2 JOÃO
As Ameaças De Um Cristianismo Mais
Avançado E Inovador
INTRODUÇÃO
Segunda João é um bilhete pessoal, o qual foi enviado pelo apóstolo João, “à senhora eleita e seus filhos”. Ela tem sido chamada de “uma pérola da correspondência sagrada”.
Autor: O Apóstolo João.
Autor desconhecido: Alguns estudiosos entenderam que certo “João, o presbítero”, é alguém desconhecido, um personagem nebuloso de existência incerta.
João, o Apóstolo: A autoria joanina salta os olhos diante do estilo e do conteúdo do bilhete, que notavelmente, lembra 1 e 3 João e o próprio evangelho de João.
Data: Provavelmente 90 d.C. Não há indício de grande intervalo entre à redação de 1 João e 2 João. João deve ter escrito durante o seu ministério
Destinatário: João escreve esta epístola “à senhora eleita, e a seus filhos”.
Contexto:
Assim como 1 João, 2 João trata do problema dos secessionistas.
Os Secessionistas haviam sido parte da comunidade cristã a que João se dirige, mas haviam se retirado.
Estes adotavam uma perspectiva inadequada a respeito de Cristo, que consistia, provavelmente, em um meio-termo entre o cristianismo e o judaísmo, adotado por causa da pressão das sinagogas. Ou em uma relativização de Jesus para permitir um meio-termo entre o Cristianismo e o paganismo. A segunda hipótese é a mais provável.
Para os Secessionistas, Jesus era um grande profeta – assim como João Batista e os próprios líderes secessionistas –, mas não era o Senhor supremo encarnado (cf. 1 Jo 4.1-6; Ap 2.14,20).
Há quem sugira que os secessionistas estavam afiliados a Cerinto ou foram precursores dele (o qual propunham uma distinção entre o Cristo divino e o Jesus humano, assim como fazem alguns teólogos modernos) ou docetistas (que afirmam que Jesus apenas parecia humano). Cerinto ensinava que Jesus era filho biológico de José e Maria, não Deus vindo em carne.
Todos esses meios-termos ajudavam os seguidores das falsas doutrinas a se adaptar melhor aos valores da própria cultura – mas os afastavam da verdade proclamada pelas testemunhas oculares que haviam conhecido Jesus pessoalmente.
Tema-chave: Amar e viver a verdade (v.4)
Propósito da Epístola: João a escreve com o fim de lhes dar coragem para perseverar na verdade, evitando apoiar os enganadores. Ela, aparentemente patrocinava reuniões com pregadores visitantes em sua casa (v.10), como Ninfa em Laodicéia (Cl 4.15). O apóstolo a encoraja e a alerta contra doutrinas deturpadas, sugerindo que não patrocine ninguém que pregue nada menos que a plena divindade e humanidade de Cristo.
O estilo da carta: Diferentemente da primeira (1 Jo), 2 João e 3 João, são “verdadeiramente cartas, cada uma num tamanho que facilmente caberia numa típica folha de papiro (25 cm x 20 cm) e seguindo o modelo das cartas daquela época. São as que mais se aproximam do formato de uma carta convencional do mundo greco-romano. A carta de 2 João talvez funcione como “carta oficial”, como as que os sumo sacerdotes enviavam aos líderes judeus fora da Palestina.
O Cânon de 2 João:
O tamanho e a ausência de um destino para a epístola de 2 João fizeram com que a igreja primitiva não desse atenção à epístola. Poucos dos primeiros líderes fizeram referência a ela, se bem que alguns líderes conheciam a epístola. Eusébio colocou-a junto com 3 João entre os livros do Novo Testamento que não eram aceitos por todos, mas depois da época de Eusébio os dois textos foram, de modo geral, aceitos sem muita discussão.
João apresenta o essencial para o andar pessoal do crente numa época em que “muitos enganadores entraram no mundo” (v.7).
O ELOGIO À SENHORA ELEITA (1.1-4)
Quem era a “senhora eleita”.
Uma mulher: a palavra senhora no grego é “kyria”, que pode ser nome próprio, e talvez deva ser assim entendida aqui. Era muito comum entre os gregos. É possível que esta carta tenha sido dirigida a uma notável crente chamada “Kyria”, que morava perto de Éfeso, onde João ministrava na sua velhice.
“Senhora eleita” ou “mãe espiritual” pode ser referência a uma profetisa/ presbítera.
Alguns estudiosos identificam a “senhora eleita” com a igreja de Pérgamo.
