PANORAMA GERAL – OS PROFETAS
DEFINÇÃO:
Termos Originais:
Hebraico:
Navi ou Nabi: Os exegetas discutem sua origem; geralmente está associada a uma raiz que significa “mexer os lábios”, segundo Isaías 57.19. O profeta designa literalmente o porta-voz de Deus (Dt 18.18).
O exegeta medieval Samuel bem Meir (1085-1158) comenta o versículo “Restitui agora a este homem sua mulher, pois é um profeta” (Gn 10.7), definindo o navi como aquele de cujos lábios saem uma torrente de palavras.
Outros comentadores notaram que NBB, raiz de navi, tem relação com uma concavidade, um vazio, e que o profeta é aquele que deve esvaziar-se a si mesmo a fim de acolher a palavra divina.
Ro’eh: “Vidente” (1 Sm 9.9). Outra palavra é “hozeh” significa “captando uma visão” (2 Rs 17.13).
Grego: O termo grego phemi “dizer” e pro “a frente de”, “no lugar de”, “de antemão” ou “em público”. O profeta é portanto, um porta-voz de Deus e envia e inspira. Seu papel é manifestar coisas mantidas em segredo ou, mais geralmente, ajuda a apreender a vontade de Deus.
MOISÉS – O PADRÃO DOS PROFETAS.
O maior profeta da história do povo de Israel é Moisés: “Nunca mais em Israel surgiu um profeta como Moisés, a quem o Senhor conhecia face a face” (Dt 34.10).
Os redatores da Mishna indagaram-se sobre a origem dessa posição particular: Moisés foi não somente o transmissor da vontade divina, mas também um líder político, e um legista sem igual. No entanto, foi sobretudo a natureza de seu encontro com Deus que o distinguia dos outros profetas, assim como resume o Talmude: “Todos os profetas contemplaram [Deus] através de um vidro escuro, somente Moisés [o] viu através de um vidro transparente”.
A DIVERSIDADE DE FUNÇÕES EXERCIDAS PELOS PROFETAS BÍBLICOS
Os profetas de Israel foram chamados individualmente e ungidos por Deus para o serviço de “emergência”, em contraste com o serviço regular dos sacerdotes, anciãos e reis. Além de serem denominados “profetas” (hb.nabi), também recebiam o nome de “videntes” (ro’eh), “sentinelas” (tsaphá) ou “pastores” (ra’ah). Esses termos indicam suas funções ao serem chamados por Deus para interpretar e anunciar a palavra específica do Senhor para seu povo.
Principais funções dos profetas:
Porta-voz especial de Deus. O termo “profeta” (hb.nab; gr Prophetes) significa “falar por” ou representar. Sua tarefa mais importante era agir como embaixadores ou mensageiros divinos, anunciando a vontade de Deus para seu povo, especialmente em épocas de crise. Eram acima de tudo, pregadores da justiça em época de decadência moral e espiritual, quase sempre em uma posição isolada.
Vidente. A credencial de um profeta verdadeiro era a habilidade infalível de penetrar no futuro e revelá-lo (Dt 18.21,22). Essa habilidade autenticava a sua mensagem como sendo divina, porquanto somente Deus conhece o futuro. Por intermédio dessa função profética, Deus chamou a atenção para seu programa futuro com relação a Israel e às nações, elaborando depois o que já tinha esboçado nas alianças com os antepassados.
Professor da Lei e da justiça. Apesar de os sacerdotes e levitas serem normalmente os professores de Israel, os profetas também receberam essa função quando o sacerdócio degenerou (Lv 10.11; Dt 33.10; Ez 22.26). Quando ensinavam, o contexto era geralmente de julgamento (Is 6.8-10; 28.9,10).
A tarefa mais difícil de um profeta é mudar a mentalidade do povo. Isso significa arrancar as ervas daninhas da falsa teologia e plantar a boa semente da Palavra de Deus. Também significa derrubar as estruturas ideológicas frágeis, construídas pelos falsos profetas e edificar construções duradouras sobre os sólidos fundamentos da verdade (Ez 1.10; 2 Co 10.3-6).
Outras Funções:
Na esteira de Moisés tem início uma longa corrente de profetas, cujos atributos por vezes diferem. Assim, Samuel unifica as tribos e coroa os primeiros reis.
Natan ou a profetisa Hulda lhe dão conselhos.
Débora é juíza,
Elias, Eliseu e Amós fazem sermões ao povo, denunciam os abusos de poder dos dirigentes.
Jeremias e Isaías têm visões do futuro sombrio que aguarda Israel, antes de apresentar visões de consolação.
