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JESUS E A LEI

Jesus E A Lei

Texto Bíblico: Mateus 5.17-48

INTRODUÇÃO

Essa parte do sermão destaca dois pontos:

Os ouvintes de então tinham toda a razão em aceitar as Escrituras do Antigo Testamento para governar as suas vidas.

 

O povo enganava-se em seguir o exemplo dos escribas e fariseus.

Jesus veio dar cumprimento e atualidade às sombras e às figuras do Antigo [1]Testamento. Também veio para dar uma interpretação mais espiritual aos preceitos da Lei.

Jesus indicou o seu relacionamento com o Antigo Testamento. Ele iria cumprir seus mandamentos e promessas, seus preceitos e profecias, seus símbolos e tipos. Ele fez em sua vida e ministério, em sua morte e ressurreição. Jesus cumpriu totalmente os aspectos do Antigo Testamento.  Quando lido à luz de sua pessoa e obra, ele brilha com um novo significado. Cristo é a Chave, a única Chave que abre as Escrituras.

O RELACIONAMENTO DE JESUS COM A LEI (17-20)

Os judeus piedosos, que amavam a lei e os profetas, não deviam pensar que Jesus veio abolir a lei. Os mundanos, procurando ficar livres da observância da lei, não tinham razão em pensar que Jesus veio destruir a lei.

Contexto Cultural:

No Judaísmo a palavra “Torá” pode significar:

O Chumash – o Pentateuco, os cinco livros de Moisés;

O Chumash – Mais os profetas e os Escritos, ou seja o Tanak (que nós cristãos, conhecemos como Antigo Testamento).

O Tanak mais a Torá Oral – Que inclui o Talmud e outros materiais legais;

Ou ainda, tudo isso, mais todas as instruções religiosas dos rabinos, incluindo materiais éticos e homiléticos.

 

Jesus Veio, Não Para Revogar A Lei, Mas Para Cumpri-La (v.17)

Análise Textual:

O verbo ab-rogar significa “soltar”, “desatar”, “desprender” como se faz com uma casa ou tenda (2 Co 5.1).

 

“Katalusai” (v.17): arrancar, destruir, anular.

 

“Amén” hb. Certamente – “Em verdade” (v.18):  No Judaísmo a palavra era uma resposta de reforço ou confirmação, ou a concordância com a declaração doutra pessoa. Por exemplo, uma oração, um louvor, ou um juramento. Jesus não usava a palavra aplicando-a às outras pessoas, mas para introduzir Suas próprias palavras. Isto dá força e autoridade àquilo que Ele diz.

 

“Para cumprir” (5.17): Plerosai gr.: “encher”, “completar”. Jesus não veio para abolir a lei e os profetas, mas para salientar, mediante palavras e obras, a qualidade de vida que a lei e os profetas devem produzir. Filson de modo correto conclui que a liberdade de Jesus na interpretação e aplicação da lei “cumpre-a” ao “emprestar a mais completa expressão ao objetivo divino das mensagens antigas”.

 

Exposição:

Jesus não veio revogar ou destruir nenhuma palavra que Deus ensinara aos fiéis do passado no Antigo Testamento. Veio cumprir plenamente o propósito de Deus revelado no Antigo Testamento dando a lei e aos profetas aquilo que faltava: O Espírito Santo para interpretá-lo e poder para pô-lo em prática, pela sua obra salvadora.

A interpretação de Jesus, longe de destruir a Lei, cumpriu-a:

Ele realmente obedeceu à Lei (essa justiça é imputada a nós).

Ele revelou “toda a profundidade do significado que a Lei continha” – M’Neile.

Quando o Espírito dele habita em nós, temos sua interpretação escrita em nosso coração.

O propósito da vinda de Jesus é cumprir, realizar o que as Escritura diz sobre ele (direta ou indiretamente [em forma de tipologia ou similar]) Ele é o objetivo final do Antigo Testamento e, desse modo, seu intérprete mais autorizado; tão somente nele o Antigo Testamento tem continuidade e significados válidos.

 

“Em verdade vos digo” (v.18): A primeira vez que Jesus usa essa fórmula impressionante, indicando uma declaração de extraordinária importância.

 

“Até que o céu e a terra passassem” (v.18): Ainda que alguns achem que é uma expressão idiomática usada em lugar de nunca, provavelmente é uma referência escatológica (Mt 24.35; Ap 21.1).

 

 A letra “J” (iota) era a menor letra do alfabeto grego e hebraico (yodh) [2]e o til (gr. keraia, literalmente, “chifrezinho”, era o sinal que distinguia certas consoantes hebraicas, o daleth do resh, o beth do kaph). Nem mesmo as mais insignificante minúcia se omitirá da lei. Assim é que Jesus demonstra sua mais profunda lealdade à tradição judaica. Não era seu propósito, de modo algum, sabotar a revelação de Deus entregue a Moisés. É enfatizada a validade e autoridade irrestrita e permanente da Escritura.

 

Paulo foi acusado de se opor a lei de Moisés: “Dizendo: Este persuade os homens a servir a deus contra a lei” (At 18.13) – “E já acerca de ti foram informados de que ensinas todos os judeus que estão entre os gentios a apartaram-se de Moisés, dizendo que não devem circuncidar seus filhos, nem andar segundo o costume da lei” (At 21.21)

 

 “Aquele pois que violar” (v.19): A Bíblia é a Palavra de Deus, e não deve ser menosprezada, retalhada ou profanada nas mãos dos homens. Beare escreve que “a Lei permanece em vigor até o último pingo no último i”. Quebrar ainda que seja o menor dos mandamentos e levar outras pessoas e praticar o mesmo delito, significa tornar-se o menor no reinos dos céus.  Obedecer a tais mandamentos e encorajar outras pessoas a fazer o mesmo, é ser chamado grande no reino dos céus.

 

Jesus põe a prática antes da pregação. O professor tem de viver a doutrina antes de ensiná-la aos outros. Os escribas e fariseus eram homens que “dizem e não praticam” (Mt 23.3). Este é o teste da grandeza que Cristo faz.

 

Não há contradição aqui, entre o ensino de Jesus e a doutrina de Romanos, Gálatas e Hebreus, de que somos justificados pela fé em Cristo e não pelas obras da Lei. O que Ele quer dizer é que a lei moral de Deus é a expressão da santidade divina, sendo, pois, de eterna obrigação para o Seu povo.

 

E que, na realidade, Ele veio dar às declarações antigas da Lei um sentido mais profundo, veio reforçá-las, não somente no que diz respeito aos atos externos como nas profundezas recônditas do coração humano.