Tertuliano fala da domina mater ecclesia, da “senhora mãe igreja”
Outros, entendem que a carta foi endereçada a uma certa Babilônia Electa. Pedro faz a seguinte referência “a vossa co-eleita em Babilônia vos saúda” (1 Pe 5.13)
Essa parece ser uma maneira disfarçada de se referir à congregação local, com o objetivo de evitar o escrutínio do censor romano. Da mesma forma “sua irmã eleita” (v.13).
A expressão provavelmente é uma referência a uma igreja local sobre a qual o presbítero tinha autoridade.
Os “filhos” seriam os membros dessa igreja.
A declaração de amor de João (v.1,2) e o mandamento do amor (v.5) são mais apropriados para uma igreja do que para uma pessoa.
O mandamento de não abrigar falsos mestres (v.7-11) também se harmoniza melhor com uma igreja local do que com uma família isoladamente.
Tanto Israel como a Igreja eram retratados como mulheres.
Kyria: Um título respeitoso, usado quando alguém se dirige a uma mulher ou fala a respeito dela – “senhora, querida senhora” – “o presbítero (escreve) a ti, querida senhora, e aos teus filhos” (2 Jo 1). Porém, é provável que, aqui se refira à igreja como uma “senhora”. Kyria também é um nome próprio, é o equivalente grego do nome “Marta”.
A Irmã eleita: Se referia à congregação do próprio João. Entretanto, “a simplicidade da pequena carta impossibilita uma alegoria tão elaborada, enquanto a ternura do seu tom caracteriza-a como comunicação pessoal” – David Smith
Eklego gr. escolher, eleger, selecionar, escolhida, eleita (v.1).
A Saudação (1.1-3). “Graça, misericórdia e paz do Pai e do Filho”.
Graça, misericórdia e paz:
Graça: O favor de Deus para com os pecadores.
Misericórdia:
As definições pré-cristã do vocábulo incluem o elemento de pesar experimentado por causa do sofrimento injustificado de outro.
O termo latino misericórdia (miser, “desgraçado, miserável”; cor, “o coração”) carrega a mesma ideia.
Como Cícero define-a: “A tristeza ou pesar que surge de infelicidade ou tristeza por causa do sofrimento injusto de outra pessoa.
Falando estritamente, o vocábulo quando aplicado a Deus não pode incluir esses elementos, uma vez que pesar não pode ser atribuído a Ele e que o sofrimento é o legítimo resultado do pecado. O sentimento em Deus assume o caráter de amor compassivo. Misericórdia é bondade e boa vontade em relação ao miserável e ao aflito junto com o desejo de aliviar essa dor.
Paz: É o estado resultante de integridade quando o pecado e a miséria são removidos.
João se identifica como ho presbuteros “presbítero” (v.1). O apóstolo Pedro também se identificava como presbítero “Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles” (1 Pe 5.1). A simples e solitária dignidade do último apóstolo de Cristo que ainda vivia. Talvez o uso informal e mais íntimo de ancião (ERC) em lugar de “apóstolo” ajude a defender o ponto de vista de que a carta foi dirigida a uma pessoa em particular e não a uma igreja. O termo significa essencialmente alguém de idade avançada. É provável que ele reconhecesse sua posição entre as igrejas que estavam sob sua supervisão como o reverendo, mestre e pregador ancião.
Ho presbuteros:
A palavra se referia originalmente à idade (Lc 15,25).
Mais tarde, passou a ser usado como um termo de posição ou cargo.
Aplicado ao sinédrio (Mt 16.21; At 6.12).
Àqueles que presidiam as assembleias ou igrejas cristãs (At 11.30; 1 Tm 5.17,19).
Os vinte e quatro membros da corte celestial na visão de João (Ap 4.4,10; 5.5-6, 8, 11, 14).
João declara seu amor por ela e pelo seus filhos (v.1). Ele também são amados por “todos os que têm conhecido a verdade”
Filhos (teknois) (v.1):
Pode ser sentido literal, como em 1 Tm 3.4.
Espiritual: (Gl 4.19, 25; 1 Tm 1.2; 1 Jo 2. 1,12).
“a quem” (v.1) No original “tois”, é plural, denotando a senhora e seus filhos. Abrangente, abraçando a mãe e os filhos de ambos os sexos.
A atitude do autor foi de um “amor que é exercido na esfera mais elevada, que corresponde ao conceito mais legítimo de amor”.
A verdade: João cita a verdade várias vezes nesta epístola: (1, 2, 3, 4)
A chave do ensino da epístola é a frase: “a verdade” pela qual João se refere ao conjunto de toda a verdade revelada: as Escrituras.
Verdade (aletheiam): “A verdade revelada por Cristo, e gradualmente desenvolvida pelo Espírito”. Aqui a verdade refere-se à realidade divina, e significa aquilo que é real em última análise, a saber, o próprio Deus. Dessa forma, pode se referir à expressão de Deus em Seu Filho encarnado e na mensagem cristã.
