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A NATUREZA DO HOMEM

A NATUREZA DO HOMEM

A composição do homem – as principais teorias:

Posição dicotomista:

Definição: Dicotomia vem do grego dicha, “dois” e temno, “cortar”. Daí, o homem é um ser de duas partes, consistindo de corpo e alma. A parte imaterial é a alma e espírito, as quais são da mesma substância.

 

Argumentos da posição dicotomista:

Gênesis 2.7 afirma somente duas partes (corpo e alma) – (cf. Jó 27.3).

As palavras alma e espírito são usadas de forma intercambiável (Gn 41.8 – Sl 42.6; Hb 12.23 – Ap 6.9)

Corpo e alma (espírito) juntos são mencionados como que constituindo a pessoa por inteiro (cf. Mt 10.28; 1 Co 5.3; 3 Jo 2).

 

Pais da igrejas que ensinaram a dicotomia: A Igreja Ocidental, geralmente defendeu uma posição dicotomista. Exemplo: Agostinho, Anselmo.

 

Posição tricotomista:

Definição: Tricotomia vem do grego tricha, “três” e temno, “cortar”. Daí, o homem é um ser de três partes, consistindo de corpo, alma e espírito. A alma e espírito são ditos diferentes, tanto em função quanto em substância.

 

Declaração: O corpo é visto como consciente do mundo, a alma como consciente do eu, e o espírito como consciente de Deus.

 

Argumentos da posição tricotomista:

Paulo parece enfatizar uma divisão de três partes ao desejar a santificação da pessoa por inteiro (1 Ts 5.23).

Hebreus 4.12 implica uma distinção entre alma es espírito.

1 Coríntios 2.14 – 3.4 sugere uma classificação tripla: natural (carnal), anímico (da alma) e espiritual.

 

Pais da igreja que ensinaram a tricotomia: Originalmente, os Pais da Igreja Gregos e Alexandrinos defenderam esta posição, incluindo homens como Orígenes e Clemente de Alexandria.

 

Posição multifacetada: Embora alma e espírito sejam termos comuns, usados para descrever a natureza imaterial do home, há vários termos adicionais que descrevem a natureza do homem.

Coração: o coração descreve o intelectual (Mt 15.19-20) bem como a parte da volição do homem (Rm 10.9-10; Hb 4.7).

 

Consciência: Deus colocou uma consciência no homem como um testemunho. A consciência é afetada pela queda e pode ser dessensibilizada e irreal (1 Tm 4.2) contudo, ela pode convencer o descrente (Rm 2.15). No crente ela pode ser fraca e escrupulosa ao extremo (1 Co 8.7,10,12).

 

Mente: A mente do descrente é depravada (Rm 1.28), cega por Satanás (2 Co 4.4), obscurecida e fútil (Ef 4.17,18). No crente há uma mente renovada (Rm 12.2) que lhe capacita amar a Deus (Mt 22.37).

 

Vontade: O descrente tem uma vontade que deseja seguir o que a carne dita (Ef 2.2-3), ao passo que o crente tem a habilidade de desejar fazer a vontade de Deus (Rm 6.12-13)

 

O corpo:

Termos que descrevem o corpo.

Casa ou tabernáculo (2 Co 5.1): É a tenda na qual a alma do homem, qual peregrina, mora durante sua viagem do tempo para a eternidade. A morte desarma a barraca e a alma parte (Is 38.12; 2 Pe 1.13,14).

Invólucro (Dn 7.15): O corpo é a bainha da alma. A morte é o desembainhar a espada.

Templo. O templo é um lugar consagrado pela presença de Deus – um lugar onde a onipresença de Deus é localizada (1Rs 8.27,28), a figura se aplica a Cristo (Jo 2.21; 2 Co 5.19) e aos crentes (1 Co 6.19).

 

Estrutura do corpo:

As Escrituras fazem uma distinção entre o material (corpo) e o não material (alma/espírito) (cf. 2 Co 5.1; 1 Ts 5.23).