 

A Nossa Justiça Deve Exceder A Dos Escribas E Fariseus (V.20)

 

“O problema com os fariseus”, diz Martin Llyod –Jones, “era que eles estavam interessados nos detalhes em vez de nos princípios, que eles estavam interessados nas ações em vez de nos motivos, e que eles estavam interessados em fazer em vez de ser”.

 

Contexto Cultural (v.20): O fariseus formavam o grupo religioso mais respeitado na Judéia, e os escribas, os grandes especialistas da Lei (especialmente, sem dúvida, os escribas fariseus). Os fariseus também enfatizavam a intenção correta do coração (kavaná). Jesus critica não a doutrina deles, mas seus coração como grupo religioso. É possível que comunidades religiosas lideradas por mestres fariseus tenham feito oposição aos judeus cristãos na Síria-Palestina na época de Mateus, o que seria um motivo para que o Evangelista registrasse essas palavras.

 

Análise do Texto: Perisseusëi gr. (v.20) -  Exceder: Transbordar como as águas do rio, transbordar para fora de suas margens. Depois, Jesus acrescenta “em muito” (ARA). Trata-se de uma declaração ousada da parte de Cristo dizer que eles tinham de ser melhores que os rabinos. Tinham de superar muitíssimo os escribas, o pequeno número de mestres regulares (Mt 5.32-48), e os fariseus (Mt 6.1-18), que eram os separados, os pietistas ortodoxos.

 

Exposição Do Texto:

 

Justiça (v.20) – Dikaiosune: A qualidade de ser reto ou justo. Não é suficiente a observância de leis e de costumes, para isto os fariseus serviam muito bem. Precisa-se certa realidade espiritual produzida pelo relacionamento com Deus pela fé que resulta numa retidão interna refletida pela expressão externa (Lc 18.14; Rm 4.3).

Não sendo somente uma prática exterior, mas nascendo do coração.

Não sendo para obter honra dos homens, mas para servir a Deus.

Não sendo limitada por nossos gostos, mas obedecendo toda a vontade de Deus.

Não sendo apenas ocasional, mas sim hábito, regra da nossa vida.

 

Muitos dos escribas, no seu zelo pela lei podiam recitar o Antigo Testamento de cor. Os fariseus eram os religiosos daquele tempo. É a inclinação humana ligar mais importância à letra da lei de Deus, do que ao espírito, como os escribas; é grande tentação mostrar-se religioso, observando cultos secos, com grande formalismo, como os fariseus. Acerca deles o apóstolo Paulo escreveu: “Porque lhes dou testemunho de que eles tem zelo por Deus, porém não com entendimento. Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus” (Rm 10.2,3).

 

Este versículo, 20. É a chave do sermão do monte. Os que não aceitam todo o sermão à luz desse versículo, enganam-se em ensinar, ou experimentar praticar as lições proferidas por Cristo naquela ocasião.

 

E não somos capazes, por nós mesmos, de fazer melhor do que eles nos seus extraordinários esforços. Mas, Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque Deus a concederá com fartura.

 

A justiça do crente se baseia na justiça de Cristo que lhe foi imputada e obtida pela fé (Rm 3.21,22), que o capacita e viver justamente (Rm 8.2-5).

 

A LEI SOB A PERSPECTIVA DO SENHOR JESUS

Jesus não contradiz o que foi dito, mas coloca-o em foco ético mais nítido. Hill dá-lhe o nome de “intensificação radical das exigências da lei”. O julgamento de Deus não se restringe ao ato exterior, mas vai além, à atitude que produziu o ato.

 

Sobre O Homicídio (21 – 26). A lei que proibia matar era uma das Dez Mandamentos (Êx 20.13). Jesus reprova a conservação de rancor e ódio no coração, pois isto conduz ao ato.

“Não matarás” (v.21,22)

Os judeus valorizavam a letra da lei que proibia eliminar-se a vida humana (Êx 20.13). Jesus relando a vontade de Deus, porém, proibiu o ódio e a vingança que já é assassínio no coração (cf. 23-26).

 

Jesus intensifica a restrição ao dizer que qualquer pessoa que se encolerizar contra seu irmão comparecerá perante o tribunal.

 

Análise Do Texto:

 

A cólera de que Jesus fala aqui é orge, uma fúria interna que se multiplica (em comparação com thymos, uma fúria passageira).

 

“Aquele, porém, que odeia a seu irmão, está nas trevas, e anda nas trevas, e não sabe para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos” (1 Jo 2.11).

 

Réu (v.22):

“Réu de juízo”: Refere-se a um tribunal inferior em cada cidade, de 23 membros, que punia os criminosos por estrangulação ou decapitação.

 

“Réu do sinédrio”: Refere-se ao tribunal superior de 72 anciãos, que aplicava a pena de apedrejamento.

 

Raca:

“Um termo de violência, loucura, leviandade” – Arndt e Gongrich

Termo aramaico de desprezo. A palavra significa “eu cuspo em você”. Raca expressa desprezo pela cabeça da pessoa “você é um estúpido!”. Significa provavelmente! “Cabeça vazia” ou “imprestável” (de uma palavra aramaica significando “vazio”). Ainda significa: “fútil”, “simplório”, “cabeça-dura”.

 

Moros: “Tolo”. Chamar um irmão de morros “tolo” é o mesmo que “caminhar direto para o fogo destruidor” – Phillips. O tolo no pensamento hebraico não se refere ao incompetente no intelecto, mas à pessoa moralmente deficiente. More expressa desprezo pelo caráter da pessoa “você é um cafajeste!”

 

Negar a posição moral de um homem diante de Deus é algo tão sério que somente a corte celestial é competente para lidar com isso. É verdade, cortes humanas raramente tratam dessas questões, mas isso não vai impedir que a corte celestial realize a sua tarefa.

 

Inferno (v.22): Gr. Geena que translitera o hebraico gê hinom, “o vale de Hinom”; este vale profundo ficava ao sul de Jerusalém. Durante o reinado de Manassés alguns judeus sacrificavam ali aos seus próprios filhos, através do fogo, ao ídolo Moloque. Finalmente tornou-se depósito de lixo da cidade, e inclusive de carcaças de animais e de criminosos executados. O fogo e a fumaça incessante criaram o símbolo do castigo eterno (cp. 1 Enoque 54.1,2).

 

Definição Teológica:

(Do hb. Sheol, do gr. hades e do lat. infernus, Lugar que fica sob a terra). Lugar de suplício, penas e açoites, criado por Deus, para abrigar as almas dos iníquos até que se instaure o Juízo Final. Pela Escatologia Bíblica, o inferno é apenas lugar intermediário. Dali, os ímpios há de ressurgir para serem lançados no lago de fogo. Eis algumas verdades bíblicas concernentes ao inferno:

Foi criado por Deus.

O seu mandatário, portanto, é o próprio Deus.