João afirma com ousadia que essa verdade está em nós e para sempre estará conosco.
Graça (charis): A mola no coração de Deus.
O Elogio (1.4). João elogia pela forma que ela educou seus filhos na verdade.
A alegria de João (v.4): Expressões de alegria agradecida são comuns nas saudações paulinas (Rm; 1 Co; Fp; Cl; 2 Ts; Fm).
“Fiquei contente” (echaren): “Uma alegria surpresa”, como em Marcos 14.11
Achar (Eureca). Uma descoberta contínua. Ter encontrado – ARA (v.4). O que João achou continuou sendo verdade.
Andando (peripatountas). Incluindo todas as atividades da vida (cf. 1 Jo 1.7). “BENDIZE, ó minha alma, ao SENHOR, e tudo o que há em mim, bendiga o seu santo nome” (Sl 103.1).
“Alguns de teus filhos andam na verdade” – Note, que ele diz “alguns de teus filhos”. E os outros? É possível, que nem todos seus filhos andassem na verdade: “Eu me alegro diante da vida cristã de alguns dos seus filhos, e me preocupo com os outros, o que me leva a exortá-los”. A Versão Transformadora traz: “Fiquei muito feliz por encontrar alguns de seus filhos e ver que estão vivendo de acordo com a verdade”. Na ARC, dá a entender que apenas alguns de seus filhos andavam na verdade, já a Versão Transformadora, apresenta a ideia de que João encontrou alguns de seus filhos e constatou que eles andavam na verdade. A NVI também apoia essa tradução. “Ao encontrar alguns dos seus filhos, muito me alegrei, pois eles estão andando na verdade”.
UM DESAFIO À SENHORA ELEITA (1.5-6)
Que Ela Continue A Amar A Deus (1.5)
Erotao: Orar como em I João 5,16. É um pedido pessoal, mais do que parakaleo, um pedido geral (palavra que nunca foi usada por João), João roga, não como se escrevesse um novo mandamento.
Que o amor seja mútuo. No contexto de 1 e 2 João, “amar uns aos outros” inclui ater-se à comunidade cristã (em vez de abandoná-la, como os secessionistas vinham fazendo).
Tivemos “Eichamen” (v.5). O apóstolo identifica-se com seus leitores.
Que Ela Continue A Obedecer A Deus (1.6)
Qual é a definição Joanina do amor? “E o amor é este: que andemos segundo os seus mandamentos. No versículo 5 o mandamento é o amor; no versículo 6, amar é obedecer aos Seus mandamentos. “Este não é um círculo vicioso lógico, mas uma conexão moral sadia... O amor divorciado do dever torna-se desenfreado, e o dever divorciado do amor acaba morrendo de inanição” – Plummer
Qual é a definição Joanina de mandamento? “Este é o mandamento: “Que andeis nele”
“Amor” não é algo frouxo, uma tolerância amistosa frente a tudo. Somente podemos “amar” verdadeiramente “por causa da verdade que permanece em nós”.
UMA ADVERTÊNCIA À SENHORA ELEITA (1.7-11).
Cuidado Com Os Falsos Ministros (1.7)
O Engano Dos Falsos Ministros (1.7) Ele negam a encarnação de Cristo. Se Cristo não foi verdadeiramente humano, então não existe nenhuma base para a ética cristã (cf. 1 Jo 2.6).
Entraram no mundo (v.7): Já nos dias de João “muitos enganadores entraram no mundo”. A Versão transformadora diz “muitos enganadores têm ido pelo mundo afora, negando que Jesus Cristo veio em corpo humano”. Ou saíram para. Pode indicar uma crise em particular, pela qual eles saíram da sociedade cristã. “Muitos enganadores saíram para o mundo”. Saíram da igreja, se desviaram dessa fé e abandonaram a verdade e a igreja. “Eles saíram do nosso meio; entretanto, não eram dos nossos” (1 Jo 2.19).
A heresia:
Esta heresia se manifestava como uma forma de negação da humanidade de Cristo.
Deparamo-nos provavelmente com o motivo peculiar desta carta. O movimento intelectual e religioso que classificamos sob o denominador comum do “gnosticismo” parece avançar largamente e não sem eficácia. Ele inclui um “gnosticismo cristão”, cujos representantes vêm das próprias igrejas apostólicas (1 Jo 2.9), pretendendo introduzir nas igrejas um cristianismo “superior”. Era nisso que residia sua atração e perigo. Para o “velho” eles são “sedutores”. Não são fenômenos isolados que poderiam ser ignorados; seu número é grande. O apóstolo fala de “muitos sedutores” que têm uma forte consciência missionária. Isso está subjacente à expressão: “saíram para o mundo”. Sua zelosa atividade de divulgação não se limita a uma região pequena.