Gênesis 2.7 indica que o corpo do homem foi formado do pó da terra. Há um jogo de palavras proposital: “O Senhor Deus formou o homem (Adam) do pó da terra (adamah)”.

O próprio nome Adão era para lembrar o homem de sua origem: ele é da terra “Pois ele conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó” (Sl 103.14).

Uma análise química do corpo humano, revela que os componentes do homem são aquelas da terra: cálcio, ferro, potássio e assim por diante.

Além disso na morte, o corpo se reúne com o pó da terra no qual teve a sua origem (Gb 3.19; Sl 104.29; Ec 12.7).

 

O Envelhecimento Humano (Ec 12): É uma descrição maravilhosa da idade avançada com suas enfermidades:

“Não tenho neles prazer” – falta de interesse e de ideais.

“Antes que se escureçam o sol, a lua, e as estrelas do esplendor da tua vida” – fraqueza do corpo.

“No dia que tremerem o guardas da casa, os teus braços”

“E se curvarem os homens outrora fortes, as tuas pernas”

“e cessarem os teus moedores da boca, por já serem poucos”

“e se escurecem os teus olhos nas janelas”

“e os teus lábios, quais portas da rua, se fecharem; no dia em que não puderes falar em alta voz”

“te levantares à voz das aves, e todas as harmonias, filhas da música, te diminuírem”

“como também quando temeres o que é alto”

“e te espantares no caminho”

“e te embranqueceres, como floresce a amendoeira”

“e o gafanhoto te for um peso”

“e te perecer o apetite” Sexual.

“porque vais à casa eterna”

“os pranteadores andem rodeando pela praça”

“Antes que se rompa o fio de prata”

“e se despedace o copo de ouro”

“e se quebre o cântaro junto à fonte”

“e se desfaça a roda junto ao poço”

“e o pó volte à terra, como o era”

“e o espírito volte a Deus, que o deu”

 

Posições concernentes ao propósito do corpo:

O corpo é a prisão da alma: Esta era a posição dos filósofos gregos que faziam uma grande dicotomia entre o corpo e a alma. A alma era imaterial e boa, enquanto o corpo era material e mau. Esta é uma visão distorcida sobre o corpo. Cantares de Salomão, por exemplo em sua inteireza focaliza o valor do corpo humano e o êxtase da expressão sexual e amor conjugal. A revelação divina deixa claro que “o homem é... uma unidade – um ser – e o material e imaterial podem ser separados somente pela morte física”.

 

O corpo é a única parte do homem que é importante. Esta posição é chamada de Hedonismo e representa o oposto da visão precedente. Os hedonistas sugerem que a pessoa deve buscar o prazer do corpo fazendo o que for que lhe agrade. Esta filosofia é uma negação da alma. O testemunho de Jesus Cristo invalida esta posição em que Cristo falou sobre o enorme valor da alma em distinção do corpo (Mt 10.28; 16.26). Outras referências também afirmam a existência da alma (2 Co 5.8; Ec 12.7).

 

O corpo é o parceiro da alma: O corpo é o meio de glorificar a Deus, desde que ele é o templo de Deus (1 Co 6.19). O corpo não deve ser o senhor, assim que o crente supra-se em autoindulgência, nem deve ser um inimigo que precise ser punido. O corpo deve submeter-se a Deus (Rm 12.1) a fim de que Cristo possa ser glorificado naquele corpo (Fp 1.20). Finalmente, o crente será recompensado pelas obras feitas no corpo (2 Co 5.10).

 

A alma:

“A alma deseja unir-se a Deus em perfeito amor” – Francisco Arias

 

A origem da alma:

Teoria da preexistência:

Esta posição advoga que a alma humana existe previamente, tem como suas raízes na filosofia não-cristã; ela é ensinada no hinduísmo, e também foi defendida por Platão, Filo de Alexandria, Orígenes, Justino Mártir, Emmanuel Kant e Russell Norman Champlin

 

Esta teoria ensina que em uma existência prévia os homens eram espíritos angélicos, e como punição e disciplina pelo pecado, eles foram enviados para habitar em corpos humanos.