Não é habitação do demônio como se pensa, mas o lugar de reclusão das almas piedosas.

Nada tem a ver com o purgatório.

O mesmo inferno haverá de ser lançado no lago de fogo.

 

Análise Textual:

A palavra “geena” aparece nos Caps. 5.22, 29, 30; 10.28; 18.9; 23.15, 33; Mc 9.43, 45, 47; Lc 12.5). Jesus a descreve como o lugar onde não lhes morre o verme nem jamais o fogo se apaga.

 

Contexto Cultural:

Com o desenvolvimento da crença na ressurreição durante o período intertestamentário, encontramos no livro de Enoque (c. 150 – 100 a.C), o conceito de “inferno” para os pecadores depois do juízo final.

No final do século I d.C., um grupo de fariseus considerou que Geena tinha um papel purificador para pecadores menos sérios destinados para lá; no século II foi expandido para ter o significado também de um tipo de purgatório antes do juízo final. Estes últimos usos não são encontrados no Novo Testamento.

 

Se Trouxeres A Tua Oferta Ao Altar (v.23): Acertar um problema de relacionamento pessoal com um irmão em Cristo tem procedência sobre quaisquer atividades ritualísticas. A Mishná ensinava que, a menos que a ofensa contra o próximo houvesse sido acertada, nem mesmo o dia da expiação poderia valer coisa alguma. As rupturas na comunhão dos santos são coisa séria.

O profeta Isaías escreve: “Pelo que quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue” (1.15-18).

 

Alegar que não podemos assistir os cultos por causa de contenda com o próximo é acrescentar pecado sobre pecado. Se meu irmão está ofendido, devo ir reconciliar-me com ele. Se fez algo contra mim, é também, minha obrigação ir – mas no espírito do amor de Cristo, para ganhá-lo (Mt 18.15).

 

O judaísmo tradicional expressa essa ideia (23-24) no Mishná:

 

“O Yom kipur [o dia do perdão] funciona para as transgressões de uma pessoa contra Deus, mas não funciona para suas transgressões contra seus companheiros até que ele as apazigue” (Yom 8.9)

 

 

Reconciliação (24 – 26): O canário é o de uma pessoa sendo levada ao tribunal. É melhor acertar a disputa com antecedência, em vez de esperar a hora de comparecer perante o juiz, pois, ele o colocará na prisão, onde ficará até pagar o último centavo. A prática gentílica de aprisionara um devedor inadimplente era particularmente ofensiva aos judeus. Estando na prisão, a pessoa não tinha como ganhar dinheiro para pagar seu débito. O que significa esta passagem?

 

“Reconciliar-se” (v.24): gr. diallasso. No Novo Testamento só encontrada nesta passagem. Paulo usa katalasso, e o composto duplo apokatallaso, para a reconciliação unilateral que o homem deve ter com Deus. Isso é, o homem deve cessar a sua inimizade contra Deus e reconciliar-se através de Cristo. Mas diallasso denota “concessão mútua depois de uma hostilidade mútua”.

 

O judaísmo enfatizava a reconciliação entre indivíduos. Deus não aceitaria uma oferta exterior se o adorador houvesse oprimido ou maltratado o próximo sem corrigir, depois sua conduta. No Antigo Testamento, Deus só aceitava sacrifício oferecidos com um coração puro tanto para com ele, quanto para com o próximo (Gn 4.4-7; Pv 15.8; Is 1.10-15; Jr 6.20; Am 5.21-24).

 

Jesus está dizendo que todas as disputas deveriam ser acertadas sem demora, e que deixá-las de fazê-lo produz consequências terríveis.

 

A questão é que os cristãos deveriam resolver as suas diferenças o mais rapidamente e o mais silenciosamente possível, e resolvê-las entre si mesmos. Os cristãos normalmente não precisam de um juiz ou um tribunal para decidir o que é certo e justo entre si (1 Co 6.1-8)

 

Alguns enxergam nessa passagem uma alegoria do julgamento final: é importante que nos reconciliemos com Deus, antes que aqueles que nos acusa (Satanás) nos entregue ao supremo juiz.

 

“Antídikos” gr. (v.25): Oponente num processo jurídico.

 

“Oficial” (5.25): hupërëtei (hipo = abaixo + ëressö = remo). Esta palavra se referia originalmente ao escravo de galera que era o “remador debaixo” ou remador de fundo em um navio com vários níveis de remadores. Veio a significar qualquer criado, inclusive o ajudante (Lc 4.20, “ministro”, ARC: “assistente” ARA). É como Lucas descreve João Marcos na relação deste com Barnabé e Saulo (At 13.5, “cooperador”). Em Lucas 1.2, ele aplica o termo aos “ministros” da palavra.

 

“Enquanto não pagares” (v.26): Provavelmente uma situação literal no reino[3]. Se, entretanto, a prisão é símbolo do inferno, a implícita possibilidade de pagamento e soltura aplica-se apenas à parábola, não a sua interpretação. A Escritura é clara ao declarar que aqueles que estão no inferno ficarão lá para sempre (Mt 25.41, 46), porque a sua dívida não pode ser paga.

 

Sobre O Adultério (27-30): A lei contrária ao adultério era também uma dos Dez Mandamentos (Êx 20.14). Jesus proíbe alimentar a cobiça que leva ao ato. Note-se que em conexão tanto do ódio como da cobiça Jesus adverte contra o “fogo do inferno” (vv. 22, 29, 30).

 

Adultério:

Definição:

Etimologia: Do latim, adulterium, dormir em cama alheia.

 

Conceito Teológico:

É o intercurso carnal entre uma pessoa casada com outra que não seja o seu cônjuge. Nas Sagradas Escrituras, o adultério equivalia ao rompimento de uma aliança avalizada e abençoada pelo mesmo Deus (Ml 2.14). Havendo infidelidade conjugal, a aliança é automaticamente quebrada. Neste caso, conforme ensinou o Senhor Jesus, o divórcio é admissível (Mt 19.9). 

 

Tipos de adultérios:

Literal. A relação de pessoa casada com outra pessoa que não seja seu cônjuge.

 

Espiritual (Tg 4.4).

 

A adoração aos ídolos é considerada no Antigo Testamento, adultério espiritual (Jr 3.1-5). Neste sentido os hebreus romperam a aliança que o Senhor firmara com os patriarcas. O apelo de Jeová, porém, continua terno e sempre comovente: “Ora, tu te prostituístes com muitos amantes; mas, ainda assim, torna para mim”.

 

Intencional. O adultério é pecado cometido no coração, antes de se manifestar no próprio ato. “Qualquer que olhar” caracteriza o homem cujo olhar não está controlado por uma santa reserva e que forma o desejo impuro de concupiscência por determinada mulher. O ato será consumado quando houver oportunidade. Em Jó 31.1 lemos “Fiz aliança com os meus olhos; como, pois, os fixaria numa virgem?”.