Veio (v.7): A ênfase não é simplesmente sobre o fato passado da vinda de Cristo na carne, mas também na continuação de Sua humanidade e até mesmo sobre a futura manifestação do Senhor.
O espírito do anticristo está por detrás desta heresia.
Hoje muitas heresias atualmente, negam a divindade de Cristo. A essência do erro mais severo nas falsas religiões, heresias e cultos é a negação da verdadeira natureza de Jesus Cristo.
A linguagem original transmite a ideia de uma negação habitual da deidade e humanidade inalteráveis de Cristo. Uma Cristologia bíblica defende que a natureza de Jesus Cristo era totalmente divina e totalmente humana, com todas as implicações para o cumprimento dos propósitos redentores.
Enganadores (v.7) Planoi: Significa errantes, vagabundos. Enganador, uma pessoa que faz outros cometerem atos errados, e não apenas a terem opiniões erradas. A palavra planoi, é uma referência aos falsos profetas que conscientemente tentam desviar os demais. Aqui se trata dos docetistas gnósticos:
A ideia gnóstica de que a matéria era má e somente o espírito era bom levou à noção de que o corpo deveria ser tratado com severidade (Cl 2.21-23). Ou de que o pecado cometido no corpo não tinha relação com o espírito de uma pessoa e não exercia nenhum efeito sobre ele.
Em outras palavras, o falso ensino buscava introduzir um fosso entre o corpo e a alma.
É por isso que o gnosticismo muitas vezes sustentava que Jesus não podia ter sido Deus e homem ao mesmo tempo.
“Não confessam que Jesus Cristo como aquele que vem na carne”. Seu Cristo intelectual” não é o Redentor do pecador por intermédio da morte sangrenta na cruz.”
“Nenhuma interpretação do cristianismo é veraz se porventura elimina a redenção e obscurece a glória da cruz” – Smith
A Rejeição Dos Falsos Ministros (1.10-11) – Um manifesto contra o ecumenismo:
O Que Ela Dever Fazer (1.10): Ela não deve recebê-los, de modo algum. Tais pessoas entravam nos lares cristãos sob um disfarce amistoso (cf. Didaquê cap.11). Este versículo deve ser aplicado em relação aquelas seitas, que se oferecem a fazer seus estudos nas casas. Os mestres apóstatas não só invadiam a igreja como também tentavam influenciar os lares cristãos. Tito enfrentou esse problema em Creta (Tt 1.10,11) e Timóteo em Éfeso (2 Tm 3.6). A Condição dos lares determina a condição da igreja e do país. A família é um alvo importante na guerra de Satanás contra a verdade.
Porque Ela Deve Fazer Isso (1.11): Porque recebê-los implica concordar com seus caminhos perversos.
Literalmente: e não digais a ele “saudações!”
Saudar aqui, é traduzido como apoiar na Versão Transformadora (10,11). “Agora aquele que vem e te ensina todas essas coisas, antes ditas, recebe-o; mas, se o professor se desvia e ensina outro ensinamento, como se para aboli-las, não o ouve”. O dar saudações indica a entrada em comunhão com a pessoa saudada, e receber um falso mestre era expressar solidariedade com ele.
A proibição de João não é um caso de entreter as pessoas que discordam em assuntos menores. Esses falsos mestres estavam levando adiante uma campanha para destruir as verdades básicas e fundamentais do cristianismo. Dissociar-se por completo desses hereges é o único caminho para os cristãos genuínos. Nenhum benefício ou ajuda de qualquer tipo (nem sequer saudar) é admissível. Os cristãos deveriam socorrer apenas aqueles que proclamam a verdade.
A instrução de João pode ter a ver com visitas oficiais dos falsos mestres, e também ter a ver com a oferta de hospitalidade oficial da igreja, e não somente a hospitalidade privada aos membros da igreja.
“Tem parte” Koinonei (v.11): O verbo não ocorre em nenhuma outra perícope dos escritos de João. O substantivo relacionados Koinonia, sociedade, comunhão, é peculiar à primeira epístola. “Companheiros” em Lc 5.10; “comunhão” (At 2.42); “participante” (1 Pe 5.1).
Evidentemente os mestres do erro acima estavam sendo recebidos nas casas cristãs sob o pretexto da hospitalidade. O apóstolo proíbe severamente a continuação dessa prática e ordena aos crentes que não concedam tal comunhão e hospitalidade cristãs (v.10). Mesmo a saudação costumeira é proibida, pois isso mostraria identificação e participação com as más obras. É imprescindível o afastamento do erro (2 Co 6.14-17).
