismo: Ensina que o mal é inerente à matéria. As Escrituras, no entanto, não apoiam essa ideia. A matéria como tal não tem qualidades morais. A carne, segundo a Bíblia, quando usada num sentido ético, não se refere ao corpo, e sim à mente e à vontade carnais (Rm 8.6,7)
A RESPOSTA DE AGOSTINHO:
“É Deus o autor do mal?
Evódio: Peço-te que me digas, será Deus o autor do mal?
Agostinho: Dir-te-ei, se antes me explicares a que mal te referes. Pois, habitualmente, tomamos o termo “mal” em dois sentidos: um, ao dizer que alguém praticou o mal; outro, ao dizer que sofreu algum mal.
Evódio: Quero saber a respeito de um e de outro.
Agostinho: Pois bem, se sabes ou acreditas que Deus é bom – e não nos é permitido pensar de outro modo – Deus não pode praticar o mal. Por outro lado, se proclamamos ser Ele justo – e negá-lo seria blasfêmia – Deus deve distribuir recompensas aos bons, assim como castigos aos maus. E por certo, tais castigos parecem males àqueles que os padecem (...) Deus de modo algum será o autor daquele primeiro gênero de males a que nos referimos, só do segundo” – Santo Agostinho, O Livre Arbítrio, Editora Paulus.
ANÁLISE BÍBLICA
Deus não é autor do mal (1 Jo 1.5; Tg 1.17; Hc 1.13; Dt 32.4)
Etimologia da palavra “mal”: Vem do hebraico Ra’, e possui dois sentidos:
O mal no sentido moral: Neste sentido, podemos descrevê-lo como pecado (Mq 2.1; Jr 7.24; Sl 8.3; 34.12 e ss).
O mal no sentido de calamidade: Desgraça, infortúnio. Neste sentido, ele é “predominantemente encarado como o castigo divino (Dt 31.17). Quando o homem comete pecado, o mal, em forma de punição e disciplina vem sobre ele (Is 59.2; Hc 1.13; Jr 29.11).
Deus é o criador do mal, mas não no sentido moral, ou seja, de pecado, mas sim no sentido de calamidade, de disciplina e castigo os quais, para aquele que os recebe, são interpretados como mal – “E, na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela” (Hb 12.11).
Quando Deus diz “eu crio o mal”, Ele está simplesmente dizendo: “Eu castigo e disciplino”. O que, para nós, de forma figurada, pode ser entendido como: “Eu crio o mal”.
O fato de Deus saber, pela sua onisciência, que o mal entraria no mundo, não o faz responsável pela origem do mal. Deus não pode ser autor do mal, porque Ele é infinitamente sábio, bom e poderoso; sua vontade está, sem sombra de dúvida, orientada para o bem; seu próprio ser se identifica com o bem, pela infinitude de sua perfeição essencial. Ele é a luz, sem mescla de trevas (Sl 27.1; Is 6.3; 1 Jo 1.5).
O fato de Deus criar o homem livre incluía a possibilidade de pecar, porém essa possibilidade não incluía a necessidade de pecar. O fato de Deus saber que o homem pecaria não obrigou o homem a pecar.
“Longe de Deus o praticar a perversidade, e do Todo-Poderoso o cometer injustiça” (Jó 34.10). Ele é um Deus santo e não há nele absolutamente qualquer injustiça (Dt 32.4; Sl 92.16). Deus odeia, abomina de todo coração, o pecado, o mal (Dt 25.16; Sl 5.4-6; Zc 8.17).
Deus não pode ser tentado pelo mal e nem tenta o homem (Tg 1.13).
SE DEUS EXISTE, PORQUE EXISTE O MAL?