 

Virtual. Hoje as mídias sociais, tem sido usadas por muitos, para fins de imoralidades sexuais.

 

Análise Textual:

Kardia (v.28): O homem interior, inclusive o intelecto, o sentimento e a vontade. Não é só o centro da circulação sanguínea, embora também signifique isso, nem é só a natureza emocional. A palavra é derivada de uma raiz que significa “temer”, ou “palpitar”. “Os olhos e o coração são os dois corretores do pecado” – Bruce

 

O crente tem “a mente de Cristo” (1 Co 2.15) e não deve nutrir e incentivar desejos sexuais impróprios, cobiça, urgências e luxúrias. Se ele o fizer, então, vai sucumbir à tentação, promover fantasias sexuais indevidas e finalmente engajar-se num comportamento sexual equivocado, como o adultério, a fornicação e a homossexualidade.

 

Contexto Cultural:

Diversas fontes judaicas antigas advertiam contra a lascívia e enfatizavam o aspecto sedutor das mulheres; Jesus, aqui destaca apenas a responsabilidade do lascivo.

 

A opinião popular de que os rabinos eram frouxos e indulgentes acerca do divórcio vem da ignorância a respeito dos seus métodos exegéticos. Os discípulos de Shammai (séc I d.C) traduziam Dt 24.1 como está na ARA “coisa indecente”; os seus rivais, os discípulos de Hillel, entendiam o termo “qualquer coisa ofensiva”. Com base nisso, eles diziam que queimar a comida do marido seria motivo suficiente para o divórcio, como também se o marido encontrasse uma mulher mais bonita que a esposa (Aqiba, que morreu em 135 d.C). Mas isso era somente a exposição da lei como eles a entendiam. Na verdade, eles censuravam abertamente o divórcio, e não há evidência de que fosse algo comum.

O judaísmo sempre considerou o casamento como algo normal e desejável – “A pessoa solteira vive sem alegria, sem bênção e sem o bem... Um homem solteiro não é totalmente um homem” – Talmud: (Yevamot 62b – 63

 

Exposição:

Agora Jesus nos ensina que um olhar lascivo é uma forma de adultério. Embora o ato de adultério possa produzir consequências sociais muito mais sérias (a penalidade d acordo com a lei, em Levítico 20.10 era a morte para ambos os infratores), o desejo intencional de despertar a luxúria é igualmente pecaminoso aos olhos de Deus.

 

Adulterar, para o judeu, observando-se a letra de Êx 20.14, seria deitar-se com a mulher do seu próximo. Para Jesus, isto é ainda algo mais. Atendendo ao espírito da lei e à disposição do coração que leva a cobiçar uma mulher, declara que pensamento impuro é adultério, embora não se pratique o ato.

 

 

Mutilação: Os versículos 29, 30 empregam a linguagem enérgica do Oriente, que, como é evidente, não se deve entender ao pé da letra[4], porque todos compreendem que o culpado não é o olho ou a mão, mas o coração perverso que desejou tal pecado.

Contexto Cultural:

A punição corporal (amputar os membros do corpo, p. ex., em Êx 21,24,25) é mais fácil de suportar que a pena de morte, isto é, o decreto de morte eterna pronunciado pelo tribunal celestial. Para alguns pensadores judeus, cada pessoa ressuscitaria exatamente da forma que morreu (p. ex., com membros mutilados, como no caso de muitos mártires) antes de ser restaurada, e Jesus utiliza essa imagem. Muitas fontes antigas usam o ato físico de “tropeçar”, como metáfora para o pecado.

 

Exposição:

 

Jesus não está ensinando uma doutrina masoquista de auto-mutilação com objetivos espirituais, e tampouco está sugerindo que o caminho para resolver o problema dos maus desejos é infligir cirurgia física radical. O significado deve ser: “Se olhar é uma armadilha ou laço para você, evite olhar de todas as maneiras”. É melhor ser desprovido de qualquer coisa nessa vida do que estar perdido para sempre.

 

A figura de linguagem de Cristo enfatiza a importância crucial de tomarmos quaisquer medidas que forem necessárias a fim de controlarmos nossas paixões naturais, que tendem a explodir se não houver governo. O que Jesus tem em mente é a cirurgia espiritual.

 

Não se pode cortar literalmente esses membros do corpo e assim ficar livres dos pecados. Os pecados estão no coração: “Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem.” (Mc 7.21-23).

 

Olho Direito: O verbo grego traduzido por te escandalizar skandalizo é cognato de um substantivo que significa armadilha. É provida de isca e uma tampa que, detonada, fecha a armadilha prendendo o incauto animal. Há muita ironia em que o olho, supostamente criado para prevenir as quedas, venha a tornar-se o skandalon causador do tropeço. Marvin Richardson Vincent comenta que “as palavras escândalo e difamação são derivadas de skandalon”.

 

Sobre O Divórcio (31,32):  Não só nos adverte que devemos vigiar nossos sentimentos íntimos, como vai muito além de Moisés na restrição ao divórcio.

 

Definição:

Rompimento legal dos laços matrimoniais que unem um homem e uma mulher. No Antigo Testamento, o divórcio era facilmente conseguido pelo homem. Se o marido, por exemplo, chegasse a não achar mais graça na esposa, podia dar-lhe de imediato a carta de repúdio. Todavia, com o advento do Cristianismo, os laços matrimoniais tornaram-se mais apertados. De acordo com o que ensinou o Senhor Jesus, o homem somente pode abandonar a sua esposa em caso de prostituição conjugal (Mt 19.9).

 

Contexto Cultural:

O Rabino El’azar, membro do Beit-Hillel, comentou no Gemara sobre este Mishná: “Quando um homem de divorciar de sua primeira esposa, até mesmo o altar derramará lágrimas”, citando Deuteronômio 24.13,14 como prova.

 

Análise Textual

Apostasion (5.31): “Certidão de divórcio” – Moffatt, “notificação escrita de divórcio” – Weymouth. O grego é uma abreviação de “apostasiou biblion” (Mt 19.7; Mc 10.4). Os papiros usam “apostasiou suggraphë” nas transações comerciais como “contrato de libertação”. A notificação escrita “Biblion” era uma proteção para a mulher contra o capricho do marido irado. Afinal, ele poderia manda-la embora sem lhe dar um documento comprobatório da sua nova condição civil.

 

O Divórcio E O Antigo Testamento:

A lei judaica prescrevia que se um homem se divorciasse de sua mulher, deveria dar-lhe uma carta de divórcio, antes de despedi-la (Dt 24.1).