 

Falhas desta teoria:

Não há nenhuma declaração clara nas Escrituras que apoie esta posição (embora a ideia possa ter sido apresentada em Jo 9.2).

Ninguém tem qualquer recordação de tal existência.

Tampouco o homem sente que o corpo é uma prisão ou um lugar de punição para a alma.

A Bíblia nunca fala de uma criação dos homens antes de Adão.

A doutrina do pecado não é relacionada ao pecado de Adão em Gênesis 3 mas ao pecado na esfera angélica. Não há uma apostasia antes da queda.

 

Teoria da criação:

Esta teoria ensina que cada alma humana é uma criação imediata e individual por parte de Deus.

Somente o corpo é formado pelos pais. É incoerente supor que uma substância espiritual possa ser produzida através de uma união física.

Esta posição é defendida pelos Católicos Romanos, por Cirilo, Clemente de Alexandria, Gregório de Nizianzo, Jerônimo, Ambrósio, Anselmo, Aristóteles, Pelágio, Pedro Lombardo, Atanásio, Tomás de Aquino, Calvino, A.A Hodge, Charles Hodge, Louis Berkhof,

 

Argumentos:

No relato original da criação há marcante distinção entre o corpo e a alma. O corpo procede da terra e a alma

Ela preserva a pureza de Cristo – com esta posição, Cristo não poderia ter herdado a natureza pecaminosa de Sua mãe;

É feita uma distinção entre um corpo mortal e uma alma imortal – os pais podem propagar um corpo mortal mas somente Deus pode produzir uma alma imortal.

 

Falhas:

Ela necessita de uma queda individual para cada pessoa porque Deus só pode criar algo perfeito.

Ela não dá contas sobre o problema do porque todos os homens pecam.

 

Teoria traduciana:

Afirma que a alma bem como o corpo é gerada pelos pais. O homem é uma espécie, e a ideia de uma espécie implica a propagação de um indivíduo por inteiro a partir dela... indivíduos não são propagados em parte.

A partir de Adão e Eva, todas as almas passam a ser transmitidas pelos pais aos filhos, juntamente com o corpo.

Defensores do Traducianismo: Tertuliano, Agostinho, Apolinário, Gregório de Nissa, Martinho Lutero, Augustus Hopkins Strong, Norman Geisler, Charles C. Ryrie

 

Argumentos:

Nenhum ato novo como criar novas almas é indicado.

A posição explica a depravação do homem. Se os pais passam à frente a natureza imaterial então isto explica a propagação da natureza pecaminosa e a tendência desde o nascimento, de cada ser humano pecar.

A natureza pecaminosa não pode ser explicada se Deus cria cada alma individualmente.

O traducianismo também explica o fator hereditário – o intelecto, personalidade e similaridades emocionais dos filhos e seus pais. Tanto o aspecto físico como o psicológico desenvolvem-se juntos.

Se a teoria da criação estivesse correta as similaridades não deveriam ser prevalecentes e notórias.

As Escrituras parecem afirmar a posição traduciana: (Sl 51.5; Rm 5.12; Hb 7.10).

 

Falhas:

Como os pais podem transmitir uma alma, que é imaterial?

Cristo deve ter participado da natureza pecaminosa de Maria, se o Traducionismo é verdadeiro.

 

O espírito:

“Mesmo que sejamos mortais, isto não é motivo para nos contentarmos com as coisas mortais” – Aristóteles

 

Definição: O espírito é a sede da imagem de Deus no homem. O espírito é o canal através do qual o homem pode conhecer a Deus e as coisas inerentes ao seu domínio.

 

O espírito e a alma: A alma sobrevive à morte porque o espírito a dota de capacidade: por isso a alma e o espírito são inseparáveis.

 

O espírito humano, representando a natureza suprema do homem, rege a qualidade de seu caráter. Por exemplo:

 

Se o homem permitir que o orgulho o domine, ele tem um “espírito altivo”. Conforme as influencias respectivas que o dominem, o homem pode ter um espírito:

Perverso (Is 19.14).