RELAÇÃO ENTRE PROFETAS E SACERDOTES
Embora ambos fossem designados por Deus para o serviço religioso havia entre eles algumas diferenças importantes:
Quanto à chamada. Os profetas eram chamados e designados por Deus individualmente, ao passo que os sacerdotes eram designados em virtude de sua descendência de Arão. “Ninguém, pois, toma esta honra para si mesmo, senão quando chamado por Deus, como aconteceu com Arão”... (Hb 5.4).
Quanto ao cargo. Eram representantes de Deus perante o povo; os sacerdotes eram representantes do povo perante Deus. Portanto, o principal lugar do ministério dos sacerdotes era o santuário, o lugar da presença de Deus, ao passo que os profetas dirigiam-se ao povo nas cidades e na zona rural.
Quanto à obra especial. Os profetas preocupavam-se com a justiça espiritual e a purificação do coração; os sacerdotes estavam mais interessados no sistema religioso da aliança de Israel. Ambas as funções eram importantes para o sistema de aliança de Israel e de complementavam.
Quanto ao ensino. Ambos interpretavam a Lei. Como já foi observado, os sacerdotes eram professores habituais; os profetas, pregadores de reavivamento. Os sacerdotes “informavam”, os profetas “reformavam”. Os sacerdotes instruíam a mente do povo, os profetas desafiavam o arbítrio e se pronunciavam com enérgica insistência quando a Lei era negligenciada pelos líderes e pelo povo.
VÁRIAS CLASSES DE PROFETAS
Os profetas de Israel remontavam aos antepassados de Abraão, Moisés e Samuel, que foram denominados “profetas” (Gn 20.7; Dt 18.15; 1 Sm 3.20). Por intermédio deles, Deus falou ao povo e estabeleceu suas alianças com a nação. Moisés foi uma espécie de protótipo dos profetas, prenunciando o último grande profeta, o Messias, que se levantaria para falar palavras poderosas, autenticadas por obras poderosas e desempenho brilhante (Dt 18.15-22). Embora os cargos de sacerdote e rei fosse restritos a homens e determinadas tribos, algumas profetisas foram chamadas na história de Israel: Miriã, Débora e Hulda (Êx 15.20; Jz 4.4; 2 Rs 22.14).
Considera-se ter sido Moisés aquele que principiou a ordem profética, o primeiro de uma sequência, durante a monarquia de Israel (1 Sm 3.1; At 3.24). Essa sequência não era contínua. Prosseguia, porém, esporadicamente quando o Senhor fazia a designação para esse cargo. Eram profetas da “da palavra” e da “escrita”.
Profetas da “Palavra” (Ou Profetas Orais).
Gade: Aconselhou Davi no deserto (1 Sm 22.5).
Natã: Aconselhou Davi a respeito da aliança e do adultério (2 Sm 12.1).
Ido: Escreveu os acontecimentos do reinado de Salomão (2 CR 9.29).
Aías: Informou a Jeroboão que ele seria rei do Norte (1 Rs 11.29).
Semaías: Avisou a Roboão que não pelejasse contra Jeroboão (1 Rs 12.22).
“Homem de Deus”: Repreendeu Jeroboão por causa dos sacrifícios aos bezerros (1 Rs 13.1).
“Profeta Idoso”: Testou o “homem de Deus” para certificar-se (1 Rs 13.11).
Hanani: Repreendeu Asa pelo auxílio da Síria e foi preso (2 CR 16.7).
Jeú, filho de Hanani: Repreendeu Baasa, de Israel: “Cães comerão” os descendentes de Baasa (2 Cr 16.1).
Jaaziel: Repreendeu Josafá por ter feito Aliança com Acabe (2 Cr 19.2).
Elias: Repreendeu Acabe e Jezabel pelo culto a Baal (1 Rs 17.1 ss).
Profeta-Desconhecido: Aconselhou Acabe a respeito da vitória sobre a Síria (1 Rs 20.13).
Micaías: Informou Acabe do plano do Senhor a respeito da morte do rei (1 Rs 22.13).
Eliseu: Reprovou o culto a Baal em Israel e fez muitos milagres (2 Rs 2.1 ss).
Jovem-Profeta: Ungiu Jeú para rei e destruidor da casa de Acabe (2 Rs 9.1 ss).
Zacarias, filho de Joiada: Repreendeu Joás pela apostasia e foi morto pelo rei (2 CR 24.20).
Odede: Advertiu a Peca , de Israel, que libertasse os cativos judeus (2 Cr 28.9ss).