A carta de divórcio deveria ser entregue na presença de duas testemunhas. A carta objetivava proteger a mulher contra ações arbitrárias, da parte de seu marido.

 

Observe que na sociedade judaica só o homem podia divorciar-se da esposa; a mulher não tinha esse direito.

 

Na passagem de Dt 24.1 a causa de divórcio é ter “achado nela qualquer coisa indecente”. Os rabinos divergiam quanto ao significado disso. A escola bastante estrita de Shammai entendia que se referia à falta de castidade, e nada mais. A escola mais liberal de Hillel interpretava o texto como se este se referisse a qualquer coisa que desagradasse ao marido, como por exemplo, queimar o jantar ou portar-se sem o devido respeito.  Diz-se que o rabino Akiba ensinava que se um homem tivesse encontrado outra mulher mais atraente do que sua esposa, teria encontrado “qualquer coisa indecente” em sua mulher, e tinha direito ao divórcio.

 

Exposição textual:

A interpretação que os judeus da época de Jesus, chegaram a ter da lei, começou a ter aplicação dupla: lenitiva para com os homens, e severa para com as mulheres. Um homem podia divorciar-se de sua esposa por qualquer pretexto, e tinha muita facilidade para tomar uma concubina. Aqui, bem como em outras questões, Jesus revela qual era a verdadeira intenção da Palavra de Deus, desde os primórdios.

 

Porneia gr. Podia referir-se a alguma impropriedade de caráter sexual anterior ao casamento, mas sem dúvida se refere, neste contexto, a um relacionamento adulterino após o casamento.

 

Sobre Os Juramentos (33-37)

Análise do Texto:

“Me omosai holos” (v.34): “De maneira nenhuma jureis”. Claro que Jesus não proíbe juramentos em tribunais, porque ele mesmo respondeu a Caifás sob juramento (Mt 26.63,64). Paulo fez apelos solenes a Deus (1 Co 15.31; 1 Ts 5.27). Jesus proíbe todas as formas de profanação. Os judeus eram mestres na arte de perder-se em minúcias sobre juramento permissíveis ou formas de profanação, exatamente como fazem os cristãos de hoje sob o pretexto de uma grande variedade de “palavras de baixo calão”.

 

“Perissós” (v.37): “Excedendo a medida habitual”, “o que for além disso”, “qualquer outro acréscimo”, “qualquer outra palavra adicional”. Deve-se poder confiar nas palavras dos discípulos de Jesus de tal modo que elas não necessitam de nenhum tipo de acréscimo para reforçá-las (não se tem em vista aqui juramentos prescritos pelo Estado, por exemplo, por ocasião do depoimento de testemunhas perante o tribunal.

 

Contexto Cultural:

Equívocos da parte dos rabinos e deliberada ambiguidade abriam a porta para abusos muito sérios no que concernia a votos.

 

Os juramentos invocavam o testemunho de uma divindade, pois acreditava-se que ela vingaria todo apelo falso a seu testemunho. As pessoas juravam por toda sorte de coisas, além de Deus, para testificar que sua palavra era verdadeira. O raciocínio era que se violassem o juramento com base em algumas dessas coisas menores não estariam trazendo desonra ao nome de Deus. Por fim, tornou-se necessário que os rabinos decidissem quais tipos de juramento as pessoas eram obrigadas a cumprir. Assim como um pequeno número de outros pensadores, Jesus enfatiza a necessidade de vivermos em total integridade, a ponto de não precisarmos dos juramentos. Ele afirma que todo objeto pelo qual poderíamos jurar pertence, em última instância a Deus e exige simplesmente que as pessoas sejam tão sinceras quanto suas palavras.

 

No Apócrifo Sirach 23.9 está escrito: “Não acostume sua boca a fazer juramentos e não use habitualmente o nome do Santo”. Philo de Alexandria recomendou que se evitasse totalmente fazer juramentos. O Talmud tem seu paralelo ao v. 37: “Deixe seu ‘não’ e seu ‘sim’ serem justos.”

 

Exposição do Texto:

Ao dizer que as pessoas antes eram ensinadas a não quebrar promessas feitas, mas cumprir com fidelidade cada voto de juramento apresentado ao Senhor, Jesus não cita direto do decálogo, mas fez um resumo de uma série de passagens relacionadas a esse assunto (Êx 20.7; Lc 19.12; Nm 30.2; Dt 23.21-23).

Aplica-se provavelmente aos juramentos em juízo, à praxe de blasfemar até a menção leviana do nome de Deus na conversação diária.

 

O juramento era permitido no Antigo Testamento, mas Jesus querendo que toda palavra nossa seja pura e inabalável (v.37), proíbe o juramento.

 

Schweizer escreve: “Quando a palavra humana se deteriora de tal modo que sob certas circunstâncias sim pode significar não, e não sim, a comunidade está destruída”.

 

Jesus defendeu que Deus está sempre presente quando os homens fala; por esta razão, todos devem falar honestamente.

 

Sobre A Vingança (38-42). O tema central é o altruísmo motivado pelo amor:

 Contexto Cultural: Uma das mais antigas leis do mundo baseia-se no princípio da retaliação equitativa. Chama-se lex talionis e era tão velha como Hamurabi, rei do século 18 a.C. Encontra-se três vezes no Antigo Testamento (ÊX 21.24; Lv 24.20; Dt 19.21). A intenção original era restringir a vingança ilimitada. Devia ser entendida como (apenas) olho por olho e (apenas) dente por dente. Além disso nunca teve o objetivo de propiciar qualquer retaliação individual; pertencia ao tribunal, e era aplicável pelo juiz. O propósito deste mandamento não era encorajar os homens a retribuir a agressão, mas proibi-los de executar uma penalidade maior que o crime. Em Sifra, comentando Lv 19. 18a lemos: “Contra os outros, vocês podem ser vingativos ou ter rancor”.

 

Análise do Texto:

 

“Ophthalmon anti ophthalmou kai odonta anti odontos” – “Olho por olho” (v.38): Note anti com a noção de troca ou substituição. A lei de talião é uma restrição à vingança desenfreada. “Limitava a vingança fixando uma compensação exata pelo dano. A Mishná permite pagamento em dinheiro. Ainda hoje a lei de talião vigora em alguns países.

 

A intenção desta lei era de controlar a vingança da pessoa lesada, não podendo ultrapassar a simples retribuição justa e exata (Dt 19.21; Lv 24.20). Esse princípio da retribuição deveria prevenir a arbitrariedade na jurisprudência, entre outras, uma crescente retribuição por vingança.