Por um lado, é importante travar um diálogo com pessoas que não reconhecem Jesus como o Cristo, devido a compromissos religiosos conflitantes, mas que sejam abertos à possibilidade de mudança. O “evangelismo por amizade” ao redor da mesa é um modo maravilhoso de ganhar pessoas para Cristo.
Por outro lado, é errado deixar-se levar por aqueles que declaram honrar Jesus, mas utilizam erroneamente as Escrituras a serviço de “outro evangelho”, que não seja realmente “as boas novas do Messias” (Gl 1.6,7). Mesmo a cortesia diante destes autodenominados mestres, enganadores e anticristos (v.7) pode ser mal interpretada como apoio. Oferecer hospitalidade a tais líderes ajuda a espalhar sua heresia e, inevitavelmente dá a impressão de aprovar os ensinamentos desses anticristos. A lealdade suprema somente a Deus e à sua Palavra deve caracterizar as ações do verdadeiro cristão.
Não devemos entender que as palavras de João nos levam a nos separar dos que tem opiniões das quais discordamos.
Por que João era tão inflexível quanto a essa questão?
Por que o apóstolo João pode e precisa rejeitá-los tão duramente e alertar tão gravemente contra eles? Porventura o “amor” ao qual João conclamava não valeria também para eles? Entretanto, na abertura da carta João combinou o “amor” de forma indissociável à “verdade”. Os “sedutores” não possuem apenas algumas opiniões peculiares que podem ser toleradas como tais. Sua proclamação ataca o cerne da mensagem apostólica, fere mortalmente “a verdade”.
João não queria que qualquer um dos filhos de Deus:
Desse a um falso mestre a impressão de que sua doutrina herética era aceitável.
Fosse contaminado pelo contato e possível amizade com um falso mestre.
Desse ao falso mestre munição para usar no próximo lugar onde parasse. (Por exemplo, um falso mestre acolhido em sua casa, certamente usaria isso em seu favor, para conseguir entrar nos lares de seus vizinhos).
Nos Manuscritos do Mar Morto, aquele que provia para um apóstata era visto como simpatizante dele. O simpatizante era, portanto, expulso da comunidade, assim como o apóstata havia sido. Alojar ou abençoar um falso mestre era visto como atitude equivalente a ser colaborador dele.
O Didaquê: Abordar a questão dos mestres itinerantes, proibia aos crentes de lhes darem “ouvidos”, se porventura anunciassem alguma doutrina estranha.
Inácio: Advertia contra a reunião com tais homens, ou mesmo contra a troca de ideias com eles.
Policarpo: Policarpo repreendeu o herege Márciom, chamando-lhe de “primogênito de Satanás”.
As diretrizes bíblicas para a hospitalidade:
Os cristãos não somente devem seguir os fundamentos da fé, mas a hospitalidade generosa que lhes é ordenada (Rm 12.13) deve ser distinta.
Era preciso acolher os visitantes e alojar os viajantes (cf. 3 Jo 5,6; é possível, embora não haja certeza a respeito, que as casas em questão também fossem igrejas domésticas). Os primeiros missionários cristãos haviam dependido desse tipo de hospitalidade desde o começo (Mt 10.9-14). Os sofistas, que eram filósofos itinerantes, cobravam pelo ensino que ofereciam, assim como alguns dos oponentes de Paulo em Corinto provavelmente o faziam. Mas do mesmo modo que os judeus não receberiam em casa um samaritano ou alguém que considerassem ímpio, os cristãos precisavam ser seletivos na hospitalidade. Os primeiros escritos cristãos (sobretudo um texto, presente em muitas tradições de autoridade, conhecido como Didaquê) mostram que alguns profetas e apóstolos eram itinerantes e que nem todos eles eram verdadeiros profetas e apóstolos.
A base da hospitalidade deve ser o amor comum ou interesse pela verdade.
Os cristãos devem compartilhar seu amor dentro dos limites dessa verdade.
Não lhes é dito para aceitar de maneira indiscriminada qualquer pessoa que se diga cristã.
O amor deve discernir.
A hospitalidade e a bondade devem ter como foco aqueles que estão seguindo os fundamentos da fé.
Do contrário, os cristãos podem de fato, ajudar aqueles que estão tentando destruir essas verdades básicas da fé.
A sã doutrina deve servir como a prova de comunhão e a base de separação entre aqueles que professam ser cristãos e aqueles que de fato o são (Rm 16.17; Gl 1.8,9; 2 Ts 3.6,14; Tt 3.10).