Profetas da “Escrita” (ou Profetas Literários): Quase todos os profetas da “escrita!” escreveram depois de terem sido profetas da “palavra”. Principiando mais ou menos na época da eliminação do culto a Baal por Jeú, os períodos de maior concentração desses profetas foram justamente antes da destruição do Reino do Norte e do Reino do Sul. Manifestavam-se geralmente em época de decadência nacional e julgamento iminente. Eram, em certo sentido, a incômoda consciência da nação. Nesse contexto, podemos observar os seguintes temas importantes:
Temas éticos.
A condenação da idolatria, imoralidade e injustiça seguida do convite para arrependimento e vida íntegra.
O caráter de Deus ao exigir justiça e misericórdia e ao promover julgamento para os impenitentes.
A religião verdadeira está ligada ao coração, e não apenas às mãos.
Temas escatológicos.
A vinda do Senhor e seu impacto sobre Israel e as nações.
O caráter e a vinda do Messias no julgamento, salvação e glória.
A vinda da era messiânica e suas bênçãos sobre Israel e o mundo.
A preservação do remanescente fiel de Israel.
O CÂNON PROFÉTICO
No Antigo Testamento. À exclusão de Moisés, os fatos e gestos dos profetas são relatados na segunda parte da Bíblia Hebraica, Neviim “Profetas”. Esse livro é dividido em duas partes:
Os Primeiros Profetas: Anteriores à destruição do primeiro Templo, ou seja, Josué, Juízes, Samuel e Reis;
Os Últimos Profetas: Posteriores ao primeiro exílio, repartido entre os grandes profetas (Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel) e os Doze pequenos profetas (Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias).
No Novo Testamento. É o Apocalipse, o livro essencialmente profético.
O SILÊNCIO PROFÉTICO, SEGUNDO A TRADIÇÃO JUDAICA
Os últimos profetas foram Ageu, Zacarias e Malaquias. A tradição considera que o período da profecia se extinguiu mil anos após a saído do Egito. Resta então a bat kol, a voz divina, que por vezes se dirige diretamente aos homens, como no livro de Daniel (4.31), ou em certas passagens talmúdicas.
Os sábios do Talmude discutirão por muito tempo as razões do desaparecimento da profecia. Ela era o símbolo de um vínculo muito profundo com Deus, condicionado, porém, a uma reciprocidade. Deus protegia o povo de Israel, que em contrapartida se comprometia a respeitar as condições da aliança. Após os pecados do povo e a destruição do primeiro Templo, a profecia desapareceu pouco a pouco.
O último profeta canônico, Malaquias, expressou-se no início da construção do segundo Templo.
Os redatores do Talmude se dedicarão a demonstrar também que a saída da era profética confere centralidade ao papel do “hakham” , do sábio. Este dedica sua vida ao estudo da Lei (dada no monte Sinai a Moisés). “A Torá já foi dada no Monte Sinai; não prestamos atenção a uma voz divina, pois Tu [Deus] já nos deste a Torá; a partir de agora, é a maioria dos mestres que decide”. Outra citação do Talmude demonstra a importância do sábio em detrimento dos profetas: “O sábio é superior ao profeta [...]. Desde a destruição do Templo, a profecia foi retirada dos profetas, e dada aos loucos e às crianças”. Para o judaísmo, os profetas desapareceram, mas restam seus discursos, que mantêm, para muitos, grande atualidade.
A MENSAGEM CRISTOLÓGICA DOS PROFETAS
Os profetas nem sempre compreendiam o significado pleno das coisas que viam. Mas da nossa vantajosa posição podemos ver que muitos deles estavam se referindo a Cristo. Em Atos lemos: “A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele crêem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome” (At 10.43).
Ele era “a Luz de tudo que viam”.
“A função da profecia era preparar o povo para a sua chegada. A função da profecia era testemunhar a respeito dele” – kirkpatrickc.
“Os profetas alcançaram o ponto mais elevado quando apontaram os olhos cansados dos homens para o Redentor [...] O grande motivo para estudarmos os profetas é que eles prepararam o caminho para a vinda de Cristo” – Andrew Blackwood
Acerca dos profetas de Deus até mesmo o liberal A.C. Knudson diz: “Esses homens não eram meramente pregadores de arrependimento. Eles eram arautos da vinda do reino de Deus”.
A maioria dos judeus deixou de reconhecer o Messias quando Ele veio, mas no seu Talmude consta: “Todos os profetas profetizaram acerca dos dias do Messias”.
Wilson De Jesus Alves