 

A legislação do “olho por olho” era parte da lei civil, administrada pelos juízes (Êx 21.22-25). Jesus não está legislando aqui, para os tribunais de justiça. O governo civil é de ordenação divina (Rm 13.1-7), para livrar a sociedade humana dos seus elementos criminosos. Quanto mais rigorosos forem os tribunais na distribuição da justiça, tanto melhor para a sociedade. Mas aqui Jesus está ensinando princípios pelos quais os indivíduos como indivíduos devem tratar-se mutuamente.

 

“Não resistais ao mal” (v.39):  Significa que a pessoa não deveria buscar justiça pelas próprias mãos.

Anti-histamai gr. (39): “Contrapor-se, oferecer resistência a, defender-se de”.

 

To ponero gr. (39): “Ao ser humano mau”, as pessoas más, àquele que faz algo maus contra vocês”. Seguem-se exemplo, de que, quando se trata de sua própria pessoa, os seguidores de Jesus não só devem suportar a injustiça – renunciando à vingança – mas também tratar seus semelhantes sempre com amor ativo (desse modo, porém, não se nega às instituições públicas do Estado de direito a legitimação e o dever de promover a imposição universal do direito).

 

“Se qualquer te bater na face direita” (v.39):  Os rabinos ensinavam que o tapa duplo era duplamente insultuoso.  A bofetada na face direita (p. ex., Jó 16.10; Lm 3.20) era o insulto mais grave no mundo antigo (com exceção do ato de infligir sério dano físico). Tanto a lei romana quanto a judaica permitiam a instauração de processo contra essa ofensa. Um profeta poderia vir a sofrer esses maus tratos (1 Rs 22.24; 2 Cr 18.23; Is 50.6). Um golpe na face não era só doloroso, mas constituía também uma ofensa grosseira. O melhor comentário sobre este versículo é a conduta do próprio Cristo quando esbofeteado; não incitou mais Seus inimigos voltando-lhes livremente a outra face, mas “quando ultrajado, não revidava com ultraje, quando maltratado não fazia ameaças” (1 Pe 2.23). Jesus apresentou uma lei mais elevada, a da não retaliação. Seu mandamento foi: “Não retribua a agressão!”. Jesus protestou quando levou uma bofetada no rosto (Jo 18.22); acusou abertamente os fariseus (Mt 23.1-39) e sempre lutou contra o Diabo. O linguajar de Jesus é ousado e pitoresco, e não deve ser considerado de forma extremamente literal. O Senhor também condena a guerra agressiva ou ofensiva que as nações fazem entre si, mas não necessariamente a guerra defensiva ou a defesa contra o roubo e assassinato. O pacifismo profissional pode ser mera covardia.

 

“Krino” (v.40):  Separar, julgar, disputar, discutir, debater, ir à justiça com alguém.

 

“Se alguém quiser demandar contigo e tirar-te a túnica” (v.40). “Chiton”, roupa de baixo, comprida, colada ao corpo, feita de algodão ou linho, um tipo de camisa ou camiseta, que podia ser reivindicada na justiça.

 

“Deixa-lhe também a capa” (v.40): “Himation” gr. peça de vestuário externo que servia de coberta à noite, capa. A lei judaica exigia que ninguém fosse privado de sua capa (himation, Êx 22.26-27) à noite, porque, de outro modo, o pobre não teria coberta para cobrir-se. Jesus aconselhava que se entregue à pessoa a túnica e também a capa. É óbvio que tal palavra não deve ser interpretada de forma estritamente literal. Jesus não está recomendando que seus discípulos deixem o tribunal nus!

 

“Aggareuein”:

 

Aggareusei, aggareuo gr. (v.41): Compelir, obrigar alguém forçosamente a prestar serviço, compeli-lo a servir goste ou não da tarefa; submeter a trabalhos forçados, obrigar.

A terceira ilustração concernente à não-retaliação é tirada da prática antiga de os exércitos convocarem os camponeses para carregar suas mochilas. O verbo grego angareuo “forçar” é de origem persa (o angaros era um mensageiro a cavalo sempre pronto para entregar um despacho oficial) e veio a tornar-se termo técnico para o alistamento compulsório.  Era um “mensageiro militar” ou um “mensageiro expresso”. Os persas tinha um sistema de correios de notáveis eficiências, como um serviço postal expresso. Heródoto faz uma descrição dele (Heródoto 8.98). “Nada viaja tão rapidamente quanto estes mensageiros persas. O plano inteiro é uma inversão persa”

Simão cireneu foi “forçado!” (Engareusan) pelos soldados romanos a carregar a cruz de Cristo (Mt 27.32). Os soldados romanos tinham, por lei, o direito de recrutar mão de obra, confiscar animais de tração e recursos dos moradores do lugar em que serviam (Mc 15.21). Embora o confisco talvez não ocorresse com frequência na Galiléia, ele ocorria em outras partes, e o fato de que poderia acontecer era suficiente para que o público de Jesus erguesse as sobrancelhas ao ouvir esse exemplo de não resistência [5]e até mesmo de serviço amoroso ao opressor.

 

Aggareuein é empregada três vezes no Novo Testamento, com o significado de obrigar. É a palavra usada em Mt 5.41, quando Jesus fala em andarmos duas milhas quando somos obrigados a andar uma só; e em Mt 27.32 e Marcos 15.21 é a palavra que é usada quando Simão de Cirene foi obrigado a carregar a Cruz de Jesus para o Calvário.

 

O serviço expresso continuava de dia e de noite, Xonofantes, diz sobre este serviço persa: “É inegável que este é o modo mais rápido do mundo de viajar em terra”. A lei rezava que qualquer pessoa podia ser obrigada a fornecer um cavalo ou servir de guia para manter este serviço andamento. E, portanto, aggareuein veio a significar “obrigar com força alguém a servir” compelir a servir quer goste, quer não.

 

Esta questão do recrutamento forçado era uma das humilhações mais amargas e mais constantes que as nações subjugadas tinham de suportar. Epicteto (4.1.79) fala de como o homem deve submeter-se a quanto os deuses lhe impõem. Ele nem sequer pode desejar a saúde, se os deuses quiserem retirá-la.

 

“Se alguém extorquir de ti o serviço mais desagradável e humilhante, se alguém te obrigar a fazer algo que invada os teus direitos e que eles não tem o direito de pedir, se fores tratado como uma vítima indefesa num país ocupado, não te ressente disto. Fazes o que te é pedido; fazes ainda mais, faze-o com boa vontade, porque este é o Meu modo de fazer” (Mt 5.41). Uma geração que está perpetuamente exigindo os seus direitos deveria pensar nisto.

 

 

A sessão encerra-se com o conselho para que dês “a quem te pedir, e não te desvies daqueles que quiser que lhe emprestes”. Os discípulos de Jesus não deveriam ser apanhados pela ansiosa preocupação das coisas que possuem. Devem usufruir a mesma liberdade que levou os crentes mencionados em Hebreus 10.34 a suportar com alegria a perda de todas as suas posses.