Cuidado Com O “Eu” (1.8,9)
O perigo de retroceder. Trata-se do perigo de perder o que já foi obtido. Os falsos mestres dizem oferecer algo que não temos, quando na realidade, tiram algo que já possuímos.
Não Perca Suas Recompensas (1.8). Exortação: “Olhai por vós mesmos, para que não percamos o que temos ganho, antes recebamos o inteiro galardão” (v.8). Nos faz lembrar de Apocalipse 3.11: “guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa”. E Hebreus 2.1. A NVI tem um sentido bem diferente para este versículo: “Tenham cuidado, para que vocês não destruam o fruto do nosso trabalho”. João não quer que se trabalho seja perdido. Preocupação semelhante já havia sido manifesta por Paulo: “Portanto, não podendo eu também esperar mais, mandei-o saber da vossa fé, temendo que o tentador vos tentasse, e o nosso trabalho viesse a ser inútil” (1 Ts 3.5). Essa é uma advertência poderosa. Toda a recompensa eterna que se obtém ao ver Cristo no Espírito de maneira pura, ávida e eficaz, pode ser diminuída por qualquer ajuda ou incentivo ao ensino falso.
“Por falha da sua parte, vocês vão jogar fora os resultados do nosso trabalho entre vocês; mas, por meio da perseverança, vão fazer a colheita completa”
“Preste atenção para que esses enganadores não desfaçam o trabalho que Apóstolos e Evangelistas têm realizado com esforço entre vocês, mas que recebam o fruto completo dele”.
“Não percam as coisas que já realizamos” – Tradução de Kenneth Wuest
Um dia, os servos de Deus terão de prestar contas de seus ministérios e desejam trabalhar “com alegria e não gemendo” (Hb 13.17). Quando a igreja retrocede e perde o que havia obtido, também perde parte da recompensa do tribunal de Cristo. É essencial apegar-se à verdade da Palavra de Deus.
Como é triste quando os servos de Deus trabalham fielmente para edificar uma igreja e sua obra é destruída por ensinamentos falsos! Não é de se admirar que Paulo tenha escrito às congregações da Galácia: “Receio de [por] vós tenha eu trabalhado em vão para convosco” (Gl 4.11).
Portanto não está em jogo uma multiplicidade de opiniões que poderiam representar riqueza teológica, mas a própria salvação, ameaçada no fim dos tempos por enganadores e anticristo – em plena correlação com as palavras do próprio Jesus em Mateus 24.24.
O novo movimento promete-lhes um grande “ganho” e lhe apresenta um cristianismo novo e superior, que aparentemente é sedutor e “compensador”. João adverte: não “ganhais”, porém “perdeis”. Sois privados da verdadeira “recompensa plena” da glória eterna,
Blebete heautous ina(v.8): a conjunção ina, a fim de que, indica a intenção do aviso. Ver, contemplar, vigiar.
Apolesomen (v.8): Este vocábulo no grego clássico, é utilizado nos seguintes casos:
Em relação à morte em uma batalha ou em outro lugar.
Em relação à destruição, como se diz de uma cidade ou de uma herança.
Em relação à perda da vida, de bens ou de outros objetos. Como um verbo ativo matar ou demolir.
Em relação à desmoralização, ao ser moralmente abandonado ou arruinado, como se diz de filhos que sofrem más influencias.
No texto do Novo Testamento:
Referindo-se ao assassinato (Mt 2.13; 12.14).
Às destruição e ao aniquilamento, não somente da vida humana, mas também de recursos materiais e intelectuais. (1 Co 1.19; Jo 6.27; Mc 2.22; 1 Pe 1.7; Tg 1.11; Hb 1.11).
Em relação à perda (Mt 10.6,42; Lc 15.4, 6, 8).
Ao abandono moral (Lc 15.24, 32).
Ao fim dos impenitentes (Mt 10.28; Lc 13.3; Jo 3.15; Jo 10.228; 2 Pe 3.9; Rm 2.12).
Misthon plere: “plena recompensa”, é o salário que cada trabalhador receberá pelo dia inteiro de trabalho. “Uma totalidade que foi tornada completa – completo, cheio, inteiro”.
Mithós: salário, paga, recompensa. A metáfora parece ser extraída do pagamento pelo trabalho, visto que a palavra se refere ao salário de um trabalhador.
Pleres: Pleno, cheio, completo.
Mesmo o maior fanático por ética não recusará que lhe “agradeçam” depois de um esforço árduo e perigoso, oferecendo-lhe reconhecimento e um livre donativo. No Novo Testamento a “recompensa” nunca é algo que possa ser exigido como um direito. Mas para o Deus vivo e amoroso é uma alegria “recompensar” seus servos com soberana generosidade quando se empenharam fielmente em perigos e agruras.