Rebelde (Sl 106.33).

Impaciente (Pv 14.29).

Perturbado (Gn 41.8).

Contrito e humilde (Is 57.15; Mt 5.3).

De escravidão (Rm 8.15)

De inveja (Nm 5.14).

Assim é que o homem deve:

Guardar o seu espírito (Pv 3.23).

Dominar o seu espírito (Ez 18.31).

Confiar em Deus para transformar o seu espírito (Ez 11.19).

 

O homem – a imagem de Deus: Francis Schaeffer... mostra um otimismo que somente pode ser encontrado nos discípulos do Nazareno: “O homem ainda conserva a imagem de Deus – distorcida, quebrada, anormal, mas ainda assim é portador da imagem de Deus”.

Teorias sobre a imagem de Deus:

Teoria substantiva:

Definição: A imagem consiste em certas características da própria natureza da raça humana, características que podem ser físicas, psicológicas e espirituais.

A ideia da imagem de Deus na constituição física: Fundamentada na leitura literal da palavra hebraica selem que, em seu sentido concreto significa “estátua”. Por essa interpretação, Gn 1.26 significa algo como: “façamos o homem segundo a nossa aparência”

A ideia da imagem de Deus na constituição psicológica ou espiritual: A ideia de considerar a razão como característica singular que distingue os homens das outras criaturas.

 

Teoria Relacional:

Definição: Consideram a imagem não como algo intrinsicamente presente na humanidade, mas como a vivência de um relacionamento entre os homens e Deus ou entre dois ou mais homens.

A ideia da imagem de Deus na concepção relacional: Somos a imagem, quando entramos em determinado relacionamento. Na realidade, tal relacionamento é a imagem. Diz respeito ao relacionamento dos homens com Deus, que constitui a imagem de Deus, é refletido no relacionamento dos homens entre si. A imagem é algo que a pessoa experimenta, sendo ela dinâmica e não estática.

 

Teoria Funcional:

Definição: A imagem de Deus consiste no que o ser humano faz, e não em algo que os homens são ou que os homens vivenciam.

A ideia da imagem de Deus na concepção funcional: A imagem consiste em algo que fazemos. Trata-se de uma função que exercemos, sendo a mais mencionada o exercício do domínio sobre a criação (Gn 1.26-28).

 

O que é a imagem de Deus?

É a marca que o Senhor Deus imprimiu no ser humano, distinguindo-o das demais obras criadas (Gn 1.26). Com esta expressão, a Bíblia deixa claro que nós nos parecemos com o Senhor Deus. Haja vista, por exemplo, a encarnação do Cristo. Em tudo, sendo Deus, foi gerado semelhante a nós.

 

Elementos da imagem de Deus no homem:

Personalidade: O homem tem uma autoconsciência e uma autodeterminação que lhe capacita a fazer escolhas, colocando-o acima do nível dos animais. Este fator é importante porque ele faz o homem capaz de redenção. Mas esta faceta envolve muitos elementos naturais; personalidade revela a habilidade do homem de exercer o domínio sobre o mundo (Gn 1.28) e desenvolver a terra (Gn 2.15).

 

Ser espiritual: Deus é Espírito, a alma humana é um espírito. O homem é distinto de todos os outros habitantes deste mundo e foi colocado imensuravelmente acima deles. Ele pertence à mesma ordem de ser como o próprio Deus, e assim é capaz de comunhão com Seu Criador... Trata-se também da condição necessária de nossa capacidade de conhecer a Deus, e portanto é a função de nossa natureza religiosa. Se nós não fôssemos como Deus, não poderíamos conhecê-Lo. Nós seríamos como as feras que perecem.

 

Natureza moral: O homem foi criado em um estado de “justiça original” também referida como “conhecimento, justiça e santidade”. Esta justiça e santidade originais foram perdidas através da queda mas são restauradas em Cristo. Efésios 4.24 enfatiza que o novo homem do crente está “criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade”. Colossenses 3.10 declara que o novo homem “... se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou”, uma referência a Gênesis 1.26.