 

Dá a quem te pede (v.42): Devemos dar a todos que nos pedem, mas não devemos dar dinheiro todas as vezes que nos pedem. O apóstolo Paulo ordenou que se alguém não quer trabalhar, não coma (2 Ts 3.10). Contudo, isso não quer dizer que não devemos dar aos que necessitam, mas sim que discriminemos aquilo de que realmente necessitam. O que Jesus estava ordenando era um espírito generoso e compassivo em relação aos necessitados. Devemos ser perfeitos como Deus é perfeito (v.48); Ele dá a todos que pedem, mas não dá sempre a mesma coisa que pedem.

 

Havia mendigos por toda parte. A Bíblia enfatiza o ato de ajudar os necessitados (Dt 15.11; Sl 112.5,9; Pv 21.13). Deus cuidaria das necessidades dos que ajudavam os pobres (Dt 15.10; Pv 19.17; 22.9; 28.8). As leis bíblicas contra a usura e, especialmente, as que tratavam do ato de emprestar aos pobres antes do ano do perdão (Dt 15.9; a cada sete anos as dívidas deveriam ser perdoadas, cf. Lv 25) apoiam o princípio de Jesus aqui; mas ele vai mais longe ao ressaltar a necessidade de doar de modo generosos (Ler. Lc 6.35).

 

O Caráter Da Conduta Do Crente:

É submisso (v.39).

É altruísta (v.40).

É prestável, e empresta, embora evite tomar emprestado, para nada dever a ninguém (Rm 13.8).

É beneficente, não somente aos bons mas também aos maus, e diz bem até aos maldizentes;

É dado à oração, pedindo pelos amigos e inimigos, desejando a sua felicidade espiritual.

 

Agora, Jesus troca a retaliação limitada por nenhuma retaliação.

 

Sobre O Amor Ao Próximo (43-48).

 

“Odiarás aos Inimigos” (v.43), não é prescrição do Pentateuco. [6]Pode estar implícito na maneira de Israel tratar seus inimigos, em alguns casos do Antigo Testamento, e em alguns dos Salmos. Embora, que assim tenha sido, Jesus proíbe. Os judeus consideravam que só outros judeus (e prosélitos, ver Lv 19.3-44) eram vizinhos. Mas Jesus ensinou o amor para com todos, considerando-os além disso o sinal pelo qual o mundo reconheceria os filhos do Pai Celestial (Jo 13.35).

 

O fundamento da ética judaica está em Lv 19.18: “não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo, mas amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Com frequência se menciona que em parte alguma do Antigo Testamento se encontra uma regra explícita para que se odeie o inimigo. Muitos versículos incitam Israel a opor-se ativamente a seus inimigos nacionais (Dt 7.2; 23.6). Esta atitude se encontra nos sectários de Qumran, que receberam a ordem de “odiar todos os filhos das trevas” (1 QS 14.10).

 

Jesus agora estende a definição de plesion “próximo, vizinho” – em Levítico 19.18, de modo que passe a incluir os inimigos, e aqueles que nos perseguem. É útil lembrar que o ensino ético de Jesus dirige-se primordialmente ao indivíduo, à pessoa, em vez de à nação, à sociedade, no sentido mais amplo. Dentro do âmbito dos relacionamentos de todos os dias, não existe uma categoria que possa receber o rótulo de “inimigo”.  Todas as pessoas que encontramos (até mesmo as que tentam abusar de nós) são nossos amigos e, portanto, seres a quem devemos amara. Observe que amar envolve interesse ativo: orai pelos que vos perseguem (v.44).

 

“Orai” (v.44): Note-se que diz: Orai, e nunca: “Matai!”. O Antigo Testamento não ensinava claramente o ódio aos inimigos (Êx 23.4,5; Pv 25.21,22) embora odiar os inimigos de Deus fosse um sentimento sagrado (Sl 139.19-22). Alguns grupos judeus, como os essênios destacavam o ódio por quem estivesse fora da aliança. A ética grega ressaltava, às vezes, a necessidade de aprender com as críticas dos inimigos, mas também era capaz de enfatizar a necessidade de ferir os inimigos mais do que somos feridos por eles (era o que ensinava, p. ex., Isócrates, orador e retórico ateniense do século 4 a.C). Alguns filósofos prezavam a não resistência, mas outro respondiam aos críticos de modo duro e arrogante.

 

O padrão da vida do crente é “como faz também o vosso Pai” (v.45). Os filhos de Deus devem clamar como o grande Filho de Deus: “Pai perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34).

 

 

A Recompensa Da Conduta Do Crente (46-48)

 

Será principalmente em ter a aprovação de Deus; também sentirá a íntima satisfação em ter procedido bem – a aprovação da própria consciência, e, ainda mais, pode ver o fruto imediato na apreciação que seus vizinhos hão de manifestar.

 

Perfeitos (v.48): Jesus aponta para a absoluta perfeição do amor de Deus, como alvo do crente (cf. 1 Pe 1.15,16). Não se debate a possibilidade filosófica do absoluto amor perfeito na terra: quem pertence a Cristo, pratica a verdadeira piedade (1 Jo 1.6-10), e já tem sua absoluta garantia da transformação final (1 Jo 3.2).

A última declaração de Jesus (v.48) com frequência é mal interpretada. Tem servido como texto para a doutrina da perfeição cristã, que requer do cristão impecabilidade moral absoluta. No fim, a heresia apenas reclassifica o pecado como algo menos sério do que na verdade é. A perfeição para a qual Jesus conclama seus seguidores está definida no contexto. O perfeito amor é um interesse ativo por todas as pessoas, em todos os lugares, independentemente de elas receberem ou não esse amor. Ao agirmos assim, estamos imitando Deus, e demonstrando que somos seus filhos (v.45).

 

A palavra grega teleios “perfeitos” significa “ter atingido o objetivo/ propósito”. Desde que os seres humanos foram feitos à imagem de deus (Gn 1.26), tornam-se “perfeitos” quando tentam demonstrar em suas vidas as características que revelam a natureza de Deus.

 

A retórica antiga muitas vezes incluía declarações que resumiam a mensagem central ao fim de um discurso ou seção. A palavra aramaica para “perfeito” pode significar “completo” ou “inteiro” e inclui a ideia de ser “misericordioso” (Lc 6.36). A Bíblia já tinha dado a ordem a seu povo que fosse santo como Deus é santo (Lv 11.44,45: 19.2; 20.26), e o judaísmo (bem como alguns filósofos gregos) às vezes defendia uma ética cuja base era a imitação da natureza de Deus.