Não Abandone Seu Redentor (1.9). Perseverem na doutrina.
Não o ensino concernente a Cristo, mas o ensino de Cristo mesmo e de seus apóstolos.
Esse tipo de falha indica a ausência de relacionamento com Deus e falência espiritual. Fracassar em ser fiel às sãs e fundamentais doutrinas da fé (uma visão apropriada da pessoa e da obra de Cristo, o amor e a obediência) indica que a pessoa nunca nasceu de novo (1 Jo 2.23; 3.6-10; 4.20,21; 5.1-3). A palavra permanecer carrega a ideia de uma fidelidade constante e adverte que esses fundamentos não estão abertos a mudanças ou sujeitos às últimas modas filosóficas.
Proagon (v.9) “Está avançado”; literalmente “continuar em frente” – “E aqueles que iam adiante” (Mc 11.9). Ir além dos limites estabelecidos no ensino ou na instrução, com a implicação de que não se obedece de forma adequada – ir além do limite, deixar de obedecer. Paulo ensina “para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito” (1 Co 4.6). O verbo Proagon é encontrado somente aqui no Novo Testamento. Ele era preferido pelos antigos gnósticos, que afirmavam ter um conhecimento “mais avançado”, que ia além do conhecimento dos cristãos normais. Aqui João usa a palavra desdenhosamente com respeito àqueles que afirmam ter “ido além de Cristo” na sua aproximação com Deus. Impossível! Nós podemos avançar em Cristo, crescendo nEle. Mas não existe uma maneira de avançar além dEle. A “teologia progressista” que nega Cristo não tem nada de progressista; antes, é uma teologia retrógrada, que remete a Gênesis 3.1: “É assim que Deus disse?”
Proagon: Ir antes, preceder, ir além. Talvez seja uma referência sarcástica ao caminho no qual os falsos profetas se orgulhavam de oferecer ensino “avançado”. O ancião alega que eles “avançaram” além das fronteiras da verdadeira fé cristã. – Marshall
“Todo aquele que não permanece no ensino de Cristo, mas vai além dele, não tem Deus” – NVI. O risco da sedução pelas ideias modernas do gnosticismo é tão grande porque nelas se oferece um cristianismo avançado, superior. Parece que os novos mestres avançam muito além, deixando atrás de si o cristianismo apostólico que, em contrapartida, se apresenta como “antiquado”, “fora de moda” e “primitivo”. Será que de fato continuará sempre a mesma mensagem de pecado e graça, do sacrifício vicário, do amor sofredor na cruz? Não existem auges intelectuais muito diferentes, sistemas grandiosos, “revelações” maravilhosas? A igreja não se deve deixar iludir por tudo isso.
João não condena o progresso teológico [...] A teologia está para a revelação de Deus na Graça como a Ciência está para a revelação dele na Natureza. Como a ciência continua descobrindo novas coisas no universo criado, a teologia continua descobrindo mais “dos tesouros que estão escondidos em Cristo [...] Uma teologia que é unicamente velha está morta; uma teologia que é unicamente nova é falsa [...] Devemos manter ‘o ensino de Cristo’”
Independentemente do que as igrejas possam “ganhar” com os novos ensinamentos, elas perdem a Deus, o Deus real e seu verdadeiro amor redentor, que somente pode ser encontrado em Jesus Cristo, o Crucificado. Que “ganho” intelectual seria capaz de compensar essa “perda”. “Permanecer” na doutrina apostólica pode parecer retrógrado, mero apego ao antigo, um temeroso agarrar-se à tradição – não obstante prevalece que: “Quem permanece na doutrina tem tanto o Pai como o Filho”. Obviamente a “doutrina” pode tornar-se mera casca seca. Porém tornar-se-á assim somente se não a ouvirmos mais atentamente, com todo o seu conteúdo tremendo!
Lutero confessou que ele mesmo continuou sendo um discípulo do Catecismo durante toda sua vida. Também nós podemos experimentar que, em dias difíceis e árduas tribulações, o “Catecismo”, ou seja, a singela síntese do ensino bíblico, que nós Assembleianos, chamamos de “Nossa Declaração de Fé”, é cheio de poder e vida. Evidentemente essa síntese deve “impelir-nos” em seguida ao estudo exaustivo da Sagrada Escritura. Conhecimento consistente da Bíblia e compreensão clara do “ensino” dos apóstolos são carências de nossas igrejas. É assustador como muitas pessoas são desconhecedoras da Bíblia até mesmo em nossos grupos crentes.