A ideia de que a existência de Deus pode ser negada com base na existência do mal é falha. O mal não é um ser eterno ou uma força de existência permanente que mina a existência de Deus. Para que não houvesse a possibilidade de existir o mal Deus teria de optar por criar seres sem liberdade que fossem totalmente desprovidos de poder de escolha e decisão, mas não foi isto que desejou, por isso permitiu e permite que o homem faça suas escolhas morais através do uso de sua liberdade (Ec 7.29). A liberdade é boa em si, mas o seu mau uso pode minar e destruir uma sociedade. Ademais, o fato de o mal atualmente existir não quer dizer que continuará sem punição ou correção, a Bíblia declara que Deus um dia erradicará a ação de todo o mal (Ap 21.3-5).
Deus permite o mal, não no sentido de uma transigência que aprova, e sim no sentido de uma tolerância que reprova. Essa tolerância é devido à ignorância relativa do pecador (At 17.30), quanto ao propósito de Deus de estabelecer a justiça pela fé (Rm 3.4, 20, 22, 28) e, principalmente, ao risco que Deus enfrentou ao criar o homem livre, com o poder de decisão, “posto que há mais dignidade em um não livre do que em um sim forçado”.
NO LUGAR DE DEUS O QUE FARÍAMOS?
Muitos (talvez a maioria) pensam que, se estivesse no lugar de Deus, tendo os poderes que lhe são atribuídos, teriam criado um universo muito melhor do que este em que vivemos hoje em dia.
Meditando sobre a sabedoria divina, escreve genialmente J. M. L. Monsabre: “Se Deus me concedesse sua onipotência por vinte e quatro horas, vocês veriam quantas mudanças eu efetuaria no mundo. Mas se Ele me desse também a sua sabedoria, eu deixaria as coisas como estão”.
A ORIGEM DO MAL
Evidentemente, ao falarmos da origem do mal, devemos ir mais além do que a queda do homem descrita em Gênesis capítulo 3, e colocar nossa atenção naquilo que aconteceu no mundo angelical, e legiões de anjos se separaram de Deus. Houve uma queda no mundo angelical. O tempo exato desse evento não se conhece, mas em João 8.44, Jesus fala do Diabo, declarando-o homicida desde o princípio. Em Jó, ele aparece como oponente de Deus e dos homens, como acusador do homem diante de Deus, agente dos infortúnios do patriarca.
Das advertências de Paulo a Timóteo para que ninguém que fosse neófito chegasse a exercer o ministério pastoral, a fim de não cair na condenação do Diabo (1 Tm 3.6), por causa do orgulho, podemos concluir que, com toda a probabilidade, o pecado que fez com que o Diabo caísse foi o orgulho, oriundo da sua aspiração de ser igual a Deus em poder e autoridade.
Em relação à origem do mal na história da humanidade, a Bíblia ensina que começou com a transgressão de Adão, e que foi um ato inteiramente voluntário. Adão pecou não somente como pai da raça humana, mas também como cabeça representativa de todos os seus descendentes.
Quando Tiago se defronta com esse problema, depois de isentar a Deus, ele diz que cada um é tentado pela sua própria cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte (Tg 1.15). O egocentrismo, o orgulho e a auto-suficiência são os detonadores de todo ato pecaminoso (Sl 32.5; 51.3,4; Is 6.5).
O pecador inclina-se ainda a jogar a culpa de seus pecados sobre o próximo, como fez Adão. Mas Romanos 1.18 deixa sem desculpa a todos os que detêm com injustiça a verdade.
Uma vez que o homem tem liberdade de escolha, ele é responsável pelo uso e pelo controle devido do seu ego e dos seus instintos.
“Deus criou o fato da liberdade; nós realizamos os atos de liberdade. Ele tornou o mal possível; o homem tornou o mal real” – Norman Geisler e Ron Rhodes
Em 2 Pedro 3.9, lemos que Deus não quer a perdição do homem. O mal foi permitido por Deus, mas Deus operou a redenção e, por ela, muitos se salvam. O resultado eterno satisfará a deus e nos satisfará também.
BIBLIOGRAFIA
Manual De Respostas Bíblicas – Paulo Sérgio Batista editora BETESDA
Os Temas Mais Difíceis Da Bíblia – Paulo César Lima CPAD
Perguntas Difíceis De Responder – Elias Soares De Moraes BEIT SHALOM