 

O Padrão Perfeito – hupogrammos (1 Pe 2.21):

 

Há somente uma ocorrência da palavra “hupogrammos” no Novo Testamento, mas é uma ocorrência com uma quadro vívido por detrás dela. Pedro disse a respeito de Jesus que “deixou-nos exemplo para seguirmos os seus passo” (1 Pe 2.21).

A palavra hupogrammos provém da educação primária grega. É uma palavra que tem a ver com o modo de os meninos gregos serem alfabetizados.

O método pelo qual os meninos foram ensinados a escrever nos é delineado em dois lugares. Platão no Protágoras nos conta que ao ensinar a arte de escrever, o professor da matéria primeiramente riscava linhas (hupographein, que é o verbo que corresponde ao substantivo hupogrammos) com um estilete, para o uso do aprendiz, e depois dava a este prática. Isso significava duas coisas. O professor riscava linhas paralelas para conservar reta a escrita do menino; e também escrevia na parte de cima da tábua uma linha escrita que o menino tinha de copiar. Aquela linha era o hupogrammos, o padrão que o menino devia seguir. Aquela era a linha perfeita de escrita que o professor, escrevia em cima da página e que o aluno tinha que copiar. Desse modo, Pedro está dizendo: “Assim, como o estudante aprender a escrever copiando de um modelo perfeito de caligrafia, assim, também nós somos estudantes na escola da vida, e somente podemos aprender a viver copiando o padrão perfeito da vida que Deus nos apresentou”.

Mas há outra maneira de usar hupogrammos que pode contribuir para o significado de Pedro.  Quintiliano na sua Educação de um Orador nos diz que às vezes o mestre-escola gravava as letras na cera da tábua; e então a mão do menino “é guiado ao longo dos sulcos, porque então não cometerá erro algum”. De início, o mestre ajudava o menino colocando sua mão sobre a do estudante, mas depois o deixava tentar sozinho, e as beiras dos sulcos não o deixavam “desgarrar-se além dos limites”. Aquilo, também, devia estar na mente de Pedro. Simplesmente ter que copiar do hupogrammos sozinho, com frequência devia ser difícil e desanimador; mas quando o estudante tinha a mão do professor segurando a sua, e tinha os sulcos para seguir, isso devia tornar as coisas muito mais fáceis. Jesus não nos dá apenas um exemplo e nos deixa assim; um exemplo pode ser a coisa mais desanimadora no mundo. Durante séculos, os homens olhavam os pássaros voarem e não conseguiram fazer a mesma coisa. Um homem pode observar um campeão de futebol e não lhe restar nada senão o desejo de queimar suas próprias chuteiras. Um pianista pode ver e ouvir um concertista famoso e apenas tomar a decisão de nunca mais tocar piano! Mas Jesus faz mais do que nos oferecer um exemplo.  Assim como a mão do mestre guiava os primeiros esforços do estudante inseguro, assim também dentro dos limites, assim a Sua graça nos dirige. Ele não somente nos deixou um hupogrammos maravilhosamente perfeito, como constantemente nos ajuda a segui-lo.

 

A perfeição transcendente do amor de Deus é vista em:

 

Sua universalidade, pois todos os homens estão incluídos;

Sua compaixão, pois ele a estende aos ímpios e indignos, incluindo aqueles que não o amam em retribuição.

Sua praticidade, pois busca ativamente o bem-estar deles enviando o seu Filho.

 

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA

Manual Bíblico H.H.Halley VIDA NOVA

Bíblia Explicada – S.E. McNair CPAD

Bíblia Shedd

Novo Comentário Contemporâneo Mateus – Robert H. Mounce VIDA

Espada Cortante Vol 1 – Orlando Boyer CPAD

Dicionário Teológico – Claudionor De Andrade CPAD

Comentário Histórico-Cultural Da Bíblia Novo Testamento – Craig S. Keener VIDA

Comentário Bíblico Beacon Vol 6 CPAD

Comentário Mateus & Lucas À Luz Do Novo Testamento Grego – A. T. Robertson CPAD

Comentário Bíblico NVI VIDA

Chave Linguística Do Novo Testamento Grego Fritz Rienecker/ Cleon Rogers VIDA NOVA

Palavras Chave Do Novo Testamento – Wiliam Barclay VIDA NOVA

 

 

[1] A divisão tríplice das Escrituras (Lc 24.44) ainda não tinha se tornado geral, de modo que aqui a expressão “profetas” (v.17) significa todos os livros do Antigo Testamento, exceto a Lei.

[2] Posteriormente rabinos contavam a história de que, após Deus substituir o nome de Sarai por Sara, o yôd removido queixou-se a ele durante gerações, até que o Senhor o reinseriu no nome de Josué. Em outra história posterior, um yôd se queixou de que o rei Salomão tentava arrancá-lo da Bíblia. Deus respondeu que mil Salomões seriam arrancados, mas nenhum yôd seria tirado das Escrituras. Os mestres judeus usavam ilustrações como essas para ensinar que a Lei era sagrada e que não era possível considerar alguma parte dela insignificante demais para ser obedecida.

[3] Aqui talvez ele utilize o costume da prisão por dívida como outra imagem na parábola; tratava-se de um costume não judaico. Mas os ouvintes judeus conheceriam essa prática entre os gentios. Não havia misericórdia: a quantia em dinheiro à ser paga incluiria até o último quadrans (lat.) uma das moedas romanas de menor valor, equivalente ao salário de poucos minutos de trabalho.

[4] Orígenes, que é considerado um dos autores cristãos mais prolíficos e originais da antiguidade, quando seus impulsos sexuais pareciam interferir em seus estudos e sua devoção, simplesmente se emasculou.

[5] A hierarquia judaica apoiava o status quo de Roma; já alguns revolucionários queriam uma insurreição. A maioria dos judeus palestinos do período queria a liberdade, mas não era composta de revolucionários; contudo é possível que ao menos alguns habitantes dos vilarejos da Galiléia apoiassem aos poderes vigentes. Por volta de 66 d.C., a Palestina judaica se tornou palco de guerra, e a sabedoria dos ensinamentos de Jesus ficou bem evidente em 70 d.C.: Roma venceu a guerra, e o povo judeu, levado à derrota pelos revolucionários, foi esmagado.

 

[6] O preceito, “odiará o teu inimigo”, não se encontra, de forma alguma, nas Escrituras. Cristo, no sermão do monte, tratava mais das tradições judaicas do que da própria lei de Moisés. O Talmud, a disciplina dos judeus, não ensina o amor para com os inimigos. O Manual de Disciplina de Qumram contém a seguinte regra: “... amar todos os que Ele escolhe e odiar a todos os que Ele rejeitou” (1 QS 1.4).