Vem (v.10): Vem é usado em um sentido oficial, como em referência a um mestre (1 Jo 3.5).
Lambanete (v.10): Receber, mostrar hospitalidade a. Era comum no mundo antigo receber professores viajantes em casa, e lhes oferecer hospedagem.
O CONFORTO À SENHORA ELEITA (1.12-13)
O Que João Planeja Fazer (1.12a). Ele deseja visitá-la pessoalmente.
Ele tinha a intenção de escrever muitas coisas, mas foi guiado pelo Espírito Santo, a escrever de modo resumido (v.12). Compare com Hebreus 13.22 “abreviadamente escrevi”. A carta é breve, porque o apóstolo ia logo visitar essa irmã em Cristo (v.12)
Estoma pros estoma “boca a boca”, compare com prosopon pros prosopon “face a face” (1 Co 13.12). A posição de pessoas que estão umas distantes das outras, entregues a uma discussão – “face a face, pessoalmente, de viva voz”
O autor às vezes concluía a carta com a promessa de conversar face a face sobre as questões abordadas.
Papel: Somente aqui no texto do Novo Testamento. O papiro egípcio ou biblos, Cyperus papyrus, muito comum antigamente, mas não encontrado dentro dos limites do país. É uma espadana, ou junco, comprido e liso com um caule triangular largo, contendo a seiva que fornecia o papel. O papel era fabricado cortando a seiva em tiras, arranjando-as horizontalmente e, depois, pondo sobre elas outras camadas de tiras na posição vertical, unindo as duas camadas com uma pasta e pondo todas as duas camadas sob pesada pressão. A porção superior e a mediana do junco eram usadas para esse propósito. O fato de a planta não ser mais encontrada é relevante em conexão com a profecia de Isaías de que “as canas e os juncos se murcharão” (Is 19.6). A planta crescia na água rasa ou no pântano e está adequadamente representada nos monumentos, ao lado de um rio ou em terras irrigadas. Os judeus escreviam sobre vários materiais, como folhas de oliveira ou de palma, na casca de romã e em peles de animais. As tábuas (Lc 1.63) eram de uso muito comum. Elas consistiam de pequenos pedaços de madeira, unidos e aplainados, ou cobertos com papiro ou cera.
Tinta (melanos): Literalmente “aquilo que é preto”. Só há uma ocorrência da palavra fora das epístolas de João (2 Co 3.3) e há apenas três ocorrências ao todo (2 Jo 12; 3 Jo 13). A tinta era preparada com ferrugem ou substância vegetal ou mineral. Goma e ácido sulfúrico também eram usados. Empregavam-se também tintas coloridas, vermelha e dourada.
As cartas eram consideradas substituto inferior da presença física do autor ou de um discurso.
Observemos que o “ancião” sabia quando deveria encerrar uma carta! ... Outrossim, o ancião sabia quando não se deve escrever cartas. Muitas questões, especialmente aquelas que envolvem alguma controvérsia, são melhor abordadas “face a face”.
Podemos ter uma impressão errônea de uma pessoa, por aquilo que ela escreve, ou podemos não saber apreciar plenamente seus escritos, enquanto não a conhecemos pessoalmente. Conta-se a história de certo dr. Dale, de Birmingham, que não ficara impressionado com o que escreveu o grande evangelista D. Moody. Porém, quando foi ouvi-lo pessoalmente, mudou de parecer. Daí por diante tinha-o no mais elevado respeito. Disse esse homem acerca de Moody: “Ele nunca conseguiu falar com uma alma perdida sem lhe virem lágrimas nos olhos”,
Porque João Planeja Fazer (1.12b-13): “Para que nosso gozo seja completo”. De que maneira?
Mediante sua visita e presença, o que lhes infundiria satisfação.
Mediante os benefícios espirituais dessa visita, porque ele lhes daria instruções sobre o exercício dos dons espirituais que havia entre eles, a fim de ajudá-los em seu bem estar espiritual.
Paulo também queria que houvesse alegria mútua entre ele e os crentes.
Ele envia-lhe saudação dos filhos “de tua irmã, a eleita” (v.13)
CONCLUSÃO:
Notemos neste trecho:
A possibilidade de perder a bênção espiritual.
O perigo de não preservar.
A proibição da fraternidade com os que negam a Cristo.
As alegrias da fraternidade espiritual.
A segunda epístola de João está em oposição direta ao frequente clamor pelo ecumenismo e união entre os cristãos. No cristianismo o amor e a verdade são inseparáveis. A principal lição desse livro é que a verdade determina os limites do amor, e consequentemente, da união.
BIBLIOGRAFIA
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Wilson De Jesus Alves